terça-feira, 28 de junho de 2011

A PONTA DIREITA E O BOTAFOGO, UM CASO DE AMOR

Começou quando? Na época de Heleno de Freitas, quando se jogava com cinco homens na frente? Com certeza já havia esta paixão quando Garrincha dominava aquela zona, na época de quatro atacantes. Com Jairzinho esse amor era fortíssimo, o futebol desse tempo já era formado por três avantes. Ele se renovou com Maurício, e o Botafogo jogava com dois atacantes.
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E hoje em dia, nestes tempos de atacante único, o ponta está morto? Pelo contrário, parece se renovar. A Maicosuel coube vestir o manto da sete mágica do Botafogo. Mas depois da grave lesão do ano passado, e do gol sublime do seu retorno, a magia do 7 ainda não voltou como devia. Falta o quê? Ritmo de jogo? Com certeza. Confiança? Provavelmente. Qualidade técnica? Nunca. Em poucos lances ainda era possível vislumbrar que aí ainda havia a magia que encantou o botafoguense.
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Não foram duas ou três vezes que o Mago pegava a bola, partia pra cima dos adversários, driblava um, driblava dois, driblava três. O problema era o pós-drible. O passe saía mal, o chute fraco. Mas o drible ainda estava lá. Foi de ponta direita que maicousuel fez seu primeiro gol neste campeonato brasileiro. É lá que ele terá que crescer.
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E no Botafogo o drible vale mais que tudo. O driblador pode não ter espaço no esquema tático de técnico X ou ser apagado pelo técnico Y, mas sempre reinará no coração do botafoguense. Se Loco Abreu virou ídolo com uma cavadinha, Maicosuel tomou seu lugar cativo quando aplicou um drible desconcertante – uns dirão “humilhante – em Juan – na época lateral esquerdo do Flamengo – ali, jogado na ponta direita. Drible que ele tentou aplicar novamente contra o lateral Grêmio.
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O que falta ainda para o Maicosuel deslanche além da parte física? Eu acho que ele ainda está muito longe da área adversária. No 4-2-3-1 é necessários que os meias-atacantes sejam mais atacantes do que meias.
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Do contrário, o atacante único deixa de ser único e passa a ser solitário. É notório e reafirmado sempre que o atacante tem que voltar para tabelar com os meias. E neste tempo de escola catalã, todo mundo quer seu Messi, seu falso nove. Mas o perigo deste nove que sai tanto da área é o Arsenal. O futebol mais próximo em estilo e qualidade do Barcelona. Mas é um time que cria muito e faz pouco gols. Quantas vezes os times cruzam as bolas na área e não tem atacante para empurrar para dentro, ou no caso do Botafogo até tem, mas é inoperante: Herrera teve duas chances claríssimas em dois cruzamentos perfeitos de Éverton, no primeiro, e mais dantesco, ele estava sozinho e simplesmente chutou o vazio, o que diminuiu a vergonha foi o bandeira ter apontado impedimento de Éverton antes de cruzar (e se o bandeira erra ou o 10 não estivesse 5cm à frente?), no segundo ele roda ao lado dum zagueiro e nem encosta na bola, mesmo estando em posição privilegiada para o gol.
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Mas donde saiu o primeiro gol do Botafogo? Dum lance típico de ponta direita, Elkeson, driblou, driblou e chutou uma pancada de esquerda, a bola ia para fora quando Marcelo Matos joga-se de frente à bola e em seu último jogo pelo Botafogo faz o seu primeiro gol pelo clube – depois de tantas pancadas em direção aos gols dos adversários –.
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Quando cansou, Maicosuel foi substituído por Caio. Éverton por Cidinho. Juventude, velocidade, dribles, dribles e dribles. E algo que me preocupou: Caio jogou mais perto da área que Maicosuel, e mais do que isso, Caio não caiu. Foi pra área, foi pra cima, e passou no meio de dois defensores – e quando cairia não caiu –, avançou, driblou o terceiro marcador e – aí que aparece um diferencial que andou muito perdido neste garoto, driblar muita gente dribla, muitos meninos por esse Brasil grande faz, mas é neste detalhe que se mostra o talento que todos sabem que o Caio tem, mas que anda há muito sem aparecer – LEVANTA A CABEÇA, vê a área completa em um relance e dá um passe perfeito, no ponto futuro, forte o suficiente para não ser cortado, mas não um tijolo, e lá, onde não havia ninguém, surge Elkeson, transformado então em segundo atacante, arrematando com força e precisão, fazendo aquilo que Herrera errou o jogo inteiro: o gol.
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Caio tem que criar um problema para Caio Jr. Quando Loco Abreu voltar e resolver o problema da grande área Herrera irá pra onde? Provavelmente para o lugar do Éverton. Mas se Caio voltar a jogar deste jeito, driblando, levantando a cabeça, dando o passe, sem tentar fazer gols e ser herói, mas fazer o gol como opção de vitória. É por isso que Messi hoje está acima de todos. Afasta-se das faltas por milímetros. Prefere o drible à falta, prefere o gol ao pênalti.
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Mas, acima de tudo, o que importa salientar: a ponta direita será sempre o caminho correto do Botafogo, e o drible a instância superior em Marechal Hermes e em General Severiano.
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@ThiagoFSR83

