sábado, 12 de novembro de 2011

JAGUNÇO X JAGUNÇO - 3º parte


Tudo o que o Credo dizia
Ao contrário Tõe rezava
Negando, e assim desvia
Bala, que o Cão evitava.

A bala zunia e ao chão
Derribava sem apreço,
Sem ver nome ou ilusão,
E foi pra menos de 1/3

A gente que ali lutava
E Zé, que menos gente
Tinha, ele mais se lascava
Pois ia perdendo frente.

E nos motins do Sertão
Quem manda tem o dinheiro
Quem vence tem munição
E quem se fode é o guerreiro

Vivendo e morrendo pela
Vil jagunça condição
Sem ter bênção, óleo, vela
Pra dar sua extremunção.

Cão do Sertão ou homem pobre?
Ensinado no feudal:
Co'alma cavaleiro nobre;
Corpo pelo capital.

Obedecendo o sistema
Jagunço (uma servidão
Inconsciente) se tema
Nada, se não for Sertão,

E nesta luta sangrenta,
Entre estes muitos bandidos,
É a coragem quem enfrenta
Tantos dos grandes perigos.

Os rebeldes primitivos,
Que ali se digladiavam,
Menos para estar vivo,
Mais para quem odiavam

Verem mortos no chão duro.
Todavia o ódio não era
Verdadeiro, feio e puro,
Era da ordem que se dera.

Ontem era amor de irmão,
Mas agora diferente,
Odiar tal Deus ao Cão
E vir bater-se de frente.

Questionar era impossível
A jagunça condição:
Para pensar no vivível
Tinha que ter instrução.

E só sabiam contar
Os bois, as balas e os mortos,
E o nome mal assinar
Em caracteres bem tortos,

Que era pra mó de votar
No coronel/candidato
E pra com suor pagar
O que lhe era descontado

No armazém do patrão.
“Questionar é ficar louco!”
É viver vida do chão
Que isso já é muito pouco.

Atirar é coisa mente,
Não negócio do olhar,
É esquecer de tudo a frente,
Pra poder melhor matar.

É mais fácil coisa a bala,
Mata de frente e em tocaia
Escondido numa vala,
E distância que ela saia

Mata sempre muito mais.
Homem se mede é na esgrima
Frente a frente nos rivais
É assim que o cabra se prima.

De toda a repetição
Tõe só 5 perdia
Era muita munição
Que o Mal lhe servia guia.

O povo ali se comendo
O fogo ali se subindo
O corpo ali se caindo
O morto ali se fazendo.

Um a cabeça estourava
Outro a barriga abria
Um no chão já não rezava
Outro na morte já dormia

Bala, grito, dor e queda,
Carne, sangue, osso, grão corte,
Fuzil, facão, furo e pedra:
Tudo na sorte da morte.

Quando a bala terminava,
Pulava, na mão punhal,
E assim uns 3 já levava
Consigo pro fim-final.

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