sábado, 24 de dezembro de 2011

MENSAGEM NATALINA


À todos os meus amigos e conhecidos da vida real.

À todos os meus amigos e conhecidos da vida virtual.

À todos os meus alunos e ex-alunos com quem interajo por esta ferramenta.

À todos vocês:

a PAZ.

Jesus não nasceu em Dezembro.

Muito menos em Belém (ele é Nazareno, lembram, não Belenense).

São Nicolau (o Santo mais importante e reverenciado das Igrejas Católicas Ortodoxas) virou um palhaço de vermelho que na verdade encarna o espírito do consumismo (vale lembrar: o dia de São Nicolau foi 23 de Dezembro).

Mas, E DAÍ?

Se há pelo menos um dia para celebrarmos a graça de sermos seres humanos,

A dádiva de acreditarmos numa Salvação e num Salvador,

A alegria de estarmos vivos em comunhão,

O prazer de doar virtudes e receber felicidade,

Então que seja este dia qualquer dia, esta hora qualquer hora, este momento qualquer momento, esta celebração qualquer celebração.

E que meu abraço abarque a todos nesta celebração da Irmandade Humana, da sublimação da carne e do enlevo do Espírito.

Se você é Cristão, então é seu aniversário também.

Se você não é, mas é um Irmão-Humano - Humanirmão -, é seu aniversário também.

É nosso, celebremos a Gratidão de estarmos vivos, a Esperança da Comunhão, a Fé no Após: A PAZ.