sexta-feira, 24 de junho de 2011

A GLÓRIA É ETERNA

Em asas céleres viaja pelo mundo um monstro horrível, de mil olhos e cem bocas. Seu nome é Fama. Espalhando feitos e mentiras, ele é o arauto da Glória. 
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Quantos homens têm seus nomes nas bocas desta besta? Muitos, mas poucos, nem todos a merece para o bem.
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Neste rol estão gerações e gerações de santistas. Agora agraciado novamente como o grande Libertador da América.
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Quatro Finais. Dois Adversários. Três Vitórias.
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Este Santos não é tão bom quanto o de Pelé. Gerações e gerações lembram, se não da escalação titular, pelo menos dos grandes craques do time de Pelé: Gilmar, Mauro, Zito, Mengálvio, Coutinho, Pepe. E Pelé. Esta geração o que tem? Será para sempre a geração de Neymar e Ganso.
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Lembrarão que o primeiro gol foi Neymar. Em grande jogada com participação genial de Ganso: Quando Arouca avança entre dois adversário e solta para Ganso - e na sua inércia continua o movimento em direção à esquerda - todos os adversários movem-se para direita, Ganso quebra o fluxo de letra, devolvendo para Arouca. Zé Eduardo, o Love, fez sua melhor ação em toda a partida, corre contra a bola, puxando a defesa central -- é uma verdade axiomática, Zé Love foi um gênio, o mais longe possível da esfera --, o marcador de Neymar tem que dar o combate direto a Arouca que deixa o geniozinho Neymar livre fazer o de sempre: fingir que baterá forte no canto oposto, e chutar fraco na trave próxima - e o goleiro aceita, caindo quase de barriga na bola..
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Lembrarão do lançamento de Ganso, deixando Neymar livre pra cruzar e Zé Love não se fazer presente. Do passe que Ganso deixou na cabeça de Zé Love, sozinho sem goleiro, de frente ao gol, fazer o movimento com a cabeça de pôr a bola pra fora.
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Lembrarão do lançamento preciso de Elano para o gol de Danilo.
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Lembraremos e compararemos as gerações: de 5: Zito e Arouca. De 8: Mengálvio e Elano. De 11: Pepe e Neymar. De 10: Pelé e Ganso. De 9: Coutinho e... bem, esqueçamos.
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Ninguém no Mundo Sulamérica merecia mais ser tri duma Libertadores que o Santos. Talvez ninguém menos merecesse que Muricy Ramalho. Sua decisão de treinar apenas elencos formidáveis sempre se mostra acertada, seu trabalho duro é louvável, suas inúmeras conquistas empobrecedoras do nosso futebol. Ninguém prejudicou mais o futebol brasileiro nos últimos anos do que o tri brasileiro do São Paulo com o trabalhador Muricy, que entre outras coisas diminuía a Libertadores por ser mata-mata, e para ele o único mérito disso é a sorte.
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E daí se as declarações de Muricy e Neymar -- "autovangloriando-se" -- é reprovável. E daí que um torcedor do Santos invadiu o campo e começou uma briga com os jogadores uruguaios e a imprensa imediatamente culpou as vítimas - e nem se preocuparam de desculparem-se e de cobrar a punição ao vândalo? -.
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O que importa é que o Santos finalmente é tri. E Neymar e Ganso vieram libertar-nos de um futebol medíocre e feio, mesmo o seu líder sendo o mais burocrático dos técnicos bancários.
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Infelizmente foram os melhores numa das piores Libertadores dos últimos anos. Ainda bem que o melhor venceu - com e sem a ajuda da sorte - e a Fama espalhará a verdade: não importa quem foi ruim, o Campeão prevalece, pois só a Glória é Eterna.

