segunda-feira, 19 de junho de 2017

CANTILENA: O SONO É MAU

Tive uma lembrança triste
Tal qual eu nem acordasse
O sono é mau quando existe
Esta amargura que insiste
Em molhar a nossa face.

Nessa dor em que me viste,
Minha mãe, em todo prostrado:
Como escorpião cercado
Com o próprio aguilhão em riste
Mira a si, desesperado.

É nessa dor de penado
Tal a vida amargurasse
Como um café que calado
Engulo, frio e vomitado,
E o próprio Sol apagasse.

Assim, minha mãe, encontrado
Fui por teu olhar tristonho.
O sono é mau quando o sonho,
Da vida, é desenganado
Por um sofrer que me imponho.

quinta-feira, 15 de junho de 2017

PUTA AMIGA

Minha puta amiga,
Eu só me lembro de ti quando,
Voltando para casa,
Passando pelas esquinas escuras
Ou mal iluminadas
Da cidade,
Assisto aos trabalhadores parados nelas,
Penteando os cabelos com escovinhas de bolso,
Se embelezando e se perfumando para ti.

O que seria dos trabalhadores sem ti,
Especialista em carinho,
Profissional da solidão?
Máquinas sem alma
Assentadoras de tijolos?
Só tu podes,
Cara puta,
Resgatar nos homens,
E a baixo custo,
O que lhes resta de humanidade.

E ao dividir-lhes
O copo de cerveja
E a cama
Acabas por unir-lhes
O corpo
E a alma.

Eu,
Puta amiga,
Te agradeço.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

SONETO

Mas o poema dos amantes é
O mar que muda tão constante quanto
Somos mutantes. O amor faz maré
          Nos carregando, barco solto. Espanto
          Imenso, incenso em ascensão. Rio morto
          Não possui porto, pois amar sem pranto
É mar sem vento. Enquanto fingem torto
Este vazio amor, quem de vero tem
Um bem querer, acha nenhum conforto
          Em maré baixa. Porém, quando vem
          A onda com as brisas e nos traz o amado
          Sorriso, é só sossego e paz num sem
Fim. Amor é o mar, como está falado
No termo amante, este jamais parado...