quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

DISSERAM-ME

       Disseram-me
que falaste meu nome
e sorriste
e escondeste teus cachos atrás da orelha
para melhor ouvir
tua voz dizer meu nome
e fechaste os olhos
para melhor ver
tua voz dizer meu rosto
e inclinaste a cabeça
para melhor sentir
meu nome cheirar-te o pescoço

       Disseram-me
que falaste meu nome
que tua memória te trai e me deseja

       Disseram-me
que tu me chamas
e
se tanto me queres
diz de novo meu nome
e tu logo me-
terás todas as minhas chamas

       Disseram-me
que meu nome casa de teus lábios
mas
ele sempre foi teu
e eu
sempre fui deles

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

VÍRGULAS

Eu sou um homem de vírgulas
de separações elipses

de inversões devidamente classificadas

     sou um homem de vírgulas
de enumerações sequências lógicas

não sou um homem de pontos finais.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

O QUE FICOU EM MIM

            estou
pois apostei em mim

o que ficou perdido
o que ficou ficado
                     fincado
                     fendido
                    desalado
não me pertence mais a mim

o que não me sumiu
o que         me sobrou
                          sou

tudo que resgatei
dos meus destroços
diários e constantes
                          sou

eu me   refaço
no meu espaço
                           dentro
                           de
                                 mim

             estou

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

CANTIGA DO AMOR RESTANTE

Esta adoração sincera
que prestei pelo teu corpo
vai se esvaindo de mim
sem nenhum grande transtorno

Mas este teu nome fica
gravado na minha voz,
é o meu primeiro reflexo,
pela manhã, da memória

O apetite tão voraz
findou-se tão saciado,
mas o meu canto não seca,
não peca, ou se faz errado

O desejo se apagou
tão súbito, nem sentimos,
mas a vida que compomos
reconta-se em infinitos

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

SONETO

"Aceita que dói menos", avisou
Violador à Vítima. Voz vil
Que silencia quem sofre e chorou.
     "Está chato hoje, aqui, neste Brasil",
     Reclama quem riu sempre do mais fraco,
     Quem bateu e das lágrimas sorriu.
Quem se opõe é chamado: "Resto, Caco"!
"Se incomodado que se mude", diz,
E entre os feixes se vê o mais democrático.
     Quando havia discurso Uno, feliz
     Era. Mas os pequenos se uniram
     E a voz do Outro lhe ofende na raiz.
Mas as correntes do Ódio se partiram,
Não aceitamos mais vozes que firam.

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

CÍLIOS E SORRISOS

Meu coração engrandece
Quando ele encontra os teus olhos
Fulgurantes sob montanhas
De cílios e de sorrisos

REMENDO DE ABISMOS

eu remendo os meus abismos
não me perderei
nem no Paraíso de Borges
que é mais místico do que o de Dante

em cada borda destes precipícios
está Eu
tentando ouvir do fundo
as vozes que me escapam

mas não me perderei
mesmo flertando com os meus abismos
mesmo sem ouvir as vozes de mim mesmo
ainda assim vejo o Outro Eu

um ao outro se apontam
como bússolas de braços fendidos
guiando o que me sobrar de vozes
neste mapa de remendos de abismos

domingo, 26 de agosto de 2018

SONETO

Cante para mim, meu bom Rouxinol,
E traga vida para esta tristeza,
Tua voz é fragmento do meu Sol.
      Teu canto voa, guia da Beleza,
      Meu corpo te ressoa sem espanto:
      Flauta que vibra em êxtase de reza.
Por esta voz que cantas, eu me encanto
Por cada canto vais, tua voz fica
E eu soçobro sem meu doce Arcanjo.
       Cante para mim, minha jovem amiga,
       Enquanto os anos chegam-me raivosos
       E, da cicatriz, reabrem a ferida.
Cante para mim versos amorosos,
Cante até que separem os pés nossos.