MESSACRE: PARTE II: A Análise

1.      Introdução
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Antes de qualquer coisa, quero fazer o mea culpa pela demora desta segunda parte que vai. Dezembro é um mês cheiíssimo para a minha profissão (professor): são provas bimestrais, provas finais, reuniões pedagógicas antes e depois destas últimas; alunos chorando em súplicas, pais chorando em súplicas, alunos ameaçando, pais ameaçando... mas esse texto não é sobre as questões educacionais públicas brasileiras.
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Tampouco ater-me-ei simplesmente à devastação futebolística da final do mundial de clubes – partida tão importante para os blaugrana que os próprios jogadores do time decidiram não ganhar o “bicho” do título, como não ganham por outros títulos “sem importância”, como as Recopas e Supercopas que vencem –. Para tal intuito indico diretamente o texto do Zonal Marking, o melhor que li sobre o jogo. 
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Minha abordagem procurará ser outra: tentar compreender que revoluções nas práticas e nas táticas o “messecre” culé implicará para o futebol mundial, e sobretudo brasileiro; tomando também como perspectiva a vitória anterior sobre o Real Madrid de Mourinho.
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A primeira parte será encontrada aqui.
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2.      Dupla-Tripla-Quádrupla Função
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A questão fundamental da escola holandesa de futebol total que o Barcelona prega e pratica até hoje – que Josep Guardiola aprendeu diretamente de Cruyff, que chegara na Cataluña junto com Rinus Michels no fim dos anos 70 para implantar o estilo que fizera sucesso na Europa no início dessa mesma década no Ájax e na seleção laranja –, é a inversão de posições verticalmente: o lateral vira ponta e o ponta vira lateral, ou o centro-avante vira meia e o meia vira centro-avante, por exemplo. É isto que se convém chamar de “carrossel holandês”.
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Essa troca de posições só é possível se todos os jogadores nela envolvidos souberem o que fazer na nova posição em que se encontram. Isso obriga que os jogadores tenham, no mínimo dupla-função, isto é, sejam atacantes e meias, ao mesmo tempo, ou laterais e meias ao mesmo tempo, zagueiro e volantes, zagueiros e laterais, laterais e volantes, etc. etc. etc.
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2.1  Cesc Fábregas chega às mãos de Guardiola
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Francesc Fábregas saiu das canteras do Barça e foi direto para às mãos de Arsene Wenger, no Arsenal. Lá começou como um segundo volante tipo Box-to-box no 4-4-2/4-5-1 de Wenger, com Bergkamp fazendo a função de 9,5, como se diz na Itália e na França. Isto é, um trequartista adaptado à função de second striker – é só lembrar de Roberto Baggio, Alessandro Del Piero e tantos outros –.
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Depois da saída do holandês, Fábregas foi adaptado à ponta-de-lança. Nas mãos de Arsene, o jovem espanhol desempenhara já estas funções. Chegando, enfim, de volta ao Barcelona, Cesc foi logo posto na “função Messi”, ou falso nove. Isso era necessário porque a principal necessidade da contratação do 4 foi aumentar a qualidade do “banco”. Jogando com pressão alta sobre a bola o tempo inteiro, o treinador tem que rodar a equipe, sobretudo as duas últimas linhas – meias e atacantes –.
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Com Messi em campo, Fábregas jogou de ponta-de-lança no losango do 3-4-3 de Guardiola – desdobrado em 3-1-3-3 –, com Xavi à sua direita e Iniesta ou Thiago Alcântara à sua esquerda. Sem David Villa, normalmente Iniesta joga de ponta-esquerda, mas com o 8 machucado, Guardiola arrumou mais uma quarta função para Cesc: também a ponta-extrema – a utilização do mesmo na ponta-direita contra o Santos vou considerar como mesma função, mas se o leitor preferir, pode considerá-la uma quinta –.
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Contra o Real Madrid, num inusitado 4-4-2, Fábregas foi o winger-esquerdo, invertendo com Iniesta, o meia-central; contra o Santos, numa espécie de 3-1-4-2 – ou como eu prefiro ver, um 3-1-5-1 – o 4 foi um meia-central que invertia com winger-direito Dani Alves.
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Percebe-se então uma certa coerência de Guardiola. Sua escolha por contratar jogadores inteligentes, com histórico de múltiplas funções em times anteriores, reflete diretamente o pensamento culé de formar na base futebolistas totais, jogadores capazes de inverter posições e manter o carrossel rodando.
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2.2  Sérgio Busquets e o esquema 3,5 – 3,5 – 2,5
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Messi é gênio (poucos contestarão?). Xavi, Iniesta, Fábregas são craques entre os melhores do mundo hoje. Mesmo assim, com qualidades individuais tão gritantes à sua frente, o elemento tático que vêm chamando mais atenção nos últimos tempos é Sérgio Busquets.
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Busquets é reconhecidamente o metrônomo do time, marcando a perfeição do seu tempo, é a base da troca de passes do time. Ora, se estamos diante dum “carrossel”, ele só gira – tal qualquer roda ou móvel, como bem já observara Aristóteles – a partir de um eixo fixo. Este eixo é Busquets. Entre todas as receitas que se colocam de “como parar o Barcelona”, todas começam com: “parem Busquets”. 
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Daí observar de perto as funções deste “volante”. Na temporada 10-11, diante de tantos times com apenas um atacante, o 4-3-3 barcelonista se transformava num ancestral WW(2-3-2-3), esquema tático com o qual a Itália foi bicampeã do mundo (1934-38). Diante de um ataque de dois atacantes fixos Guardiola mandava o 16 fazer o que eu gosto de chamar de “jeitinho brasileiro”: o nosso jeito de transformar o 4-3-1-2 em 3-4-1-2. Os laterais viram alas e o primeiro volante vira terceiro zagueiro – o “sobra” –.
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Porém não posso comparar Busquets aos volantes médios brasileiros. Pode parecer exagero, mas a comparação mais clara seria com Kaiser Franz Beckenbauer. O único homem a comparecer na seleção ideal de três copas FIFA seguidas, começou como volante do 4-2-4 germânico e acabou como quarto zagueiro do 4-3-3 do time campeão do mundo em 1974. Na verdade, sua função ficou conhecida como líbero. Com a posse de bola, Beckenbauer tinha total liberdade de avançar ao meio de campo e iniciar as jogadas, controlar a posse de bola, estabelecer a linha de passes.
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Já no Barcelona, com a volta de Abdal à equipe depois de curar-se de uma doença gravíssima, os catalães puderam formar seu 3-4-3 mais devidamente, já que o francês faz a base para dar total liberdade para Daniel Alves. Parecia desnecessário, então, que Busquets precisasse voltar a descer para a zaga.
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Parecia. Contrariando todos os prognósticos, Mourinho botou o Real Madrid num 4-2-3-1 para enfrentar o Barcelona, quando todos esperavam um 4-3-3. Com isso, numa só tacada, o treinador português tirava o tempo de Busquets com a bola e matava a defesa azul-grená que não tinha sobra. Como Guardiola responderia a isso? Eu, assistindo ao jogo, logo reclamei: “tem que recuar Dani Alves de volta à defesa”! Mas Pep mantém Dani adiantado e recua Busquets. Sem a bola, Busquets era zagueiro (compondo a sobra defensiva), com ela podia adiantar-se, jogando no meio-campo, reiniciando a linha de passe.
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Com a bola o time, por causa da dupla função de Busquets, configurava-se num 3-4-3, sem ela num 4-3-3. Poder-se-ia dizer, então, que o Barça joga com uma linha de 3,5 atrás e com 3,5 no meio, dependendo apenas donde jogaria Sérgio.
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E como Messi é na verdade um falso nove – só é centro-avante quando o time está sem a bola, e com ela torna-se praticamente um enganche –, não é bem um 4-3-3, e sim um 4-3,5-2,5!!! Se bem que, contra o Santos, o ponta-direita (Fábregas) descia e invertia com o meia-direita (Alves), o ponta-esquerda (Thiago) descia e invertia com o meia-esquerda (Iniesta), Messi invertia com Xavi, e nessas alturas já se esquecia quem era quem neste mundo bicolor.
