segunda-feira, 21 de novembro de 2011

EU NÃO SOUBE AMOR


Eu não soube dizer Amor:
palavras assim que se derramam pelos lábios.
Eu não soube dizer, Amor,
o quanto de mim ecoa de teu soprofundamente teu.

Eu não soube me desfazer, Amor,
das dores desse desviver
de te deixar sumir,
desse recusar-me de viver.
Eu não soube me refazer
Amor, quando as nossas vias ficaram duas,

e eu não soube, Amor,
que caminho tomar
e perdido fiquei
sem saber que era o Amor
o que se desviava de tão perto de mim.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

JAGUNÇO X JAGUNÇO - 4ª parte


Mas qual a essência do ser
Jagunço? Assim, cangaceiro?
Igual todo homem-mulher
Que se vende por dinheiro?

Ou pior: de quem a vida
Vive sem saber escravo,
Que se acha livre e em saída
Co'a mão presa pelo Cravo?

Viver capanga não é
Dar a vida por quem se ama,
Mas dá-la, sem dar por fé,
A quem vida lha derrama.

Viver jagunço é fazer
Sofrer povo seu igual.
Muita gente o é sem saber
Jagunço ao fazer tal qual.

Viver cangaceiro, então?
Brigando co'as volantes
(Sem saber matando o irmão),
Jagunços dos governantes.

O jagunço não se sabe,
Jagunço apenas o seja
E assim um co'outro se acabe
Até que não mais se veja

Homem valente nesta terra.
Aqui últimos vão morrer
Na crueza desta guerra
Por vingança e por poder.

Não lhes digo que acabou
O capanga ou cangaceiro,
Mas apenas terminou
O bom tempo do guerreiro,

Enquanto houver coronel
E o tal partido político,
Terá jagunço ao milhel
Como se fora ser mí(s)tico,

Que ninguém crê existir,
Mas conta as suas estórias,
Muito mais pra divertir,
Do que acender as memórias.

Foi quando, olhe, Zé Tonto
Ficou desmuniciado,
Pra morrer ficou já pronto,
Saltou de facão armado.

Vendo seu imigo assim
Ao fogo desprotegido:
“Deixa que esse é pra mim!”
->Ao duelo prometido!<-

O rifle cedeu ao mandado
De Tõe da Vaca, co'inveja
O fogo ficou calado
Pra ver a bela peleja.

Foi lá, na risca da faca,
Co'a poeira alevantada,
Que Zé Tonto e Tõe da Vaca
Se embolaram na matada.

Foi por que mesmo, meu Deus?
Ofensa de mãe? -> Perdão
Não se dá! <- Ou de um os seus
Bois no outro teve o ladrão?

2 de lâmina na mão
Compridas feita uma espada
Batiam ferro em questão
A turba toda animada.

Corpo gira e a poeira
Sobe a poeira e regira
Corpo sobe corpo gira
E sobe e gira a poeira.

_Home, não posso morrer!,
Tenho o corpo já fechado!,
Vai a mim me proteger
Meu capeta engarrafado!!!

_E eu tenho uma Djaba feme!
O olho de Tõe arregalado,
Seu corpo todo que treme,
Por Tonto foi degolado.

Sangue do Céu não chovia,
Mas o chão ficou banhado,
E som, grito não se ouvia:
Povo todo arrebanhado.

A terra se chupou o suco
Humano e o levou pro rio
E o povo nem fez luto
Pro corpo que ficou frio.

E chegou ao São Francisco,
O sangue de muita gente.
Mas é Santo o São Francisco
Que tem Mundos pela frente.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

