quarta-feira, 3 de abril de 2013

ALMANHECER

Teu verso é limpo e puro
Olha as ruas sujas e podres
Fedendo a urina
Sovaco
E maconha

Olha as putas velhas
Com suas tetas flácidas
Pelancas gordas
Cabelos crespos
Almas cândidas
Como cândidos são os punidos por Deus
Os amados de Deus

E mesmo assim teu verso é limpo
A sua música é indefectível
E seu mundo defecável

Pois que venha o cinza da aurora
Ela encontrar-te-á puro
Já que puseste toda a imundície no verso pleno

Tu amas e louvas teu mundo
Tuas esquinas
Tuas pessoas
Porque teu verso é limpo e teu mundo sujo
Como um sustém o outro?

Não se igualam em forma.
Não se imitam em voz.
Queres criar o teu com os ecos
Os ruídos
Do que sobra deste
O que sobra deste?

Pois teu verso é som
E o significado pertence as corruptos.
Como um sustém o outro?

Sustêm-se pois amam-se
Teu verso vê através do mundo
Mostrando a música na mazela humana
Achando o cheiro de gente nas sujas calçadas
Desvendando as almas descobertas
Dos seres que navegam neste mundo
Cheios de lírios e céus
Cheios de dores e tráfego
Lotados de caminhos sem bússolas

E cantas como uma ave
Que louva o amanhecer
Amanhecer mais cinza que uma alma