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Se a “função Busquets” virar tendência, como o falso nove, não haveria lugar no mundo com jogadores que melhor se adaptem às características desse “falso cinco” – ou líbero – do que o Brasil, tão repleto de cabeças-de-área (e de bagre), com volantes que sabem virar o “sobra” como ninguém (e daí só faltaria alguém para ensiná-los a dar passes e comandar a posse de bola de todo o time para poderem ser chamados de líberos).
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3.      Guardiola: entre a retranca fascinante e invencionices revolucionárias
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Pep Guardiola é um professor pardal. Este é o ponto mais importante em se observar taticamente neste Barcelona: suas invenções táticas. O elenco é praticamente o mesmo da época de Frank Rijkaard, que montou uma equipe incrível: bicampeã espanhola, campeã da UEFA Champions League – doravante UCL –, com a estrela do time ganhando seguidamente o título de melhor do mundo, aplausos por todo o planeta.
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Mas logo no primeiro ano no comando da sua equipe, Guardiola ganhou tudo, baseado na sua covardia ativa e na retranca linda e fascinante que montou.
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Sem homens fortes ou grandes defensores para o meio, Guardiola montou a sua defesa com pressão alta sobre a bola, e depois na sua posse absoluta. Todos correm para retomar a bola. Com ela, iniciam trocas de passes incessantes, o chamado tik-taka. Novidade? Nenhuma. Pressão alta sobre a bola e a posse da mesma baseada na troca de passes é o fundamento do futebol do Arsenal de Wenger – que inclusive cunhou o termo que melhor caracteriza essa possa de bola de mais de 60%: “posse estéril”, isto é, tem-se a bola só por tê-la, sem nenhuma outra intenção de criar jogadas ou marcar gols –.
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A posse estéril, portanto, não é uma atitude ofensiva, pelo contrário. É uma forma PRÓ-ATIVA de se defender. O que Arsene e, principalmente, Guardiola se propunham não é recuar e montar barricadas em frente às suas áreas, mas ficar com a bola o máximo de tempo possível, seguindo uma teoria bem simples: se a bola está com você então o seu adversário não está com ela, e, portanto, não pode atacá-lo. É simples assim. Mas só é simples na teoria, na prática nada mais complicado, nem mais complexo.
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Hoje, com apenas três anos da “era-Guardiola”, todos procuram emular estas duas características defensivas do Barça. Uns com melhores (sobretudo aqueles que entendem que a posse estéril é uma característica defensiva), outros com piores resultados. Alguns já até desistiram e tentam uma via alternativa – e só de imaginar uma alternativa para uma opção que nem existia há cinco anos atrás é de assustar –.
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Mas não foram nem Guardiola nem Wenger que inventaram isso. Pressão alta sobre a bola e o controle da sua posse eram o fundamento do Dream Team do Barcelona com Cruyff de técnico e Pep como jogador, e também do grande Milan de Arrigo Sacchi – o último time bicampeão da UCL –.
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O que estes quatro times – e consequentemente os quatro técnicos – têm em comum? Todos se baseiam nos ideais do Ájax e da seleção holandesa da primeira metade da década de 70.
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É da formatação destas equipes holandesas que também vem a segunda invencionice revolucionária de Guardiola: o falso nove. A “função Messi” virou febre, mas nem todos os treinadores conseguiram um jogador capaz de se encaixar nessa função. Guardiola “inventou” essa função para La Pulga a fim de surpreender o grande Sir Alex Fergusson, na final da UCL de 2009, que entrou com Ronaldo de centro-avante, montando-se praticamente num 4-6-0, seu esquema, na época, para “jogos grandes”, muito comum na Inglaterra, enquanto Guardiola botou Messi de centro-avante, recuando para armar, desmontando, assim, todo o desenho defensivo do Manchester United.
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Novamente Pep remontava ao Ájax, à Holanda e ao Barcelona que tinham Cruyff de centro-avante. O 14 fazia justamente a função de falso nove, sem a bola, jogava no alto do campo, com ela poderia vir até a linha de volantes para receber e articular o time.
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Também podemos remontar a décadas antes. A Hungria e o Honved de Puskas, Czibor e Kocsis. Hidegkuti era o falso nove. Puskas e Kocsis, os dois meias do WM (3-2-2-3) húngaro, viravam atacantes; os pontas Czibor e Toth recuavam e viravam meias: inversão vertical, com já dissera, é a base do carrossel holandês – que foi pioneiro, realmente, na pressão sobre a bola e na compactação total do time no menor espaço possível –. O falso nove, por sua vez, remonta a Sindelar do Wunderteam – seleção da Áustria de 1934 –. Inversões de posições que remonta ao Dínamo de Moscow da década de 1940.
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A grande modernidade de Pep Guardiola tem sido de adaptar as grandes revoluções táticas DA EUROPA ao mundo do futebol moderno, cuja preparação física é primordial. E a preparação física do Barcelona é incrível: por ter sido o “primeiro” a propor este tipo de jogo, ele saiu na frente da preparação física adaptada a este fim, e com peças de reposição à altura. Todos os times que tentam se impor contra o Barcelona no seu mesmo jogo, até conseguem se manter no mesmo nível por 30 minutos, um tempo completo, mas depois cansam e acabam por ceder terreno e posse de bola aos blaugrana.
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Por isso também não se pode comparar o futebol barcelonista com o futebol brasileiro “clássico”. Sempre houve a troca de passes no Brasil, mas a escola sulamericana é de investida, do drible, do um-dois. Nossa posse sempre foi objetiva, procuramos espaços para a infiltração, não para matar o tempo do jogo. Tampouco pode-se sonhar em estabelecer um novo Barcelona na seleção argentina só porque eles têm Messi. O toco-e-me-voy platino é futebol sulamericano, toco e vou, toco e vou: quero receber na frente para concluir. O tik-taka é o oposto disso: a bola vai e volta, vai e volta, vai e volta.
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O Barcelona é a apoteose da Escola Danúbia. Escola que, apesar do nome, começou na Escócia, no Queens Park – não o Rangers que hoje joga a Premier League –, mas frutificou com maior força na Hungria, na Áustria e na Rússia – países pós-Danúbio –. A ligação dos culé com essa escola remonta a ANTES da chegada de Cruyff, da época em que parte do time do Honved e da seleção húngara aportou por lá, como Kocsis – a outra parte, como Puskas, foi para o Real Madrid, mas a maioria permaneceu no país –. Ainda podemos ver ecos dessa escola também na Holanda, na França – em pequena parte, mas influenciou fortemente nomes como Arsene Wenger – e na Alemanha – que absorveu a Áustria, o seu time, os seus craques, e a sua maneira de jogar, somando-a a sua eficiência já conhecida, quando Hitler anexou este país ao terceiro Reich –.
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4.       Conclusão
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Um, dois jogos. Tantas revoluções táticas. Não me admirará no início do ano que vem, que tanto Guardiola, quanto Messi recebam os prêmios de melhores do mundo. A dúvida fica de quando este time parará. O Milan de Arrigo Sacchi, o Dream Team de Cruyff, duraram o quê, três, quatro anos?
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A dominação do Ájax e da Bayern na década de 70 durou também uns quatro anos. O Botafogo de Garrincha, o Flamengo de Zico, dominaram por uns quatro anos também. Santos de Pelé dominou por em torno de uma década.
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O Barcelona de Guardiola e Messi dominará por quanto mais tempo o cenário mundial?