VASCO X BOTAFOGO: QUANDO A EFICIÊNCIA (SEMPRE) VENCE OS JOGOS

Dois erros de saída de bola, dois contra-ataques, dois gols. Sem contar dois incríveis salvamentos do melhor goleiro do Brasil - um pênalti e uma defesa a la Banks!-. Este é o resumo da noite de domingo entre Botafogo - completamente fora da briga pelo título agora - e o Vasco.
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Num primeiro momento imaginei que o Vasco jogaria numa espécie de 4-6-0 (4-3-3-0), como o Botafogo de 1989 e a Roma de Spalletti, mas isso não ocorreu. Embora tenha sido difícil realmente de definir a posição de Diego Souza, jogou quase sempre de falso nove, função que não cumpriu bem.
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Pelo lado do Botafogo terrível jogo de Maicosuel, Elkeson, mas principalmente de Cortês, Herrera e Fábio Ferreira, os três responsáveis direto pelos gols.
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Os técnicos já descobriram como parar o Botafogo e se utilizam da mesmíssima estratégia desde a derrota para o Atlético goianiense. Com base em um 4-3-2-1 ou 4-3-1-2, os técnicos adversários montam duas barreiras de frente à área, uma primeira de quatro zagueiros e uma segunda de três volantes. Além disso, deslocam um ponta para as costas de Cortês, aproveitando-se do fato dele subir muito, voltar nunca e Marcelo Mattos não cumprir seu papel de cobertura decentemente, como mostra o campinho abaixo:
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Assim, a grande vantagem da equipe, o dois contra um na extremidade do campo - sobretudo na esquerda - desaparece. Um volante pega o Cortês, o lateral pega Maico/Elkeson, e ainda tem uma sobra de um zagueiro ou um volante pelo meio. O resultado é que eles têm que tocar para o meio e não encontram em quem fazer esse passe. A ausência de um 10 é notória aqui. Elkeson é ponta-esquerda, não ponta-de-lança. Ao pegar a bola ele irá pra cima do adversário, é o que faz, é o que sabe fazer. Mas nesse momento é necessário um passador. Alguém que se aproxime da extremidade para o passe e jogue de primeira e de segunda, no máximo, fazendo assim um 3x2. 
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Se o volante central tentar acompanhá-lo para impedir a superioridade numérica na ponta, abre o meio para a chegada de Renato que teria toda a entrada da área livre para o passe/chute ou, se tivesse a cobertura do terceiro volante, a outra ponta teria um 2x1 do ponta e do lateral contra o lateral adversário.
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Então o que falta, OFENSIVAMENTE, no Botafogo? Um verdadeiro 10 no triângulo central. O homem trazido para a função - Felipe Menezes - não está dando cabo da mesma. Nessas horas muitos sentirão falta de Lúcio Flávio, é o jogo perfeito para ele - e o típico jogo que costumava apagar e sumir de campo -. O Botafogo só conseguiu penetrar duas vezes na área, todas com levantamentos diagonais, e todas no primeiro tempo. Na primeira, Elkeson matou no peito e chutou em cima de Prass, na segunda, Herrera recuou de peito para Prass - vou descontar jogada parecida que Herrera chutou pra fora, ele estava impedido -.
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 Outra solução é a saída imediata de Herrera. Passou a semana inteira reclamando de jogar de ponta. Em torno dos 20 minutos do primeiro tempo, Caio Júnior mudou o esquema do time. De 4-2-3-1 passou a 4-4-2 (vide o campinho abaixo). Herrera jogou onde mais, segundo ele, rende, próximo a Loco Abreu. Não só sumiu do jogo, como o time piorou. A entrada de Caio na direita com seu drible em velocidade melhorou o time, em duas jogadas fez mais que Herrera em dois jogos inteiros, mesmo assim, Caio ainda não é suficiente. O que deve fazer muito botafoguense se perguntar: "E se na direita fosse o Jobson"? 
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É nessas horas que se espera, também, um Prof. Pardal. Mudar o time, qualquer mudança das mais loucas deve dar resultado. Mas o Caio Júnior, que é muito bom tático, ainda é muito deficiente nas mudanças de jogos. Só muda no mais óbvio e quase sempre quando não dá mais tempo. Saiu Marcelo apenas porque se machucou. A mudança de Herrera foi a pior. Só saiu depois do time estar perdendo por dois gols e levar um amarelo. Eu? O adversário tinha um atacante - ou dois, se contarmos o ponta direita como atacante, embora estivesse jogando mais de meia -, PARA QUÊ UMA LINHA DE 4? O óbvio nessa situação seria recuar Marcelo para zaga e liberar de vez Cortês e Lucas - de 4-2-3-1 para 3-3-3-1 -. Evitaria muitas surpresas nas costas dos laterais. Se Mattos machucou, trocasse-o por um zagueiro, Bruno Tiago só não foi pior em campo do que Herrera, Cortês e Fábio Ferreira.
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DEFENSIVAMENTE, onde o Botafogo tem mais errado? Como já foi escrito por mim várias vezes, no sistema de cobertura. Contra times de dois atacantes, como está sendo praxe se jogar contra o Botafogo, não é necessário uma linha de 4 atrás, pode se dar liberdade para Cortês como ele gosta. O problema é fazer a basculação certa. No primeiro gol, notem, os dois laterais estavam na frente ao mesmo tempo - o que não pode acontecer JAMAIS numa linha de 4 -, os volantes estavam sem fazer cobertura dos mesmos - o que não pode acontecer JAMAIS numa linha de 4 -, o Fábio Ferreira saiu jogando como líbero e soltou a bola nos pés do volante adversário - Fábio Ferreira como líbero não pode acontecer JAMAIS -. Daí o contragolpe na ponta-direita, o coitado do Antônio Carlos ficou sozinho contra 4 vascaínos. O jogador mais recuado a chegar no lance foi Lucas, o lateral direito, e o gol foi feito por um volante que chegou ATRÁS de Lucas.
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A basculação deveria ser simples, não entendo como o time continua errando isso, pois até não profissionais da área sabem como funciona (campinho abaixo). Mas, é claro, o maior erro é de Cortês que sai sempre - Lucas normalmente só sobe quando acionado por Renato - e fica parado olhando para ver o que acontece quando perde a bola. Veja na imagem que, se Cortês - ou Lucas - subir, os outros três zagueiros devem ir em direção ao espaço deixado, ou Mattos ir para esquerda, virando um falso lateral, deixando a frente da área para Renato proteger. É bastante simples e básico no futebol.
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Abraços a todos, nos vemos na próxima, SAUDAÇÕES.

