sexta-feira, 22 de abril de 2016

FÁBULA ALEGÓRICA

Era uma vez um animal chamado O Medo que nascia em porões escuros de muitos gritos.

FIM.

MORAL DA ESTÓRIA: Não se deve falar muito sobre esta história. Esqueça-a.


terça-feira, 19 de abril de 2016

A SEMANA

Há uma semana no ano que sempre senti esburacada, aquela que se estende de 18 a 22 de Abril. Nestes 5 dias, comemoramos o dia do livro (18/04), em homenagem ao nascimento de Monteiro Lobato; o dia do índio (19/04); o dia de Tiradentes (21/04); e por fim, a “descoberta” do Brasil (22/04). É como, que por maldade, deixassem de fora o dia 20, bem no meio, perfeitamente desenhado, nesta configuração, para ser o “dia do navio negreiro”.

Num país de milhões de analfabetos e majoritariamente contemplado por analfabetos funcionais diplomados, um dia do livro para homenagear (data instituída no ano de 2002) um escritor lembrado pelas adaptações televisivas de sua obra é, na acepção mais brasileira do termo, uma hipocrisia! Quando falo para meus alunos de “Urupês”, “Velha praga”, “Jeca Tatu”, eles não fazem a mínima ideia do que estou falando. Para piorar a situação, quando finalmente descobrem a literatura infantil de Lobato, percebem o quanto a ideologia da época permitia o racismo (Tia Anastácia = macaca), o preconceito de classe (o capiau, o Jeca = tatu, urupê, praga), num escritor renomado e tentam proibi-lo, e isto depois de homenageá-lo: não só hipocrisia de classe, mas desejo de censura. Mais sábio é usá-lo para ensinar a ideologia que carrega um neto de barão de café paulista, ao mesmo tempo em que podemos ver a evolução e modificação de sua formação ideológica durante os anos.

No dia 19, comemoramos o genocídio de milhões, o etnocídio de centenas de nações e culturas, a escravização de curumins, a violência e o estupro sistemático de tantas cunhãs, pelas mão invisível e civilizatória do mercantilismo globalizante europeu. Amém.

No feriado de Tiradentes não homenageamos os dentistas, mas a traição, a covardia, o bode expiatório. Quase todos sabem quem foi Tiradentes porque não trabalham, mas o alferes Joaquim José da Silva Xavier é um misterioso desconhecido, cujo rosto é desenhado aos moldes do Cristo-Louro judaico-cristão, e este seu nome serve de nada mais do que pegadinha em provas de História. Comemoramos seu martírio como bode expiatório da Inconfidência Mineira, o que permitiu que os ricos e poderosos conspiradores (à exceção do poeta e jurista Cláudio Manoel da Costa) pudessem sair vivos do inquérito. No dia 21, festejamos o seu enforcamento e esquartejamento, a execução do mais fraco, do mais pobre dentre os conspiradores, lembramo-nos que a insurgência foi sobre impostos, mas “quem paga o pato”? Não foram, não são e nunca serão os que comem filé mignon. Ao lado do cadáver, também rememoramos o seu traidor, pois todo Cristo-Louro judaico-cristão tem seu Judas Iscariotes: Joaquim Silvério dos Reis. Os dois Quincas mais famosos de nossa História: o traído e o traidor.

Dia 22, encerrando os cinco dias comemorativos, somos levados a aplaudir o “achamento” da terra de Vera Cruz, o tratado de Tordesilhas que nos definia como nação nordestina e pátria brasileira já em 1494, o roubo de milhões de toneladas de ouro, prata e gemas, de urânio, de cobre e de muito, mas muitíssimo ferro, que vale menos, mas dá bem mais lucro, pois ferro faz o aço dos prédios, das pontes, das espadas, das pistolas, dos canhões, dos mísseis intercontinentais. Vale, vale, Vale bem mais, os rios doces grandes como mares, os mares salgados de tantos peixes, sujos para sempre. Louvamos a Mata Atlântica devastada para suprir o mercado europeu de púrpura, de açúcar, de café, de cacau, de sangue. Amazônia devastada para suprir o mercado europeu de borracha, de carne, de couro, de suor e soja.

Falta-me, ou não, um dia do navio negreiro, já que neste mês, no dia da mentira (01), lembramos o dia do Golpe Civil-Militar de 1964, que, de tão vergonhoso, é sempre revolucionado para horas antes?