domingo, 18 de dezembro de 2011

MESSACRE - parte I: A crônica

Para o leitor e pensa comigo: não haveria trocadilho mais infame para idolatrar a mais brilhante de todas? Fico eu sem resposta, já cunhara um "messianismo" quase 8 meses atrás. Defeito meu, defeito meu, que não me reinvento como Guardiola inventa reinventa tresinventa coisas e mais coisas, para que tudo fique no mesmo: Barcelona tem a bola, Barcelona faz gols, Barcelona brilha, Barcelona encanta, Barcelona, Barcelona, Barcelona, Barcelona, Barcelona, Barcelona, Barcelona, Barcelona, Barcelona, Barcelona, Santos, Barcelona, Barcelona, Barcelona, Barcelona,  Santos, Barcelona,  Santos, Barcelona, Barcelona, Barcelona, Barcelona, Barcelona, Barcelona,  Santos, Barcelona, Barcelona, Barcelona, Barcelona, Barcelona, Barcelona, Barcelona,  Santos, Barcelona,  Santos, Barcelona, Santos, Barcelona,  Santos, Barcelona,  Santos, Barcelona, Barcelona,  Santos, Barcelona, Barcelona, Santos, Barcelona, Barcelona, Santos, Barcelona, Barcelona, Santos, Barcelona, Santos, Barcelona, Santos, Barcelona,  Santos, Barcelona, Santos, Santos, Santos, Barcelona, Barcelona, Santos, Barcelona, Santos, Barcelona, Barcelona, Santos, Barcelona, Santos, Barcelona, Barcelona, Barcelona, Barcelona, Santos, Santos, Barcelona, Barcelona, Santos, Barcelona, Barcelona, Santos, Barcelona...
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Isso mesmo, leitor, isso mesmo. Fora esta a proporção de posse de bola. Em torno de 70% em favor dos culé. Dá pra ver em uma única olhadela - sim, eu sei que você pulou - a palavra Santos encrustada no meio? Mas ela está lá, escondidinha, não ela, ELAS. Na mesma proporção de posse de Santos... Como perceber uma palavrinha num oceano de tantas mesmas coisas?
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Como perceber um futebol medíocre e incompetente no meio de tanta coisa magnífica?
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Se espantará com os adjetivos? Ora, o que fizera o Santos nos últimos seis meses? Treinos de luxo na 5º liga mais valiosa do mundo e a mais competitiva - e com a derrota do Santos prova-se de vez que é competitiva sim, mas é nivelada por baixo -, sem nenhuma pretensão de grandes nadas... O que fizera o Santos nas últimas três semanas? DESCANSOU a equipe titular, abdicando, ATÉ de jogar o último jogo do brasileirão!!!
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Descansou pra quê, se não correu? Treinou tanto pra quê, se não jogou?
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Santos covardia e apatia. Muricy PROVOU que seu estilo funciona quando a competição está nivelada pra baixo. Quando ninguém quer ganhar - temendo, na verdade o RESULTADO derrota -, Muricy Ramalho é gênio. Mas contra quem quer vencer e vencer bem e vencer sempre e vencer belo? Muricy é o quê. Treinador nota 10 no Brasil?
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A derrota era esperada. A ausência de futebol não. 
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O Santos é enorme por natureza. O barça é fenomenal, tem Messi, tem Xavi, tem Iniesta e Fábregas - os grandes, próximos a gênios deste time composta pela maioria absoluta de acimas da média -, mas não chega aos pés do time que tinha Mengálvio, Coutinho, Pepe, e um monstro incompreensível e inenarrável chamado Pelé.
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O Santos, portanto, merecia mais, mas muriceu o messacre.
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E vou terminando, antes que enfileire outra epifânica mediocridade linguística, e me iguale a um certo gênio de fora das quatro linhas...
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Leia aqui a segunda parte.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A CONSTRUÇÃO DO IMPOSSÍVEL