sábado, 12 de novembro de 2011

JAGUNÇO X JAGUNÇO - 3º parte


Tudo o que o Credo dizia
Ao contrário Tõe rezava
Negando, e assim desvia
Bala, que o Cão evitava.

A bala zunia e ao chão
Derribava sem apreço,
Sem ver nome ou ilusão,
E foi pra menos de 1/3

A gente que ali lutava
E Zé, que menos gente
Tinha, ele mais se lascava
Pois ia perdendo frente.

E nos motins do Sertão
Quem manda tem o dinheiro
Quem vence tem munição
E quem se fode é o guerreiro

Vivendo e morrendo pela
Vil jagunça condição
Sem ter bênção, óleo, vela
Pra dar sua extremunção.

Cão do Sertão ou homem pobre?
Ensinado no feudal:
Co'alma cavaleiro nobre;
Corpo pelo capital.

Obedecendo o sistema
Jagunço (uma servidão
Inconsciente) se tema
Nada, se não for Sertão,

E nesta luta sangrenta,
Entre estes muitos bandidos,
É a coragem quem enfrenta
Tantos dos grandes perigos.

Os rebeldes primitivos,
Que ali se digladiavam,
Menos para estar vivo,
Mais para quem odiavam

Verem mortos no chão duro.
Todavia o ódio não era
Verdadeiro, feio e puro,
Era da ordem que se dera.

Ontem era amor de irmão,
Mas agora diferente,
Odiar tal Deus ao Cão
E vir bater-se de frente.

Questionar era impossível
A jagunça condição:
Para pensar no vivível
Tinha que ter instrução.

E só sabiam contar
Os bois, as balas e os mortos,
E o nome mal assinar
Em caracteres bem tortos,

Que era pra mó de votar
No coronel/candidato
E pra com suor pagar
O que lhe era descontado

No armazém do patrão.
“Questionar é ficar louco!”
É viver vida do chão
Que isso já é muito pouco.

Atirar é coisa mente,
Não negócio do olhar,
É esquecer de tudo a frente,
Pra poder melhor matar.

É mais fácil coisa a bala,
Mata de frente e em tocaia
Escondido numa vala,
E distância que ela saia

Mata sempre muito mais.
Homem se mede é na esgrima
Frente a frente nos rivais
É assim que o cabra se prima.

De toda a repetição
Tõe só 5 perdia
Era muita munição
Que o Mal lhe servia guia.

O povo ali se comendo
O fogo ali se subindo
O corpo ali se caindo
O morto ali se fazendo.

Um a cabeça estourava
Outro a barriga abria
Um no chão já não rezava
Outro na morte já dormia

Bala, grito, dor e queda,
Carne, sangue, osso, grão corte,
Fuzil, facão, furo e pedra:
Tudo na sorte da morte.

Quando a bala terminava,
Pulava, na mão punhal,
E assim uns 3 já levava
Consigo pro fim-final.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

JAGUNÇO X JAGUNÇO - 2ª parte


Num crime indigno que fez
Matou o chefe e tomou o bando.
E crimes 1, 3, 6, 10
Cometeram sob seu mando.

É colheita de sebaça,
É estupros de mãessenhoras
E das virgens de cabaça,
Pisar no povo co' esporas,

Era assalto, era de-guerra,
Era de guerra fazia.
Maldade que o povo ferra,
Maldade d'alma vazia.

E tudo isto arquitetava,
Trás do bando de Zé Tonto
Que já diziam que estava
Na chefia todo pronto.

E em que parte do Sertão,
O serviço do cangaço
Espalhando eles então
Foram se dar com fogo e aço?