Como lembraremos, então, o dia 17/04? O dia da hipocrisia, em que o povo finalmente viu a incompetência, a inutilidade, e a ideologia de classe, ou melhor, de família da Câmara federal? O dia do genocídio de 54 milhões de votos e do estupro de nossa constituição? Os rostos dos traídos e dos traidores, dos heróis e dos conspiradores? A devastação da democracia brasileira para o enriquecimento do mercado estrangeiro pelos nossos bens primários como o petróleo?

A verdade é que só o futuro olhará com olhos de passado para hoje. E nesta frase, ausente de qualquer efeito poético, tento entender esta semana pátria, estes seis dias tão maravilhosos para nos compreendermos como nação, como carnaval de nós mesmos.


E, em nome dos meus filhos, da minha companheira, dos meus pais, da minha cadelinha, pelo meu nordeste, pelos professores em sala de aula sem cuscuz alegado e sem ventiladores, pelo Jiraia, pelo fim dos pikachu laranja, pela volta do Superman com calção vermelho, eu voto pela inclusão do dia do navio negreiro na data de 20 de Abril.

19/04/2016

Adendo: Descobri recentemente (08/05/2016) que o dia 17 de Abril foi a data em que Joaquim Silvério dos Reis traiu e denunciou seus aliados, salvando o Visconde de Barbacena, Luís Antônio Furtado de Mendonça, futuro 1º Conde de Barbacena, do golpe. Este iniciou a derrama, acabando com a insurreição independentista. Entrou para a História o governador anterior, o cruel e corrupto Luís da Cunha Meneses, o Conde de Lumiares, imortalizado nas CARTAS CHILENAS, provavelmente escritas por Tomás Antônio Gonzaga: O Fanfarrão Minésio.

9/05/2016

PÃO COM MORTADELA

Petista petralha
Esquerdista esquerdopata
Da revista a calúnia inventada
Me vista o que me valha:
Bolivarista, pão com mortadela,
Artista da Rouanet, um Favela,
                  Sou

                  Mas
Fascista, cara de canalha;
Elitista que bate a panela
(Golpista) sorrindo da janela;
Jurista com a bandeira de mortalha;
Integralista pra quem a justiça amarela;
Financista colhendo os juros da cangalha;
                   Jamais

13/04/2016

quarta-feira, 13 de abril de 2016

MARIA JÚLIA

Peguei tua mão
Galáxias pulverizaram-se
Sóis engoliram-se

E

Para nós
O momento manteve-se

Tua mão
        Tão acalentada
Tão          Pequena
                Dentro da minha

Uma flor serena
                 delicada
de meu centro eclode
                         explode
                      me move

Em teu nome,
meu canto ebuliu mais doce
fulvo fluvial 
de melífluas palavras

este amor que brotou
entre nós
                instantaneamente
no golpear de nossas peles
no penetrar de nossos olhos
                             princesa
                             pequena
                             serena
                             delicada
flor fulva do meu centro
é a gema mais sagrada
                                        arada nas altas aras 
                                                                     do ser que me sei.

SOBRE 2 DE NÓS

CAPÍTULO I
(Os dois fizeram amor no carro).

CAPÍTULO II
Amante: Por que não ficamos juntos de vez? De uma vez para sempre, como sempre deveria ter sido? Eu, você, minha filha,… nossos filhos…
Amante: Não posso… Não podemos, somos casados!
Amante: Sim, mas existe separação, temos que nos perder de novo?

CAPÍTULO III
Eram amigos de infância, famílias vizinhas, aos sete anos prometeram-se casar um com o outro, aos treze, viraram namoradinhos, ela se mudou aos 15 anos.
Nunca chegaram a se beijar.