OLHARES E OFENSAS, (MAIS) UM CASO DE RACISMO NO FUTEBOL

Este texto é uma resposta ao ótimo texto publicado no blog Três Toques, especializado em futebol, que analisa a ofensa que o jogador brasileiro Roberto Carlos sofreu na Rússia, quando lhe foi atirado duas bananas em jogos diferentes pelo clube - na verdade a primeira lhe foi oferecida quando entrava no vestiário e, nesta semana, lhe foi atirada outra durante o jogo -. Observamos a situação por ângulos diferentes - provando que os fatos não são assim tão "não-argumentáveis", há sempre formas de INTERPRETAÇÕES diferentes dos mesmos -, mas concordando com o mesmo ponto principal, a raiz do problema é sócio-econômico. Quem quiser entender melhor, sugiro visitar o sítio do Três Toques, que além do mais, traz o vídeo sobre o acontecido. 
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devo discordar de alguns pontos (do texto publicado no blog Três Toques).
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Como mestiço - filho de uma negra com um branco -, como nordestino, como brasileiro, como ex-militante de movimentos negros - dos quais saí por discordância ideológica -, como escritor e pesquisador em literatura - estudioso do sertanismo brasileiro -, entendo muito bem o que houve.
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Em nenhum ponto suas argumentações se tornam equivocadas, pelo contrário, acredito nelas. O foco no entanto diverge, ao afirmar: "A banana é uma fruta, não é apenas uma fruta, ao redor dela uma série de significados foram construídos" o autor comete um acerto primoroso em relação ao tema, mas não aborda estes diversos significados, como a Análise do Discurso sugeriria.
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Esquece-se o autor do significado de "comedor de bananas", isto é, "macaco" - embora a maioria dos macacos não comam bananas, mas frutos em geral dependendo de sua região de origem.
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A xenofobia europeia é amplamente conhecida, antes e pós-Hitler. O que dizer da guerra dos Balcãs nos fins dos anos 90?: "Limpeza étnica"! O problema não é contra os negros em si, mas os não-caucasianos.
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Neste sentido, sua análise mostra-se primorosa, o problema é sócio-econômico, contudo, TODOS os problemas da humanidade são de raiz sócio-econômicas, umas de observação mais direta (fome, por exemplo), outras de observação mais profunda (como o caso de racismo, ou das guerras dos americanos no Oriente Médio).
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Outro ponto, no entanto, não abordado é a quebra da frase: "'O Roberto Carlos nem é negro… então como isso pode ser racismo?'".
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Os Estados Unidos, país reconhecidamente racista, que vem de lutas seguidas desde a década de 60 para igualitar os direitos civis, e que até hoje possui sua Ku Klux Klan, há a noção de "one drop blood" (uma gota de sangue). O que importa não é a cor da pele, e sim se o sangue é "puro". Qualquer miscigenação é vista como "não-branco", não importando o quão clara é a pele do indivíduo. (Noção que o movimento negro brasileiro adota e da qual sou extremamente contra, afinal seria negar o meu pai e toda a minha família de olhos azuis.)
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Assim, meu filho, cuja mãe é branca, filha dum louro de olhos verdes - o que no nordeste chamamos de "galego", em relação aos povos ruivos da Galícia, ao norte de Portugal - seria negro, mesmo sendo branquinho branquinho - de lindos olhos castanhos como a mãe -.
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Aplica-se essa noção de sangue "não-puro" a todo brasileiro; dificilmente um de nós seria visto como caucasiano em muitos lugares do hemisfério norte. Muito mais alguém de pele escura - a nossa tão bela tez castanha - como Roberto Carlos, mesmo que para nós ele não seja "negro", como afirmaríamos tão facilmente sobre Eto'o, Maicosuel, ou Lázaro Ramos, compare-o diretamente a qualquer russo, e perceberemos o quão ele é DIFERENTE.
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É racismo sim, descriminar alguém cuja origem étnica é DIFERENTE. Sexismo quando o sexo é DIFERENTE. Homofobia quando o gênero - ou "opção" afetiva-sexual - é DIFERENTE. Xenofobia quando a origem geográfica é DIFERENTE - por exemplo as migrações de regiões mais pobres da Europa para centros mais ricos, ou de nordestinos para o Sul -.
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Roberto Carlos é o diferente e ocupa uma situação de sucesso, ganhando muito mais dinheiro que um russo normal, assim o ÓDIO gerado pelo momento sócio-econômico - a raiz de tudo - toma forma pela AVERSÃO ao que se mostra DIFERENTE. Se, Roberto Carlos fosse mulher, seria o seu sexo que seria atacado, se ele fosse gay, seria sua afetividade. Mas não, ele é brasileiro, e se, "vem da selva amazônica sulamericana", deve ser um "macaco".
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Abraços, e ótimo texto.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Além das Quatro Linhas!: Que venha o Barça!