12/09/2018

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

ANAMNESE

eu que serei teu último amante
engenheiro de tua terra arrasada
sou como quem não tem memória

eu que terei a chave de teu corpo
para guardá-lo longe de todos os olhos
sou como quem sempre esquece

meu amor é um céu em festa
e tu és sempre nova num mundo repetido
sou como quem nunca lembra

o que é o passado para quem se perde?
o que é a dor para quem sempre nasce?
sou como quem sempre te reconhece
e finalmente dá por si

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

MEU AVÔ

Meu avô era fundidor,
mal grado Cabral, um artista:
esculpia na madeira fofa todas as peças das máquinas da Usina,
na areia endurecida com água
a forma fazia
e fundido o ferro líquido ou bronze
a peça nova
  fumegante formava-se e saía
vermelha de calor
na precisão serena
da força de seu ofício

quarta-feira, 18 de julho de 2018

INSÔNIA

Meus olhos insones
           famintos por te ver
           cansados de esquecer
os sonhos insonhados
das noites acordado
nas trevas observados
            pelas sombras do amanhecer

És o fim da madrugada
o cansaço do dia
a perturbação da memória
os ecos dos requalques

Meus olhos insones
           semiacordados
           hipnotizados
pelo resto de tua lembrança
pelos cacos das saudades
           apavorados
por outros olhos
           que não podem ver

terça-feira, 12 de junho de 2018

FÁBULA DO JUIZ E DO RÉU

Era uma vez lá longe em
País de São Saruê

Um juiz que condenou
Com tanta convicção
Que a pena aumentou do réu.

Assim, disse esse juiz
Ao seu destemido réu:
"Solto-te amanhã se tu
Me prometer, com papel
Assinado e carimbado,
Com esse povinho jamais
Tu nem sequer se meter
E nunca mais liderá-los."

Sem precisar nem pensar:
"Sentenciou, o Magistrado,
Num tribunal de seus pares,
Não num júri popular.
E não quer que eu me submeta
Ao siso dos meu iguais?

Mas se o Sr. Magistrado
Tem provas de qualquer crime
Por que negociaria comigo?

Fatos não se negociam.

Se comigo faz acordo
É porque vê o criminoso
Aprisionado nas barras
Da moldura especular.

Se sabes que sou bandido
Aprisiona-me e me deixe
Na câmara de tortura
Da solitária de teus
Inimigos, desafetos,
A apodrecer como queres.

Se tem dúvidas do crime
Ou, como muitos já creem,
A certeza da inocência,
Ao meu Povo me libertas
Ou ao julgamento Dele
Tu serás assujeitado."

Quem julga o maior juiz?

Quem dele nos salva quando
Ele é o máximo corrupto?

Quando as leis para os iguais
Tornar-se-á para todos?

Quando a classe dos juízes
Deixará de ser a classe
Dos sobrenomes muitos
Poderosos para ser
A classe dos humanistas?

MORAL:
Quem faz as leis, para quem?

12/06/2018


quarta-feira, 30 de maio de 2018

JOGO DE VENTO E VAGAS

Ele que é mais sábio do que o vento
        mas mais doce do que as vagas

                                                 volta
para meu lado

                                                 fica
o tempo necessário para ser inesquecível

Não me transponho a si
Ele não atravessa a mim

Não me desvendo o meu corpo
Ele não cobre o meu copro

e neste jogo de brisas e ondas
permanecemos nos reencontrando

porque Eu sou o Mar
                                Rainha de muitos

sexta-feira, 25 de maio de 2018

CON-SENTIMENTO

deixe-me
                morder teus beiços
                lamber teus lábios
                chupar tua língua
              eu estou tão faminto de ti

fome sem fastio
         sem limites
         sem satisfação

mas se dizes não,
sem tua permissão,
deito-me e faço-me chão,
desapareço na escuridão,
como-me e morro
                              de tua inanição

AFETOS

Se, numa emoção, teu pelo se arrepia,
Ou se um sorriso se arredia
Por uma lágrima indecente,
Aceita que o corpo é quem manda na mente

