domingo, 24 de outubro de 2010

Por que Lúcio Flávio trava o Botafogo

texto escrito por André Rocha, no seu blog "olho tático", de quem sou fiel seguidor, pode-se encontrar o texto na íntegra neste sítio: http://globoesporte.globo.com/platb/olhotatico/2010/10/24/por-que-lucio-flavio-trava-o-botafogo/

Quando o Botafogo confirmou a contratação da dupla Jóbson e Maicosuel em agosto, este blogueiro postou uma sugestão de escalação alvinegra no 4-2-3-1. Choveram críticas de leitores pela presença de Lúcio Flávio entre os titulares.

À época, a defesa do aproveitamento do meia na articulação central se baseava na capacidade de fazer os companheiros girarem e se apresentarem ao ataque com seu toque simples e boa visão periférica. Lúcio seria o homem das bolas paradas e também do passe fácil para tabelas e ultrapassagens que compensaria a já conhecida lentidão.

O Botafogo se aprumou com a manutenção do 3-4-1-2 que ganhou poder de marcação no meio-campo com a chegada de Marcelo Mattos e velocidade alucinante com Maicosuel na ligação e Jóbson na frente ao lado de Herrera. Mas quando o time embalou e Joel começava a encontrar uma fórmula que garantisse forte pegada e combinasse rapidez com a bola no chão e as jogadas aéreas para Abreu, as sérias contusões de Marcelo Mattos e Maicosuel (joelho esquerdo) e os “problemas pessoais” de Jóbson minaram as forças da equipe.

O treinador, então, se viu obrigado a resgatar a estratégia e a base da formação que funcionaram na conquista do Estadual, mas limitam demais as ações ofensivas: alas mais espetados e muitos centros procurando Abreu e Herrera.

As entradas de Caio, Edno e Renato Cajá no segundo tempo costumam dar mais rapidez ao ataque – mesmo quando a revelação alvinegra ia para a ala direita, numa estranha improvisação de Joel que nada acrescentou e ainda criou uma relação tensa entre Caio e a torcida. No entanto, a presença de Fahel no meio-campo não mantinha a combatividade e prejudicava a saída de bola, despertando a ira do torcedor. E a impaciência pelos nove jogos sem vitória teria que atingir também o perseguido Lúcio Flávio.

O antigo titular e substituto de Maicosuel tem dificuldades para se adaptar ao esquema de Joel porque é notório que um meia que cadencia o jogo precisa de jogadores que deem opção, que ultrapassem para que o seu passe acelere o jogo, ainda que ele caminhe pelo gramado. Sem comparações, obviamente, era o que fazia Zidane e o que faz Xavi Hernández e Paulo Henrique Ganso com maestria e Douglas com correção e inteligência no Corinthians e agora no Grêmio. É o facilitador.

Por isso Lúcio viveu sua melhor fase em 2007, com Cuca. No 3-4-3 móvel que chegou a ser chamado de “Carrossel”, o meia tinha companheiros em constante movimentação: Túlio e Joílson pela direita e Jorge Henrique à esquerda procurando as combinações e Zé Roberto e Dodô recuando para fazer as tabelas. Um jogo mais técnico que encontrava eco no estilo do então camisa onze.



No 3-4-3 móvel de Cuca em 2007, Lúcio Flávio encontrava companhia para as tabelas e opções para os lançamentos.

A questão é que o Botafogo atual só tem troca de passes e progressão em velocidade em torno de Lúcio Flávio pelo centro com os volantes Somália e Marcelo Mattos, este de volta à equipe. Os alas já esperam o lançamento bem abertos e avançados e os atacantes se mandam para a área em busca dos cruzamentos. Resultado: o camisa dez tem um espaço grande demais para ocupar e seu trabalho exige dribles e velocidade para fazer a bola chegar à frente. Não funciona.

Por isso as vaias, mesmo com o suado triunfo sobre o Vitória no Engenhão por 1 a 0 que acabou com jejum e colocou o time temporariamente na zona de classificação para a Libertadores. Nem nas bolas paradas, seu grande trunfo, ele conseguiu se destacar. Foi de Marcelo Cordeiro a cobrança de falta que decidiu a partida. E o chute partiu do lado esquerdo, que pede um destro calibrado. Lúcio Flávio só ajeitou a bola.

Não por acaso o meia não está entre os cinco principais passadores e lançadores da equipe. Seu único fundamento de destaque é o cruzamento, com 17 centros. E ele é apenas o terceiro. Atrás de Alessandro e Marcelo Cordeiro, obviamente.




No triunfo sofrido sobre o Vitória, o 3-4-1-2 de Joel novamente prejudicou Lúcio Flávio, que precisa correr com a bola e só encontra nos volantes parcerias para as tabelas.

Na entrevista pós-jogo, ainda no gramado e abalado pelos apupos, Lúcio deu a entender que deixa o Botafogo no final da temporada. A decisão parece acertada porque as críticas já se transformaram em implicância de boa parte da torcida. A manutenção de Joel Santana no comando técnico também sugere sua saída, já que o esquema necessita de um meia mais dinâmico e incisivo para fazer a bola chegar aos atacantes. E o jogador também não faz muito para mudar a situação.

O fato é que o Botafogo atrapalha Lúcio Flávio. E ele trava o jogo alvinegro. A validade da parceria do jogador de 31 anos com o clube expirou. É hora de mudar de ares.

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