Além das Quatro Linhas!: Que venha o Barça!: "Calma, leitor. O título deste post é apenas uma provocação. Muita água ainda vai rolar antes de uma hipotética final mundial envolvendo Sant..."

quarta-feira, 22 de junho de 2011

ANTROPOMAQUIA

Fogo e Fúria
.............................legião de homens
Fome e Forca
.............................um dilúvio
Fraca a Força
.............................a ordem divina
Fim e Fé
.............................o consumir das eras
Feito Fato
.............................o renovar da vida

domingo, 12 de junho de 2011

sábado, 11 de junho de 2011

O INIMIGO DO HOMEM

Dirigindo pelas ruas que andei quando criança
constatei
que o inimigo do homem não é a Morte
que a tudo termina
o inimigo do homem é o Tempo
que a tudo devora.

A decadência flui
como um fantasma da noite
como a sombra das eras
.........a tudo cobrindo
.........a tudo tomando

A ruína: este ente físico do Tempo
esta não dura para sempre
.........a Morte sempre a termina

.........A Morte sempre
não como anúncio,
mas como uma constatação do fim
que o próprio Tempo encerra.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

O PROBLEMA DO 4-6-0

Em primeiro lugar devemos esclarecer certas coisas: O Barcelona nunca jogou no 4-6-0, não como default, e não lembro nem de uma escalação inicial não-usual, sem atacantes, do time. O Barça joga no 4-3-3, sempre jogou, a não ser por certas épocas circunstanciais, como no Dream Team de Guardiola como volante e Cruyff como técnico, que jogava numa espécie 3-4-3 fluido. Ou durante a presença de Ibrahimovitch vestindo a 9, quando o time flertou certo tempo com o 4-2-3-1 (ou 4-5-1 com W no meio).
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O Barcelona é o maior reduto do 4-3-3 no mundo, até mesmo a Holanda está deixando o seu “único” sistema em favor do 4-2-3-1 (ou 4-5-1 com W no meio), assim como a Inglaterra abandona o seu 4-4-2 em duas linhas (Four-Four-Two, doravante FFT), em favor deste formato de 4-5-1, e Mourinho, o novo grande defensor deste sistema, o 4-3-3, também já migrou para o 4-2-3-1 (doravante 4-W-1), desde sua passagem vitoriosa pela Internationale de Milão, e hoje no Real Madrid.
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Se Messi joga de “falso” 9, isso AINDA faz dele um atacante, a diferença é que não joga como um centro-avante típico como Loco Abreu ou Fred, esperando o passe no comando, mas volta para receber a bola no meio e armar, para que ele dê o passe certo final. Cruyff fez essa mesma função na década de 70 no Barcelona – e no Ajax e na seleção Holandesa –, e Laudrup no Dream Team, até mesmo vestindo, salvo engano, a 9. Além de Messi no meio do ataque, os culé ainda têm os dois pontas – não meias-extremos, se bem que a diferença é muito, mas muito, tênue – David Villa e Pedrito.
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Quando falarmos em 4-6-0 há apenas um grande exemplo prático: Roma de Luciano Spalletti no comando e Totti no campo (2006-7): um Escudeto e uma Copa D’Italia para os Giarorossi. Há flertes pontuais com este sistema, como o testado por Sir Alex Fergusson, quando deslocou Rooney para a extremidade e botou Cristiano Ronaldo no comando – nunca pegou –; ou é o esquema tático de Mourinho quando enfrenta o Barça de Guardiola, novamente deslocando Ronaldo para o comando. A “questão” é: onde realmente pegou, mesmo a Roma ganhando um dos torneios mais difíceis e importantes do mundo – Calcio Serie A –? E o mais essencial: por que até mesmo a Roma abandonou este sistema?
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Primeiro, devemos desdobrar este sistema em quatro faixas para compreendê-lo melhor. Mourinho, por exemplo, testou o 4-2-4-0 para tentar encaixar Kaká no seu time, juntamente com Özil (a linha de 4 seria formada, da direita para a esquerda, por Di Maria, Özil, Kaká e Crisitiano Ronaldo), não deu certo. Quando se fala em 4-6-0 este é o sistema pensado, mas não era o sistema da Roma, ela jogava de 4-3-3-0, 3 volantes e 3 meias – a escalação era: Doni; Panucci, Juan, Mexes, Tonetto; De Rossi, Pizarro, Perrota; Mancini, Vucinic, Totti –, assim como o Real Madrid de Mourinho contra o Barcelona, trocando Benzema por Pepe de volante, e deixando Cristiano Ronaldo (doravante, CR7) no último vértice – a escalação contra o Barcelona era: Casillas; Arbeloa, Ramos, Carvalho, Marcelo; Alonso, Khedira, Pepe; Özil, Di Maria, CR7 –.