Em pouco mais de 24 horas o atual time do Santos enfrentará o jogo de sua vida: final do mundial de clubes contra o já mítico time do Barcelona. Todos os jogadores, comissão técnica e torcedores estão voltados para este confronto. Para dois indivíduos, no entanto, este embate é crucial.
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Para Neymar é a chance de provar que já é um world class. Que pode ser colocado no mesmo patamar de Messi, Cristiano Ronaldo, Xavi – e hoje, pelo que está fazendo em campo pelo combalido time do Arsenal, Robin van Persie –.
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Para Muricy Ramalho, é a chance de mostrar que é um dos melhores técnicos do mundo. Ganhou 3 ligas nacionais – uma das top 5 da FIFA – seguidas, além de uma Copa Libertadores, a única competição com o mesmo nível – pelo menos de importância – da UEFA Champions League.
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Estranhamente, talvez aquilo que possa mais dar certo contra o futebol total catalão – herdado diretamente da dupla Michels-Cruyff pelo jovem Guardiola – é o anti-futebol do técnico santista, alcunhado tão oportunamente de Muricybol.
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Uma retranca fortíssima com o máximo possível de jogadores; saída em velocidade extrema nos contra-ataques; aposta na individualidade; chutões da defesa para o ataque atrás da ligação direta – na esperança que o centro-avante segure a bola na frente –; ênfase na bola parada. Esta é a receita do Muricybol, e talvez o que mais funcione contra o Barca. Sobretudo pela ausência de força física do time de Guardiola.
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Os bleugranas não são perfeitos, como muitos imaginam. A ausência de uma força física e potencial aéreo no time são notórios. Contudo, numa equipe tão talentosa e tão bem sincronizada, são prescindíveis. Mas foi na bola parada para a cabeçada do zagueiro Thiago Silva que o Milan empatou no primeiro jogo da Champions e quase repetiu a dose no jogo de volta. Este é o preço que o Barça paga para estar recheado de atletas extremamente habilidosos e rápidos. Quanto mais baixos os jogadores, mais hábeis são – tem tudo a ver com o centro de gravidade mais baixo –, quanto mais leves, mais rápidos. É uma soma básica. Raros são os Zidanes e os Ronaldos que conseguiam conciliar altura e força com habilidade.
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E uma coisa que o Santos tem é zagueiro alto. Outro somatório é um técnico especialista em preparar jogadas de bolas paradas – por muitas décadas no Brasil acreditava-se que treinador era pra orientar o posicionamento da defesa e inventar jogadas de bola parada, e deu seus resultados –.
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O contra-ataque em velocidade, contudo, é o item mais importante nesta receita. Foi assim que o Arsenal bateu o Barcelona no início do ano no Emirates Stadium. Foi somando uma defesa sólida, uma jogada de velocidade de Di Maria sobre Dani Alves com um conseqüente cruzamento perfeito para a cabeçada não menos perfeita de Ronaldo, que o Real Madrid bateu o Barcelona pelo título da Copa do Rei de Espanha.
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E o mais importante. NÃO HÁ JOGO DE VOLTA. O Arsenal até venceu em casa o Barça, mas como segurar o ímpeto do time azul-grená na volta? Não segurou. Jogo único. Se Muricy não levar gol, pode tentar ser campeão nos pênaltis. Os santistas seriam os mais felizes da Terra e o mundo ficaria um pouco mais triste, pois a covardia e o não futebol teria batido o que há de melhor no esporte.
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Só resta torcer para que SE o Santos vencer, seja – mesmo na receita de Muricy – no talento de Neymar. Ramalho sempre apostou nos embates individuais – Messi provavelmente terá DOIS MARCADORES INDIVIDUAIS, um volante, caso La Pulga desça para o meio-campo, e um zagueiro, quando estiver jogando de centro-avante –, que aposte também na individualidade de Ganso e Neymar sobre os seus adversários. 

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

EU NÃO SOUBE AMOR


Eu não soube dizer Amor:
palavras assim que se derramam pelos lábios.
Eu não soube dizer, Amor,
o quanto de mim ecoa de teu soprofundamente teu.

Eu não soube me desfazer, Amor,
das dores desse desviver
de te deixar sumir,
desse recusar-me de viver.
Eu não soube me refazer
Amor, quando as nossas vias ficaram duas,

e eu não soube, Amor,
que caminho tomar
e perdido fiquei
sem saber que era o Amor
o que se desviava de tão perto de mim.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

JAGUNÇO X JAGUNÇO - 4ª parte


Mas qual a essência do ser
Jagunço? Assim, cangaceiro?
Igual todo homem-mulher
Que se vende por dinheiro?