Se tu procuras por conforto
Só podes achar dentro do teu bom corpo
A Verdade que dos fatos não tem vetos
É esta verdade dos afetos

domingo, 13 de maio de 2018

PORTO PEREGRINO

Como flutuar
sendo sólido
num mundo líquido?

encho-me de ar
mudo de forma

deságuo
desabo
desisto

volto à tona

Como,
num mundo líquido,
flutuar
sendo sólido?

o poeta perdido
o barco desgovernado
o pé sem peso

Ser tábua
para pés alheios
sem fundamento
mas porto peregrino

terça-feira, 8 de maio de 2018

A CARNE DE ELZA SOARES

A voz de Elza Soares é como o metal que tine, ataca os tímpanos a fim de despedaçá-lo num ato perfeito como cristais que vibram.

Sua voz é cheia, elétrica e poderosa como uma motosserra, como uma microfonia afinada.

Há algo mais que técnica e potência, há algo mais que emoção, profunda brasilidade: a alma atormentada de uma negra, pobre, favelada que se contorce como um fantasma em pena eterna.

A voz de Elza é um arco voltaico, relâmpago, suor de corpos. É poder em estado bruto. Sua voz escutamos com a pele, como estática no ar, sentimos como um raio: lampejo e trovejada.

Potência, técnica, emoção: uma voz saída do "Planeta Fome" na forma de Estrela. A voz de Elza Soares é raiva pura.


https://www.youtube.com/watch?v=1YmBHAu-oeg

segunda-feira, 23 de abril de 2018

LENÇOL DE SEDA

Por que não me beijas
e ceda
            teu gosto
ao meu corpo?

Se me desejas
ceda
         teu cheiro
ao meu suor!

O que quer que vejas
que seja
               minha boca
na seda
do teu lençol.

sexta-feira, 13 de abril de 2018

ROMANCEIRO DA ESCULHAMBAÇÃO

No país de São Saruê,
Quando o Vampiro se esconde,
Numa sexta-feira 13,
A Bruxa assume o poder.

Que mais se pode dizer:
Nessa esculhambação pronta,
Na safadeza virada
Escárnio em São Saruê?

A justiça dos amigos
Tem dono. As federações
Dos amigos também têm.
Mídia dos donos tem amigos.

Se encontram no lar da Bruxa,
No horário da Missa, os dois
Para esta beijar-lhe a mão
E receber sua bênção.

As instituições estão
Em pleno funcionamento:
Os amigos prescrevendo,
Mas o Outro no encarceramento.

Aplica-se a lei a todos,
Amigos são sempre soltos,
Mas aqui, em São Saruê,
O desafeto nada tem.

Ele pode, Ele também,
Pois Eles muito possuem.
Porém se o Outro nada deve,
O juiz de carrasco veste.

Se a safadeza sucesso
Não fizer, discos não vender,
E os cinemas não encher
Nem seria São Saruê.

A Bruxa deixou o poder,
Deram festança de arromba,
Ela não será lembrada
No país de São Saruê.

O Bobo lhe tira a Casa
E se assenta muito bem,
No ombro, um general tem,
O general o tem na mão

Por um dia, o Bobo é Chefe
(Vampiro vai se apagando).
Se o general lhe gritar,
Continência lhe vai bater?

O Vampiro se despede
Do trono e todos lhe renegam,
De pior não será ouvido
No país de São Saruê.

Quanto mais lhe batem e batem
Mais epístolas produz:
Carta de decorativo;
Hoje, vídeo aos ex-parceiros.

Mas, a serpente do Golpe
Que entronou Vampiro e Bruxa
Agora envenena a si
E ao País de São Saruê.

Na sua baba de doida
Pariu, a sempre no cio,
A Cadela do Fascismo
Que cospe balas e facadas

E o ódio corre sempre solto
No País de São Saruê
Num lago de baba espessa
De sangue das minorias

Mascote dentro de casa
Morreu. Mestre de capoeira
Morreu. A vereadora
Morreu a Democracia

Em balas, facas, garrafas
Na camisa desta moça
Arrancada, na suástica
Na sua barriga gravada

Quem pronto está, quem está pronto?
Nesta terra, São Saruê?
Quem quer abraçar o relho
Para afagar a pistola?