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Qual era a grande vantagem daquela grande Roma: o contra-ataque. Jogando com meias-extremos extremamente rápidos, e puxando a defesa para o seu campo, numa linha muito adiantada, a Roma aplicava contra-golpes fulminantes, e Totti fazia muitos, mas muitos gols. Apesar desta virtude, o 4-6-0 tinha um grande defeito: dependia do contra-ataque. O time cedia o protagonismo, e com o tempo, os adversários começaram a se prevenir do contra-piede Giarorosso. Até na Roma o sistema faliu.
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COMO EU REAGIRIA A UM 4-6-0?
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Partindo do pressuposto que meu time jogaria num provável 4-3-3 (desdobrado em 4-2-1-3, não com os meias em linha, como na década de 70, nem com atacantes rígidos, mas os três com muitas responsabilidades defensivas) ou num 4-W-1, eu poderia até levar um susto num primeiro momento, mas o que eu faria?
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Primeiro: adiantar a linha de trás. Para quê 4 marcando 0? E teria que fazer isso rápido, para impedir que meus zagueiros saíssem, de forma desordenada à caça dos meias adversários, afinal, nature may abhor a vacuum, but center backs abhor them even more (natureza pode abominar o vácuo, mas zagueiros o abomina ainda mais), como afima Jonathan WilsonA minha primeira escolha seria adiantar 3 (dois laterais e um zagueiro) deixando um de sobra. Provavelmente essa escolha se mostraria falha, pois o 1 nesta espécie de 1-5-1-3 daria legalidade para os contra-ataques do adversário. E então?
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Provavelmente eu jogaria toda a linha de trás para o meio campo, neste caso, contra o 4-6-0 eu iria de 0-7-3. O meio campo ficaria muito, mas muito confuso. Primeiro teria que observar o desdobramento do meio campo adversário – infelizmente para quem, como eu, não gosta de desdobramento em 4 faixas, se você não faz isso, acaba cometendo falhas trágicas de leitura de jogo, não no aspecto tático em si, 4-5-1 e 4-4-2 ainda são 5 no meio e 4 no meio respectivamente, mas no aspecto estratégico, como os 5 ou como os 4 se comportam. Como explicou Jonathan Wilson, aqui, o desdobramento em 4 faixas é uma NECESSIDADE da nova lei de impedimento, que impossibilita times compactos demais, como a Holanda de Rinus Michels, e o Milan de Arrigo Sacchi –:
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Se o adversário jogasse como a Roma – única experiência que deu frutos –, num 4-3-3-0, eu deslocaria meu time num 0-4-3-3 – a linha de 4 formada por toda a linha de trás, à frente o meio em triângulo, em cima do triângulo de volantes adversário, e os 3 atacantes jogando a linha adversária para trás –. Esta foi a opção de Guardiola contra o 4-3-3-0 de Mourinho, quando jogou a Champions League contra a Inter de Milão em 2010, nesta partida, a última linha do Barça ficava praticamente em cima da divisão do campo, Messi jogou de meia e Piqué – o mais alto do time – de centro-avante. Da mesma forma joga Guardiola contra o Real Madrid deste treinador português, com os zagueiros jogando praticamente dentro do círculo central e Valdés jogando de líbero, na intermediária, afastando as bolas longas.
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Contra o possível – e este sim utópico – 4-2-4-0, testado por Mourinho para ter suas estrelas galácticas (CR7 e Kaká) e os seus meias mais eficientes (Di Maria e Özil) em campo ao mesmo tempo – eu testaria sim, com toda certeza, os 4 em campo, mas jogando com uma linha de 3 na defesa, e 1 no ataque, um 3-2-4-1, ou, nestes tempos que se joga com apenas 1 atacante, um 2-3-4-1, ou, um 2-2-4-2, basicamente o sistema tático que eu havia comentado no texto anterior, o 2-2-1-1, dois na zaga, dois na volância, um na meia, um no ataque, e quatro lateralizados, dois mais defensivos e dois mais ofensivos jogando de acordo com a circunstâncias do jogo, inicialmente no formato de 2-4-3-1 –, o jeito seria recuar mais o volante mais defensivo – no caso, mantê-lo na sua posição original – num formato de 0-5-2-3.
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Mas, o que seria mais horrendo seria imaginar se este 4-6-0 se tornar fenômeno mundial como é o caso do 4-W-1, ganhando Champions League, Copa do Mundo, todos os torneios de grande visibilidade – salvo engano, na temporada 2010-11 pelo menos a Premier League e a Bundesleague foram vencidas pelo 4-2-3-1 –. Imagine-se um confronto de dois times neste esquema, dois times cedendo espaço para o contra-ataque, sem protagonismo.