Ou pior: de quem a vida
Vive sem saber escravo,
Que se acha livre e em saída
Co'a mão presa pelo Cravo?

Viver capanga não é
Dar a vida por quem se ama,
Mas dá-la, sem dar por fé,
A quem vida lha derrama.

Viver jagunço é fazer
Sofrer povo seu igual.
Muita gente o é sem saber
Jagunço ao fazer tal qual.

Viver cangaceiro, então?
Brigando co'as volantes
(Sem saber matando o irmão),
Jagunços dos governantes.

O jagunço não se sabe,
Jagunço apenas o seja
E assim um co'outro se acabe
Até que não mais se veja

Homem valente nesta terra.
Aqui últimos vão morrer
Na crueza desta guerra
Por vingança e por poder.

Não lhes digo que acabou
O capanga ou cangaceiro,
Mas apenas terminou
O bom tempo do guerreiro,

Enquanto houver coronel
E o tal partido político,
Terá jagunço ao milhel
Como se fora ser mí(s)tico,

Que ninguém crê existir,
Mas conta as suas estórias,
Muito mais pra divertir,
Do que acender as memórias.

Foi quando, olhe, Zé Tonto
Ficou desmuniciado,
Pra morrer ficou já pronto,
Saltou de facão armado.

Vendo seu imigo assim
Ao fogo desprotegido:
“Deixa que esse é pra mim!”
->Ao duelo prometido!<-

O rifle cedeu ao mandado
De Tõe da Vaca, co'inveja
O fogo ficou calado
Pra ver a bela peleja.

Foi lá, na risca da faca,
Co'a poeira alevantada,
Que Zé Tonto e Tõe da Vaca
Se embolaram na matada.

Foi por que mesmo, meu Deus?
Ofensa de mãe? -> Perdão
Não se dá! <- Ou de um os seus
Bois no outro teve o ladrão?

2 de lâmina na mão
Compridas feita uma espada
Batiam ferro em questão
A turba toda animada.

Corpo gira e a poeira
Sobe a poeira e regira
Corpo sobe corpo gira
E sobe e gira a poeira.

_Home, não posso morrer!,
Tenho o corpo já fechado!,
Vai a mim me proteger
Meu capeta engarrafado!!!

_E eu tenho uma Djaba feme!
O olho de Tõe arregalado,
Seu corpo todo que treme,
Por Tonto foi degolado.

Sangue do Céu não chovia,
Mas o chão ficou banhado,
E som, grito não se ouvia:
Povo todo arrebanhado.

A terra se chupou o suco
Humano e o levou pro rio
E o povo nem fez luto
Pro corpo que ficou frio.

E chegou ao São Francisco,
O sangue de muita gente.
Mas é Santo o São Francisco
Que tem Mundos pela frente.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

