domingo, 26 de agosto de 2018

SONETO

Cante para mim, meu bom Rouxinol,
E traga vida para esta tristeza,
Tua voz é fragmento do meu Sol.
      Teu canto voa, guia da Beleza,
      Meu corpo te ressoa sem espanto:
      Flauta que vibra em êxtase de reza.
Por esta voz que cantas, eu me encanto
Por cada canto vais, tua voz fica
E eu soçobro sem meu doce Arcanjo.
       Cante para mim, minha jovem amiga,
       Enquanto os anos chegam-me raivosos
       E, da cicatriz, reabrem a ferida.
Cante para mim versos amorosos,
Cante até que separem os pés nossos.

12/09/2018

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

ANAMNESE

eu que serei teu último amante
engenheiro de tua terra arrasada
sou como quem não tem memória

eu que terei a chave de teu corpo
para guardá-lo longe de todos os olhos
sou como quem sempre esquece

meu amor é um céu em festa
e tu és sempre nova num mundo repetido
sou como quem nunca lembra

o que é o passado para quem se perde?
o que é a dor para quem sempre nasce?
sou como quem sempre te reconhece
e finalmente dá por si

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

MEU AVÔ

Meu avô era fundidor,
mal grado Cabral, um artista:
esculpia na madeira fofa todas as peças das máquinas da Usina,
na areia endurecida com água
a forma fazia
e fundido o ferro líquido ou bronze
a peça nova
  fumegante formava-se e saía
vermelha de calor
na precisão serena
da força de seu ofício