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O pior seria, ainda, o processo natural, com nenhum time não necessitando da linha de 4 atrás, jogam-se todos os atletas para o meio, num mais utópico ainda 0-10-0!!!!!!! Até que surgisse um “gênio” e pensasse: “Ora, se eu recuo o atacante para a meia no intuito de confundir a zaga, por que não adiantar um meia para confundir a marcação dos volantes”? Parabéns, este “gênio” teria acabado de “inventar” o atacante!
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Mas aí é de se pensar: se não havia linha de 4 atrás, este atacante sempre estará em impedimento? Não. A defesa sempre é reativa ao ataque, se um time avança, o outro recua – qualquer passe para trás ou na mesma linha não existe impedimento –, se neste avanço eu deixo lá um atacante, dois, três atacantes, o adversário será obrigado a deixar também defensores para marcá-los – na lógica moderna, pós-58, a quantidade de atacantes + 1 de sobra –. Principalmente com a lei mais brilhante – de “gênio”, afirmou Jonathan Wilson aqui  – de impedimento já criada, e por conseguinte do futebol – o futebol em si, é um resultado desta lei 11, a do impedimento –: o impedimento passivo. Eu posso ter um atacante lá na frente esperando, a bola pode ser passada para frente e este permanecer inativo, um outro jogador partindo de trás pode pegar esta bola e assim dando condições ao atacante, que estaria completamente livre para marcar.
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Por isso hoje joga-se em 4 linhas, para impedir justamente que este jogador se posicione de forma a abrir a defesa, por isso o FFT do Milan de Sachi, mesmo sendo um dos maiores times de todos os tempos, hoje teria problemas com os passes diagonais dos meias, pois teria que enfrentar um time com um enganche entre as duas linhas de 4, e atacantes espetados com a bola e sem ela de marcação firme à saída dos laterais – por isso é tão comum hoje, defensivamente, o 4-5-1 com volante flutuante entre as linhas de 4, ou 4-1-4-1 –. Tanto que, mesmo com toda a pressão ofensiva bleugrana, o Barcelona mantém zagueiros fixos, atrás da linha central, com um volante e os laterais sobre ela, para impedir justamente que um atacante se posicione de forma a se beneficiar da interpretação do impedimento passivo.
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CONCLUSÃO
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Não existe no futebol, lugar dominante para o “0”. A Roma provou ser possível ser campeão assim, mas a Roma tinha Totti, meia de técnica apuradíssima, alto, de ótima finalização, e dois meias muitos rápidos para os contra-golpes, sem esta combinação de fatores, o time teria naufragado. E mesmo a Roma não resistiu.
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Outro exemplo, caríssimo a mim, foi o Botafogo campeão de 1989. Ora, o leitor poderia afirmar, principalmente depois de ter visto o vídeo de Valdir Espinosa explicando como jogava o seu Botafogo (aqui), que o time jogava no 4-4-2 em losango e com pontas, assim como o Vasco dos últimos anos do presidente Roberto Dinamite, que perdendo a explosão foi recuado para armar o time como um ponta-de-lança. Um 4-3-3 com falso 9, diria um leitor de hoje em dia. No Botafogo não foi diferente. Abdicou-se do 9 pois tínhamos o Paulo Criciúma, meia de ótimo cabeceio, e artilheiro nato, fez exatamente a mesma função de Forlán (vestindo a 10) na seleção Uruguaia da Copa do Mundo de 2010, no papel um 4-3-3, com os pontas Cavani (nº 7) e Suarez (9), avançados e o 10 voltando para armar, na prática um 4-3-1-2. No Botafogo de Espinosa, os pontas – Maurício na direita e Gustavo, ou Jéfferson, ou Mazolinha na esquerda – tinham muitas obrigações defensivas, pois os laterais, sobretudo do Flamengo e também do Vasco, eram demasiadamente ofensivos, ora, hoje muitas vezes lemos os pontas com grandes obrigações defensivas como meias-extremos.
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Pautado em todas estas observações não seria sacrilégio – como já se tem feito com a seleção brasileira de 70, um 4-3-3, e a de 82, um 4-2-2-2, serem vistas hoje como 4-W-1’s, principalmente a de 82, pois Éder, ponta-esquerda, defendia muito, para compensar a extrema ofensividade de Júnior, lateral esquerdo – ver este Botafogo de 89 como um 4-3-2-1, sendo os pontas meias-extremos e Paulinho Criciúma falso 9, ou ainda mais, ler este time como um precursor do 4-3-3-0. Também não durou, o time logo voltou ao 4-3-3.