VASCO X BOTAFOGO: QUANDO A EFICIÊNCIA (SEMPRE) VENCE OS JOGOS

Dois erros de saída de bola, dois contra-ataques, dois gols. Sem contar dois incríveis salvamentos do melhor goleiro do Brasil - um pênalti e uma defesa a la Banks!-. Este é o resumo da noite de domingo entre Botafogo - completamente fora da briga pelo título agora - e o Vasco.
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Num primeiro momento imaginei que o Vasco jogaria numa espécie de 4-6-0 (4-3-3-0), como o Botafogo de 1989 e a Roma de Spalletti, mas isso não ocorreu. Embora tenha sido difícil realmente de definir a posição de Diego Souza, jogou quase sempre de falso nove, função que não cumpriu bem.
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Pelo lado do Botafogo terrível jogo de Maicosuel, Elkeson, mas principalmente de Cortês, Herrera e Fábio Ferreira, os três responsáveis direto pelos gols.
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Os técnicos já descobriram como parar o Botafogo e se utilizam da mesmíssima estratégia desde a derrota para o Atlético goianiense. Com base em um 4-3-2-1 ou 4-3-1-2, os técnicos adversários montam duas barreiras de frente à área, uma primeira de quatro zagueiros e uma segunda de três volantes. Além disso, deslocam um ponta para as costas de Cortês, aproveitando-se do fato dele subir muito, voltar nunca e Marcelo Mattos não cumprir seu papel de cobertura decentemente, como mostra o campinho abaixo:
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Assim, a grande vantagem da equipe, o dois contra um na extremidade do campo - sobretudo na esquerda - desaparece. Um volante pega o Cortês, o lateral pega Maico/Elkeson, e ainda tem uma sobra de um zagueiro ou um volante pelo meio. O resultado é que eles têm que tocar para o meio e não encontram em quem fazer esse passe. A ausência de um 10 é notória aqui. Elkeson é ponta-esquerda, não ponta-de-lança. Ao pegar a bola ele irá pra cima do adversário, é o que faz, é o que sabe fazer. Mas nesse momento é necessário um passador. Alguém que se aproxime da extremidade para o passe e jogue de primeira e de segunda, no máximo, fazendo assim um 3x2. 
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Se o volante central tentar acompanhá-lo para impedir a superioridade numérica na ponta, abre o meio para a chegada de Renato que teria toda a entrada da área livre para o passe/chute ou, se tivesse a cobertura do terceiro volante, a outra ponta teria um 2x1 do ponta e do lateral contra o lateral adversário.
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Então o que falta, OFENSIVAMENTE, no Botafogo? Um verdadeiro 10 no triângulo central. O homem trazido para a função - Felipe Menezes - não está dando cabo da mesma. Nessas horas muitos sentirão falta de Lúcio Flávio, é o jogo perfeito para ele - e o típico jogo que costumava apagar e sumir de campo -. O Botafogo só conseguiu penetrar duas vezes na área, todas com levantamentos diagonais, e todas no primeiro tempo. Na primeira, Elkeson matou no peito e chutou em cima de Prass, na segunda, Herrera recuou de peito para Prass - vou descontar jogada parecida que Herrera chutou pra fora, ele estava impedido -.
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 Outra solução é a saída imediata de Herrera. Passou a semana inteira reclamando de jogar de ponta. Em torno dos 20 minutos do primeiro tempo, Caio Júnior mudou o esquema do time. De 4-2-3-1 passou a 4-4-2 (vide o campinho abaixo). Herrera jogou onde mais, segundo ele, rende, próximo a Loco Abreu. Não só sumiu do jogo, como o time piorou. A entrada de Caio na direita com seu drible em velocidade melhorou o time, em duas jogadas fez mais que Herrera em dois jogos inteiros, mesmo assim, Caio ainda não é suficiente. O que deve fazer muito botafoguense se perguntar: "E se na direita fosse o Jobson"? 
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É nessas horas que se espera, também, um Prof. Pardal. Mudar o time, qualquer mudança das mais loucas deve dar resultado. Mas o Caio Júnior, que é muito bom tático, ainda é muito deficiente nas mudanças de jogos. Só muda no mais óbvio e quase sempre quando não dá mais tempo. Saiu Marcelo apenas porque se machucou. A mudança de Herrera foi a pior. Só saiu depois do time estar perdendo por dois gols e levar um amarelo. Eu? O adversário tinha um atacante - ou dois, se contarmos o ponta direita como atacante, embora estivesse jogando mais de meia -, PARA QUÊ UMA LINHA DE 4? O óbvio nessa situação seria recuar Marcelo para zaga e liberar de vez Cortês e Lucas - de 4-2-3-1 para 3-3-3-1 -. Evitaria muitas surpresas nas costas dos laterais. Se Mattos machucou, trocasse-o por um zagueiro, Bruno Tiago só não foi pior em campo do que Herrera, Cortês e Fábio Ferreira.
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DEFENSIVAMENTE, onde o Botafogo tem mais errado? Como já foi escrito por mim várias vezes, no sistema de cobertura. Contra times de dois atacantes, como está sendo praxe se jogar contra o Botafogo, não é necessário uma linha de 4 atrás, pode se dar liberdade para Cortês como ele gosta. O problema é fazer a basculação certa. No primeiro gol, notem, os dois laterais estavam na frente ao mesmo tempo - o que não pode acontecer JAMAIS numa linha de 4 -, os volantes estavam sem fazer cobertura dos mesmos - o que não pode acontecer JAMAIS numa linha de 4 -, o Fábio Ferreira saiu jogando como líbero e soltou a bola nos pés do volante adversário - Fábio Ferreira como líbero não pode acontecer JAMAIS -. Daí o contragolpe na ponta-direita, o coitado do Antônio Carlos ficou sozinho contra 4 vascaínos. O jogador mais recuado a chegar no lance foi Lucas, o lateral direito, e o gol foi feito por um volante que chegou ATRÁS de Lucas.
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A basculação deveria ser simples, não entendo como o time continua errando isso, pois até não profissionais da área sabem como funciona (campinho abaixo). Mas, é claro, o maior erro é de Cortês que sai sempre - Lucas normalmente só sobe quando acionado por Renato - e fica parado olhando para ver o que acontece quando perde a bola. Veja na imagem que, se Cortês - ou Lucas - subir, os outros três zagueiros devem ir em direção ao espaço deixado, ou Mattos ir para esquerda, virando um falso lateral, deixando a frente da área para Renato proteger. É bastante simples e básico no futebol.
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Abraços a todos, nos vemos na próxima, SAUDAÇÕES.

sábado, 12 de novembro de 2011

JAGUNÇO X JAGUNÇO - 3º parte


Tudo o que o Credo dizia
Ao contrário Tõe rezava
Negando, e assim desvia
Bala, que o Cão evitava.

A bala zunia e ao chão
Derribava sem apreço,
Sem ver nome ou ilusão,
E foi pra menos de 1/3

A gente que ali lutava
E Zé, que menos gente
Tinha, ele mais se lascava
Pois ia perdendo frente.

E nos motins do Sertão
Quem manda tem o dinheiro
Quem vence tem munição
E quem se fode é o guerreiro

Vivendo e morrendo pela
Vil jagunça condição
Sem ter bênção, óleo, vela
Pra dar sua extremunção.