Todos querem cospe fogo.
Então: prometam, prometam!
Pobre vai ficar querendo,
A arma é cara, é para bem poucos.

Ter trabalho sem direitos
Tem nome de escravidão,
Mas quero o meu cospe fogo
Porque vai encher de ladrão.

A ameaça é muito simples,
Vi na rede social.
Meu pastor disse que existe.
A Mentira é a nova moral.

A esculhambação virou regra!
É divertido dar tiro,
Mesmo queimando inocentes,
Assassinos de bandidos.

"Odeio a corrupção d'outro,
Mas minha própria esperteza
Eu celebro em minhas redes
Ameaçando as mulheres."

Há mulher princesa. Há mulher
Cadela. Assim nos dizem:
Há bandidos pro Céu,
Há bandidos para as balas.

É no "estupro corretivo"
Que conserta universitária,
É na paulada viril
Que se morre o identitário.

Na passeata adversária
Tome bala, tome bala,
Deixe que este jovem morra
"É filho de sindicalista".

E na beira deste Caos
Como zumbis nós marchamos
Incertos para o Fascismo,
Como condenados marchamos.

Para a borda do precipício
Como cordeiros marchamos;
Pro nosso próprio abate
Como otários votamos.

Pois nesta esculhambação
Perdemo-nos como nação;
Pois é neste nosso escárnio
Que nos desmanchamos no Ódio.

É bom ter medo, bastante,
É bom lutar neste instante
Pois, aqui, em São Saruê,
Há sempre um erro escondido

13/04 - 30/04 - 14/09 - 21/09 - 10/10 - 16/10 - 27/10 - 28/10

segunda-feira, 9 de abril de 2018

SONHOS

alguns Sonhos são vírus

tentam nos curar com partes mortas doutros sonhos

mas eles mudam
              crescem
              evoluem

nos infectam

de sono em sono 
            de alma em alma 
                       de olhos em olhos 
                                   de milhões em milhões 
                                                            somos um só

revulsionando numa febre utópica

até que não haja mais Sonhos,
só gente 
só povo

trêmulos de esperanças e realidades 


sexta-feira, 6 de abril de 2018

SOBRE LULA

Quando as barras de aço
       Prende alguém inocente
Fazem dele Herói

Quando um líder morre
       Nas garras dos fascistas
Fazem dele um mártir

Se um líder do povo
        Solto arrasta multidão
Livre é presidente

sábado, 17 de março de 2018

MARIELLE

Eles já descobriram:
                                     Venceste!

Nós, que não te conhecíamos,
Agora de-coramos tuas falas
Nós, que nunca te vimos,
Agora encampamos a tua
                                        LUTA

Porque uma bala
                       cala
Uma voz
     Mas não barra
      Nossa palavra
Porque preferíamos sentir tua respiração
             Ao nosso lado
                                                teus pés caminhando
             Ao nosso lado
Mas és mártir,
              Marielle,
              Mulher
                   Negra
                Favelada da
              Maré

As balas que te encomendaram
desde os cofres da polícia
sempre procuram
   negras
faveladas
       balas
com certo endereço
com certo interesse

Mas seremos 
          exército
     de meninas
     de mulheres
     de negras
       faveladas
     de Marielles
com livros nas mãos
quebrando correntes
quebrando estatísticas
plantando sementes no asfalto

Somos porque tu és
presente
      sempre

14-17/03/2018

PROFISSÃO: PROFESSOR, IMPORTÂNCIA SUBSIDIÁRIA


Nesta sexta, os meus alunos da 2ª Série do Ensino Médio resolveram perguntar-me como é a vida de professor, em quantas escolas dou aula, quanto turnos eu pego, quanto é a base salarial de professor concursado de escola pública (“Vixe, professor, é tão pouquinho!” “Professor é a profissão – ‘odeio esta cacofonia’ – de ensino superior que, provavelmente, tem o salário menor no serviço público brasileiro.”), e como eu sou este tipo de professor que acredito que o conteúdo é subsidiário (usarei várias vezes esta palavra no texto) à formação cidadã e intelectual, resolvi entrar no debate, sobretudo quando uma moça (Kassandra) lançou o chavão: “E professor é tão importante, não é? Só tem médico porque tem professor.”