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Todas as experiências feitas, de resultados vitoriosos, muitas vezes bonitos de se ver, mas infrutíferos, sem grandes legados táticos. A própria Roma, que será sempre creditada como mãe do 4-6-0, não foi planejada, Luciano Spalletti, o pai deste esquema, viu-se sem centro-avante e foi obrigado a colocar Totti para jogar nesta posição, como último homem mais adiantado do que seria um 4-5-1, com o retorno do atacante, ao invés de ir para o comando, foi adaptado à extrema esquerda, o que acelerou muito mais os contra-golpes e os deixou mais fulminantes, com um finalizador puxando-os.
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E respondendo as minhas próprias questões: onde realmente pegou o 4-6-0, mesmo a Roma ganhando um dos torneios mais difíceis do mundo – Calcio Serie A –? Mesmo com todos os flertes de treinadores de ponta, como Sir Alex Fergusson e José Mourinho, em lugar nenhum do mundo. Até o Flamengo tentou isso em 2011 pela falta de centro-avantes bons, Luxemburgo desloca Ronaldo Assis para o falso 9, que apesar de ter feito um gol de cabeça jogando nesta posição, não pegou.
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A segunda e mais importante questão: por que até mesmo a Roma abandonou este sistema? Como isso merecia um estudo de caso muito mais profundo por quem acompanha este time assiduamente, acredito que a falta de protagonismo tenha pesado nesta grande equipe – isso sempre acontece com clubes grandes que se tornam reativos demais –, mas, o que acredito ter sido decisivo, foi que a surpresa passou, todos aprenderam a jogar contra o sistema, barrando o avanço rápido dos extremos, e cedendo poucos contra-piedi, além da marcação à Totti ter crescido, único protagonista, neste time de coadjuvantes. A solução a todo esquema que fica “marcado” e não é fluido suficiente para se mover – normalmente todos os times de contra-golpes acabam sendo rígidos demais, mas não é por lei que o sejam – é mudar, e a mudança foi simples, colocar um atacante na frente para que seja protagonista também, ao lado de Totti, e empurrar a marcação para trás, dando liberdade ao príncipe de Roma.
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Parece-me, então, que o 0, como é nulo, como nada, está marcado para não encontrar espaço no futebol, esporte marcado pela ocupação de espaços – os números que dão nome aos sistemas táticos dizem apenas onde encontramos, inicialmente, os jogadores, o espaço que eles ocupam no gramado, nas zonas do campo –. No entanto, ressalto que, como estratégia, desocupar espaço X para que o jogador A se movimente em velocidade para ocupar o espaço aberto, é básico no futebol – não vou nem citar a movimentação de recuo de Messi no centro para a incursão de Villa da esquerda para o meio, mas vou lembrar a seleção brasileira de 70, que Tostão, o centro-avante, abria à esquerda para que Pelé aparecesse no meio, ou O 10 recuava, Tostão centralizava, e o meia Rivelino aparecia na ponta-esquerda da área, ou Jairzinho Furacão cortava da ponta direita em diagonal para o centro da área, abrindo espaço para as investidas do lateral Carlos Alberto, etc. etc. etc. –, e uma das estratégias mais vitoriosas, eficientes, e estéticas do futebol.
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Mas ocupação de espaço é o OPOSTO ao 0, toda vez que o 0 se forma alguém tem que preencher aquele vácuo, daí vermos os defeitos inerentes aos esquemas táticos – isto é, a como uma equipe ocupa os espaços do campo – como sendo as zonas vazias de jogadores – por exemplo, o 4-W-1 tende a isolar o centro-avante, isto é, a deixá-lo cercado de 0, obrigando-o a uma movimentação constante em direção ao trio de meias, como também ao avanço constante, e em bloco deste tridente, em direção à área –. Desta forma o 0 do 4-6-0 é inerentemente um defeito do sistema, ao mesmo tempo que é sua principal característica, sua virtude essencial.
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É uma das leis máximas da natureza (ao lado do “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”): onde há vácuo que ele seja preenchido pela matéria que está por perto. Ao esvaziar conscientemente uma zona, o técnico pede ao adversário que a ocupe, normalmente cobrando o contra-ataque pela cessão do campo, mas correndo todos os riscos inerentes à estratégia aplicada.
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Para saber mais sobre o Roma de 2007, leia aqui, no blog Zonal Marking