Dizem que foi muito perto
Do rio-pai, o São Francisco,
Mas por todo esse deserto,
Todo lado é São Francisco.

Foram três dias de cerco
Num todo de descampados,
e se na conta não perco,
Foram centos desalmados!

Chovia bala e o Céu não
Chovia, o chão alagado
De sangue, porque no chão
Não se via outro molhado.

Mas é uma triste visão?
Quem já ouviu destes guerreiros-
-Escravos estórias não
Duvida dos verdadeiros

Atos de grande bravura
Cheios de coragem falsa
Que aparece da loucura
Da pólvora-com-cachaça,

E pelo medo do açoite,
Que são tudo que o vaqueiro
Tem. E a solidão da noite
Que na moda do violeiro

Um sonho de liberdade
Vira (pois quem tudo deve:
Farinha, arroz, dignidade,
Nunca tem o sono leve),

Pois a Poesia fica
Sendo a matéria das vidas
Pra quem a vida dedica a
Deixar outras desprovidas.
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Na próxima parte, a guerra entre os jagunços e o combate singular final entre Zé Tonto e Tõe da Vaca, fica para a parte 4!
Espero que estejam gostando! SAUDAÇÕES!!

terça-feira, 8 de novembro de 2011

JAGUNÇO X JAGUNÇO


O texto abaixo, é uma das minhas narrativas em verso no formato de rimance - o termo "cordel" é impreciso e eu não gosto, os próprios poetas antigos do nordeste falavam "folheto", nunca cordel, pois cordel refere-se à corda em que se vendiam os "folhetos de cordel", que a mais das vezes eram vendidos em balaios -, esta é a primeira parte - no texto original não há divisão em partes, mas é muito grande para a publicação em blog na forma original -. ABRAÇOS
Foi lá, na risca da faca,
Co'a poeira alevantada,
Que Zé Tonto e Tõe da Vaca
Se embolaram na matada.

Foi por que mesmo, meu Deus?
Ofensa de mãe? -> Perdão
Não se dá! <- Ou de um os seus
Bois no outro teve o ladrão?

Mas o que se contou lá,
Por aquela época, foi
Que não deixaram matar
Nem pela mãe nem por boi.

Era ordem do chefe-mor:
“Em guerra nunca se briga!”
E os cabras ficam de amor
Fingindo de gente amiga.

Aí nasceu o problema grande:
Podiam na faca justa
Ter limpado o ódio que brande
(Que se escondeu trás da escuta).

E lá, remoendo feio,
Falava Ele de maldades.
O ímpeto quando lhes veio
Era nas obscuridades.

E o ódio que fica encoberto
É muito mais traiçoeiro.
O seu tiro é bem mais certo,
O seu pesar mais certeiro.

E em moita e moita um já via
O outro escondido esperando
– Vida fechada de via –
O bote de cobra armando.

E andando de praia em praia
De cada rio nos caminhos
Sempre esperando a tocaia
Quando se viam sozinhos.

Foi nesses giros de louco
Que o judas do Tõe da Vaca
Resolveu fechar o corpo
Pra que a bala seja fraca.

E vendendo a alma pro Cão
(Três voltas na encruzilhada)
Achou que estava no são
E vencia esta parada.

Só podia lhe ofender
Lâmina feita de prata;
Bala que padre benzer,
Com cruz nela, é só o que o mata.

Foi quando os maus pensamentos
Vieram, ou deu por conta
Deles? Palavras quais ventos:
Furar na da faca ponta.

A bênção, meu São Tinhoso!
O ódio que é meu, é teu agora,
Faz de mim homem famoso
Por todo esse mundo afora.

Sei que o Senhor bem protege
Quem tem o Djabo engarrafado,
Faz ficar rico e se elege
Cabra por ti apadrinhado.

Deu o gole de cachaça
Pro Santo e se dirigiu
Co'os olhos de quem vê caça
Pronde sua mãe o pariu.

Terra de gente bem braba
Que não vive de ameaça,
Pegar o judas, o cabra,
Nem pela última que eu faça.

Meu sangue nos olhos, não
Me engano, é o São Cão em mim,
Me dizendo a via, o chão,
Que vou me dar no meu fim.

Se já no meu corpo o Demo
Se esconde e lá faz desgraça,
A morte eu já não mais temo,
Que vem qual coisa que passa.

Eu sou, pai Demo, fechado,
Eu sou todo protegido,
Meu corpo amaldiçoado
Conhece nenhum perigo.

É o desejo vil, maldoso,
Que me governa, meu Pai,
E maquino o perigoso
Pronde minhalma descai.