Há
uma semana no ano que sempre senti esburacada, aquela que se estende
de 18 a 22 de Abril. Nestes 5 dias, comemoramos o dia do livro
(18/04), em homenagem ao nascimento de Monteiro Lobato; o dia do
índio (19/04); o dia de Tiradentes (21/04); e por fim, a
“descoberta” do Brasil (22/04). É como, que por maldade,
deixassem de fora o dia 20, bem no meio, perfeitamente desenhado,
nesta configuração, para ser o “dia do navio negreiro”.
Num
país de milhões de analfabetos e majoritariamente contemplado por
analfabetos funcionais diplomados, um dia do livro para homenagear
(data instituída no ano de 2002) um escritor lembrado pelas
adaptações televisivas de sua obra é, na acepção mais brasileira
do termo, uma hipocrisia! Quando falo para meus alunos de “Urupês”,
“Velha praga”, “Jeca Tatu”, eles não fazem a mínima ideia
do que estou falando. Para piorar a situação, quando finalmente
descobrem a literatura infantil de Lobato, percebem o quanto a
ideologia da época permitia o racismo (Tia Anastácia = macaca), o
preconceito de classe (o capiau, o Jeca = tatu, urupê, praga), num
escritor renomado e tentam proibi-lo, e isto depois de homenageá-lo:
não só hipocrisia de classe, mas desejo de censura. Mais sábio é
usá-lo para ensinar a ideologia que carrega um neto de barão de
café paulista, ao mesmo tempo em que podemos ver a evolução e
modificação de sua formação ideológica durante os anos.
No
dia 19, comemoramos o genocídio de milhões, o etnocídio de
centenas de nações e culturas, a escravização de curumins, a
violência e o estupro sistemático de tantas cunhãs, pelas mão
invisível e civilizatória do mercantilismo globalizante europeu.
Amém.
No
feriado de Tiradentes não homenageamos os dentistas, mas a traição,
a covardia, o bode expiatório. Quase todos sabem quem foi Tiradentes
porque não trabalham, mas o alferes Joaquim José da Silva Xavier é
um misterioso desconhecido, cujo rosto é desenhado aos moldes do
Cristo-Louro judaico-cristão, e este seu nome serve de nada mais do
que pegadinha em provas de História. Comemoramos seu martírio como
bode expiatório da Inconfidência Mineira, o que permitiu que os
ricos e poderosos conspiradores (à exceção do poeta e jurista
Cláudio Manoel da Costa) pudessem sair vivos do inquérito. No dia
21, festejamos o seu enforcamento e esquartejamento, a execução do
mais fraco, do mais pobre dentre os conspiradores, lembramo-nos que a
insurgência foi sobre impostos, mas “quem paga o pato”? Não
foram, não são e nunca serão os que comem filé mignon. Ao lado do
cadáver, também rememoramos o seu traidor, pois todo Cristo-Louro
judaico-cristão tem seu Judas Iscariotes: Joaquim Silvério dos
Reis. Os dois Quincas mais famosos de nossa História: o traído e o
traidor.
Dia
22, encerrando os cinco dias comemorativos, somos levados a aplaudir
o “achamento” da terra de Vera Cruz, o tratado de Tordesilhas que
nos definia como nação nordestina e pátria brasileira já em 1494,
o roubo de milhões de toneladas de ouro, prata e gemas, de urânio,
de cobre e de muito, mas muitíssimo ferro, que vale menos, mas dá
bem mais lucro, pois ferro faz o aço dos prédios, das pontes, das
espadas, das pistolas, dos canhões, dos mísseis intercontinentais.
Vale, vale, Vale bem mais, os rios doces grandes como mares, os mares
salgados de tantos peixes, sujos para sempre. Louvamos a Mata
Atlântica devastada para suprir o mercado europeu de púrpura, de
açúcar, de café, de cacau, de sangue. Amazônia devastada para
suprir o mercado europeu de borracha, de carne, de couro, de suor e
soja.
Falta-me,
ou não, um dia do navio negreiro, já que neste mês, no dia da
mentira (01), lembramos o dia do Golpe Civil-Militar de 1964, que, de
tão vergonhoso, é sempre revolucionado para horas antes?
Como
lembraremos, então, o dia 17/04? O dia da hipocrisia, em que o povo
finalmente viu a incompetência, a inutilidade, e a ideologia de
classe, ou melhor, de família da Câmara federal? O dia do genocídio
de 54 milhões de votos e do estupro de nossa constituição? Os
rostos dos traídos e dos traidores, dos heróis e dos conspiradores?
A devastação da democracia brasileira para o enriquecimento do
mercado estrangeiro pelos nossos bens primários como o petróleo?
A
verdade é que só o futuro olhará com olhos de passado para hoje. E
nesta frase, ausente de qualquer efeito poético, tento entender esta
semana pátria, estes seis dias tão maravilhosos para nos
compreendermos como nação, como carnaval de nós mesmos.
E,
em nome dos meus filhos, da minha companheira, dos meus pais, da
minha cadelinha, pelo meu nordeste, pelos professores em sala de aula
sem cuscuz alegado e sem ventiladores, pelo Jiraia, pelo fim dos
pikachu laranja, pela volta do Superman com calção vermelho, eu
voto pela inclusão do dia do navio negreiro na data de 20 de Abril.
19/04/2016
Adendo: Descobri recentemente (08/05/2016) que o dia 17 de Abril foi a data em que Joaquim Silvério dos Reis traiu e denunciou seus aliados, salvando o Visconde de Barbacena, Luís Antônio Furtado de Mendonça, futuro 1º Conde de Barbacena, do golpe. Este iniciou a derrama, acabando com a insurreição independentista. Entrou para a História o governador anterior, o cruel e corrupto Luís da Cunha Meneses, o Conde de Lumiares, imortalizado nas CARTAS CHILENAS, provavelmente escritas por Tomás Antônio Gonzaga: O Fanfarrão Minésio.
9/05/2016
19/04/2016
Adendo: Descobri recentemente (08/05/2016) que o dia 17 de Abril foi a data em que Joaquim Silvério dos Reis traiu e denunciou seus aliados, salvando o Visconde de Barbacena, Luís Antônio Furtado de Mendonça, futuro 1º Conde de Barbacena, do golpe. Este iniciou a derrama, acabando com a insurreição independentista. Entrou para a História o governador anterior, o cruel e corrupto Luís da Cunha Meneses, o Conde de Lumiares, imortalizado nas CARTAS CHILENAS, provavelmente escritas por Tomás Antônio Gonzaga: O Fanfarrão Minésio.
9/05/2016
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