terça-feira, 7 de junho de 2011

comentário brevíssimo da aposentadoria do Ronaldo: quem foi melhor, Romário ou Ronaldo?

Interessante questão levantada pela rádio CBN: quem foi melhor: Romário ou Ronaldo? Os dois Rs foram os melhores centro-avantes que vi atuar. E isso me lembra de um texto que escrevi para a Copa do Mundo da África do Sul sobre formas de comparar jogadores – que não publiquei aqui porque não o terminei por problemas pessoais, mas pretendo publicá-lo assim que possível.
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Aí que entra a minha questão: Melhor em que sentido? Conquistas? Ronaldo. Técnica? Romário. Influência histórica? Ronaldo.
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Então, no final das contas, se pudesse colocar só 1 no meu time, quem eu escolheria? Romário, foi mais completo.
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Em quem eu votaria para melhor? Ronaldo.
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Espero que este Ronaldo Nazário tenha uma vida feliz, e vou me lembrar dele até 2003, eu prefiro esquecer que ele TENTOU jogar bola depois disso – se bem que Ronaldo se transformou no maior artilheiro de Copas em 2006, mas já era muito contestado e deixava de ser unanimidade –, e lembrar da grande campanha de 2002 na Copa – o seu auge – e o grande ano nos galáticos!

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Provável BOTAFOGO contra CEARÁ 04/06-11

football formations

Esse foi o time treinado por Caio Jr.

Caio Jr. efetivou o posicionamento "trocado" da dupla de meias-atacantes (antigamente: ponta-de-lança), ou como chama Jonathan Wilson playmaker-cum-second striker (criador-vira-segundo atacante). Este posicionamento inicial confundiu a defesa, Maicosuel rende melhor no meio, a troca constante com o mais atacante que criador Elkeson, fazendo X, proporciona a busca da área, impedindo o isolamento do único atacante.

mas essa escalação é um problema estratégico:
1. Alessandro tem muito medo de subir, para aproveitar o espaço aberto pelo X da dupal Mailcosuelkeson;

2. éverton joga procurando a linha de fundo, o que criaria um congestionamento para o avançao do lateral esquerdo Cortês, bem mais obtuso do que Alessandro.

Uma solução talvez, seja a simples troca de èverton por Caio. Aberto na direita, o Talismã ocuparia a linha de fundo, já que Alessandro não  fará. desta forma, deslocado para a esquerda, maicosuel abriria o corredor para as investidas de Cortês.

Outra opção seria a troca de Alessandro por Somália, o que não solucionaria a movimentação na esquerda, nem seria um real ganho técnico na direita.