Embora reconheça a verdade inerente nesta assertiva, me preocupa muito esta relevância que nos dão que eu chamo de “importância subsidiária”. “Entenderam o que eu quero dizer com ‘importância subsidiária’?” Aqueles olhares vazios vieram para mim, cabeças balançando em negação, eu tento uma, duas, na terceira, vamos à analogia:

Pneus são muito importantes. Sem eles os carros não rodam, se estão desgastados, podem causar acidente. Todos concordam. “O que é importante: o carro ou os pneus?” Isto é o que eu chamo de “importância subsidiária”.

Se professor é importante porque está na base da formação do médico, ou do advogado, ou do engenheiro, a nossa profissão torna-se subsidiária. Neste caminho, o professor de escola é desnecessário, pois só importa quem forma o médico, o advogado e o engenheiro. Mas, um advogado, antes de ser advogado, antes de ocupar este lugar social, ocupa o lugar social de cidadão, de filho, de pai, de marido; uma engenheira, antes de ser uma engenheira, ocupar o lugar social de seu trabalho, ocupa também os lugares de cidadã, de filha, de mãe, esposa.

Não, a função de professor é na formação cidadã, ética e estética das pessoas. Um professor de língua portuguesa não serve para instruir as regras de ortografia (eu tenho uma ótima notícia para a maioria: “editores de textos” têm a função “corretor ortográfico” que é um método mais rápido e mais eficiente do que perguntar a um professor). A função de um professor de língua portuguesa é mostrar as variações linguísticas e, a partir disso, debater os preconceitos decorrentes destas variações e como se adaptar ao lugar social que, como sujeitos, ocupamos; como os gêneros textuais são usados e com qual interesse; a reconhecer as intenções discursivas por trás de todas as falas; a identificar as formações ideológicas que produzem os discursos; a compreender os contextos de produção que originam os mais variados textos; e criar um senso ético e estético a partir do estudo da nossa formação literária.

É para isso que serve um professor. Um gari é importante porque mantém a cidade limpa e higienizada para as pessoas. Um motorista é importante porque leva as pessoas. Uma enfermeira é importante porque cuida das pessoas. Um médico é importante porque trata a vida das pessoas. Um advogado é importante porque garante os direitos das pessoas. Um engenheiro é importante porque constrói coisas para as pessoas. Um trabalhador é importante enquanto produz para a sociedade, isto é, a sua função social perante outras pessoas.

Uma professora, um professor, são importantes porque formam pessoas. Isto é, transformam seres humanos em gente.

17/03/2018

quinta-feira, 15 de março de 2018

2ANAS

Duas Anas de olhos escuros
                    de se perder
Duas Anas de bocas rubras
                    de se beijar

Dois caminhos
Duas rotas
Duas formas
                    de se amar

se eu pudesse uma noutra fundir
e nessa síntese dentro viver
meu corpo seria feliz
sem necessitar escolher
                    em qual olho
                    me perder
                    em qual boca
                    mergulhar

sábado, 24 de fevereiro de 2018

NÃO TE DAREI O MEU CÉU

não não te darei o céu
nem meu corpo
                           para gozar
nem tampouco
minhas costas
                           para montar

não não te darei meu sangue
                              meu sêmen
                              meu suor
                              meu choro
nem tampouco
                              meu pão
                              meu circo
minha solidão

não te darei razão
nem explicação
nem sim nem não
nem meu ódio
nem                        Nada

não te darei o meu céu
nem tampouco o chão
nem tampa
nem cova
mas boca
                         do Cão