CAPÍTULO IV
Amante: Mas eu amo a pessoa com quem estou hoje.
Amante: Eu também, mas eu também te amo, mais que tudo, depois de minha filha.
Amante: Aí é que está! Você tem sua filha, suas responsabilidades…
Amante: Não venha colocar a culpa de seu medo sobre minha responsabilidade para minha filha!, ela é minha filha e sempre será, nunca deixará de ser, mas amor de casamento também amo, mas nada como você! você não me quer por causa de minha filha, é isso?
Amante: Não, por ela!, Deus, eu adoraria ter uma filha, ainda mais a sua, teremos os nossos também, já que não os tive no meu casamento.
Amante: E então?
Amante: E então que é minha responsabilidade, minha honra.
Amante: Então sua responsabilidade, sua honra, vale mais do que seu amor por mim?
Amante: Não! sim, isto é, tente entender, não sou só eu, tem minha família, meus pais, meus sogros, tanta gente… Como poderia deixar alguém que gosto tanto por outrem que conheci ou reencontrei hoje? Não é que eu não te ame, que eu não ame a pessoa com quem vivo, foram tantos… tantas dificuldades, tantas tristezas, prazeres e alegrias. Não, não é certo, simplesmente não é certo.

CAPÍTULO V
Festa de fim de ano na empresa. Os dois foram levados por seus respectivos cônjuges.

CAPÍTULO VI
Cônjuges: Amor, quero que você conheça…
Amantes: Você!?
Cônjuges: Vocês já se conhecem?
Amantes: Éramos amigos de infância.
Cônjuges: Ah, que bom, então vamos deixar que matem a saudade dos velhos tempos.

CAPÍTULO VII
Amante: Eu seu que não é certo, e se você falasse outra coisa agora, eu não te reconheceria, não seria a pessoa que tanto amo, que mais amei.
Amante: Também nunca amei ninguém assim. Mas isso também não quer dizer que não ame...
Amante: Eu sei, um amor assim, tão bonito, construído em tantos anos, não se abre mão tão fácil por uma aventura. Mas é isso que somos? Uma aventura? Uma aventura, um para o outro, que, depois do prazer, do risco, perde todo sabor?
Amante: Não sei o que somos. A ilusão do beijo nunca dado? Uma coisa irreal, ideal, que é perfeita e nunca poderá ser vivida e igualada? Ou a coisa verdadeira que, se nunca tentada, será sempre o vazio?
Amante: E pode se amar duas pessoas tão assim, no de-verdade?
Amante: Existe limite para amar? Por que escolher a quem amar dói tanto, é tão assustador?
Amante: Abandonar o amor certo pelo amor louco? É, não é correto isso mesmo.
Amante: Não é correto mas eu quero tentar.
Amante: Contra tudo e contra todos?
Amante: Sim.
Amante: Devemos?
Amante: Ã?
Amante: Devemos, assim, devemos mesmo?
Amante: Não. Nosso dever e nossa vontade são dois inimigos naturais.
Amante: Não podemos conciliar isso?
Amante: Como? Como estamos fazendo agora?
Amante: Sim…
Amante: Mas o que fizemos, é tão errado, é tão mais errado!
Amante: Mas poderíamos manter os nossos dois amores.
Amante: É verdade, não teríamos que escolher, que nos dividir, que sofrer e fazê-los sofrer.
Amante: Mas é tão mais errado! Não é que seja mais fácil para nós, ou não os magoe, que faça do ato mais certo, ou menos errado.
Amantes: Estaríamos só enganando.
Amante: A nós e a eles.
Amante: O que fazer neste dilema tão absurdo!
Amante: Chegar ao ponto de escolher a quem amar sabendo que sempre haverá sofrimento.

CAPÍTULO VIII
Ali, um e outro, olhando-se, no meio daquela festa, o que dizer? O que calar? Nunca o coração batera tao rápido entregando-se. Como mentir naquele instante tão revelado?

CAPÍTULO IX
Amante: Eu te amo.
Foi a primeira coisa que se disse ali, com ninguém por perto.

CAPÍTULO X
Qual era a verdade daquele momento?

CAPÍTULO XII
Amante: O quê? O que você está dizendo?
Amante: O que eu não posso mentir.
Amante: Ó Deus, teus olhos!

CAPÍTULO XIII
Quem prestasse atenção às calças dos dois perceberiam imediatamente a excitação sexual que tomou conta deles.

CAPÍTULO XIV
Amante: O que você fez todo esse tempo?
Amante: Estudei, trabalhei, casei…
Amante: Eh! Tudo no passado.
Amante: É, tudo no passado. O que me faz questionar: “E o meu futuro? E o seu?
Amante: E o nosso?”
Misturavam ali verdades profundas com verdades fúteis, enquanto as pessoas aproximavam-se e iam, deixando-os a sós.

CAPÍTULO XV
Amante: O que faremos nós?
Amante: Aqui, neste carro? Talvez primeiro sair dele.
Amante: É a última coisa que quero no mundo. Este momento, indefinidamente.
Amante: Logo amanhece?
Amante: Logo, amanhece.

CAPÍTULO XVI
E amanhecendo ali, o dia tão vermelho.

CAPÍTULO XVII
Enquanto as pessoas iam e voltavam:
Amante: Tem filhos?
Amante: Não, nós nunca quisemos ter… Bem, eu sim.
Amante: Eu tenho uma filha. Quer ver?
Amante: Claro.
Amante: Não é a coisa mais linda do mundo?
Amante: É. Talvez a segunda… ela tem seus olhos, sua boca…
Amante: É, é muito linda, mesmo!
Amante: Presunção!
Riram chamando a atenção do salão.

CAPÍTULO XVIII
Amante: Eu vou me perdoar?
Amante: Vão nos perdoar?
Amante: Por que pensar no sofrimento deles se o nosso é tão palatável? Eu vou me arrepender de ir? Vou me arrepender de ficar?
Amante: Vamos nos perdoar de nossa escolha?
Amante: É, paramos e olhamos: é nossa família.
Amante: E enquanto nos olhamos é o nosso amor.
Amante: É.

CAPÍTULO XIX
Amante: Deus, os teus olhos!
Amante: O que é que têm?
Amante: Você tem que parar de me olhar assim.
Amante: Você não consegue ler meus pensamentos, olhando para eles?
Amante: Que me amaria agora mesmo, neste chão.
Amante: É, a mesma coisa que o teu.

CAPÍTULO XX
Enquanto o elevador desce para o estacionamento no subsolo, a respiração ofegante dos dois sozinhos deixou o ambiente fechado retumbantemente ensurdecedor. Mesmo assim não se tocaram. Mas os olhos…

CAPÍTULO XXI
Amante: Não podemos ficar aqui, desse jeito.
Amante: É, não podemos ficar aqui.
Amante: Não, não aqui, quer dizer, devemos ficar, mas não desse jeito.
Amante: É. Devemos.
Amante: Devemos nos beijar.
Amante: Eu tenho que sentir o gosto da tua boca.
Amante: Não podemos.
Amante: Por quê?
Amante: Porque, se fizermos isso, não sei se conseguirei voltar.
Amante: Eu também.

CAPÍTULO XXII
Amante: Você já fez isso antes?
Amante: Eu?, nunca! Você acha que sou do tipo que trai o casamento?
Amante: Não.
Amante: E… e… vo-você?
Amante: Também… não.

CAPÍTULO XXIII
Subia o elevador. Tinha certeza que não poderia voltar atrás, não importava o resultado da volta para casa, mesmo que no futuro venha a se separar, mesmo que qualquer coisa aconteça, não poderá jamais voltar a este amor de infância roubado e reencontrado, revivido e regozado, este amor tão lindo e tão gostoso estava totalmente perdido para si.

CAPÍTULO XXIV
Ao entrar em casa, encontram esta carta:
“Meu Amor,
Não sei se tu se lembra daquela pessoa que te apresentei naquela festa da empresa, que é casada com aquela tua amizade de infância?
Bem, aquela pessoa que te apresentei e eu somos amantes. Estamos juntos há três anos agora e eu já não suporto mais esta mentira que me come por dentro porque te amo.
Sim, é verdade. Pode me achar hipócrita, viver te mentindo, te traindo e te amando! Mas esta é a verdade, por isso eu aguentei por tanto tempo.
Não quero dizer que te aguentei por tanto tempo, mas eu me aguentei por tanto tempo, o lixo que vivi por tantos anos, me odiando por te amar e te magoar sem que tu saiba.
Por isso tomei esta decisão, a mais difícil de minha vida. Eu te deixei, Amor, eu vou embora com o meu Outro-Amor, não me odeie, por favor, eu não viveria se tu me odiasse. Eu sei que tu vai sofrer, eu estou sofrendo, sei que tu entristecerá, vai amargurar, mas não me odeie.
Mesmo que não me perdoe (mas tente, tente, tente, por favor, tente), não me odeie.


 Eu te amo e adeus,”