Cão do Sertão ou homem pobre?
Ensinado no feudal:
Co'alma cavaleiro nobre;
Corpo pelo capital.

Obedecendo o sistema
Jagunço (uma servidão
Inconsciente) se tema
Nada, se não for Sertão,

E nesta luta sangrenta,
Entre estes muitos bandidos,
É a coragem quem enfrenta
Tantos dos grandes perigos.

Os rebeldes primitivos,
Que ali se digladiavam,
Menos para estar vivo,
Mais para quem odiavam

Verem mortos no chão duro.
Todavia o ódio não era
Verdadeiro, feio e puro,
Era da ordem que se dera.

Ontem era amor de irmão,
Mas agora diferente,
Odiar tal Deus ao Cão
E vir bater-se de frente.

Questionar era impossível
A jagunça condição:
Para pensar no vivível
Tinha que ter instrução.

E só sabiam contar
Os bois, as balas e os mortos,
E o nome mal assinar
Em caracteres bem tortos,

Que era pra mó de votar
No coronel/candidato
E pra com suor pagar
O que lhe era descontado

No armazém do patrão.
“Questionar é ficar louco!”
É viver vida do chão
Que isso já é muito pouco.

Atirar é coisa mente,
Não negócio do olhar,
É esquecer de tudo a frente,
Pra poder melhor matar.

É mais fácil coisa a bala,
Mata de frente e em tocaia
Escondido numa vala,
E distância que ela saia

Mata sempre muito mais.
Homem se mede é na esgrima
Frente a frente nos rivais
É assim que o cabra se prima.

De toda a repetição
Tõe só 5 perdia
Era muita munição
Que o Mal lhe servia guia.

O povo ali se comendo
O fogo ali se subindo
O corpo ali se caindo
O morto ali se fazendo.

Um a cabeça estourava
Outro a barriga abria
Um no chão já não rezava
Outro na morte já dormia

Bala, grito, dor e queda,
Carne, sangue, osso, grão corte,
Fuzil, facão, furo e pedra:
Tudo na sorte da morte.

Quando a bala terminava,
Pulava, na mão punhal,
E assim uns 3 já levava
Consigo pro fim-final.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

JAGUNÇO X JAGUNÇO - 2ª parte


Num crime indigno que fez
Matou o chefe e tomou o bando.
E crimes 1, 3, 6, 10
Cometeram sob seu mando.

É colheita de sebaça,
É estupros de mãessenhoras
E das virgens de cabaça,
Pisar no povo co' esporas,

Era assalto, era de-guerra,
Era de guerra fazia.
Maldade que o povo ferra,
Maldade d'alma vazia.

E tudo isto arquitetava,
Trás do bando de Zé Tonto
Que já diziam que estava
Na chefia todo pronto.

E em que parte do Sertão,
O serviço do cangaço
Espalhando eles então
Foram se dar com fogo e aço?

Dizem que foi muito perto
Do rio-pai, o São Francisco,
Mas por todo esse deserto,
Todo lado é São Francisco.

Foram três dias de cerco
Num todo de descampados,
e se na conta não perco,
Foram centos desalmados!

Chovia bala e o Céu não
Chovia, o chão alagado
De sangue, porque no chão
Não se via outro molhado.

Mas é uma triste visão?
Quem já ouviu destes guerreiros-
-Escravos estórias não
Duvida dos verdadeiros

Atos de grande bravura
Cheios de coragem falsa
Que aparece da loucura
Da pólvora-com-cachaça,

E pelo medo do açoite,
Que são tudo que o vaqueiro
Tem. E a solidão da noite
Que na moda do violeiro

Um sonho de liberdade
Vira (pois quem tudo deve:
Farinha, arroz, dignidade,
Nunca tem o sono leve),

Pois a Poesia fica
Sendo a matéria das vidas
Pra quem a vida dedica a
Deixar outras desprovidas.
.
Na próxima parte, a guerra entre os jagunços e o combate singular final entre Zé Tonto e Tõe da Vaca, fica para a parte 4!
Espero que estejam gostando! SAUDAÇÕES!!

terça-feira, 8 de novembro de 2011

JAGUNÇO X JAGUNÇO


O texto abaixo, é uma das minhas narrativas em verso no formato de rimance - o termo "cordel" é impreciso e eu não gosto, os próprios poetas antigos do nordeste falavam "folheto", nunca cordel, pois cordel refere-se à corda em que se vendiam os "folhetos de cordel", que a mais das vezes eram vendidos em balaios -, esta é a primeira parte - no texto original não há divisão em partes, mas é muito grande para a publicação em blog na forma original -. ABRAÇOS
Foi lá, na risca da faca,
Co'a poeira alevantada,
Que Zé Tonto e Tõe da Vaca
Se embolaram na matada.

Foi por que mesmo, meu Deus?
Ofensa de mãe? -> Perdão
Não se dá! <- Ou de um os seus
Bois no outro teve o ladrão?

Mas o que se contou lá,
Por aquela época, foi
Que não deixaram matar
Nem pela mãe nem por boi.

Era ordem do chefe-mor:
“Em guerra nunca se briga!”
E os cabras ficam de amor
Fingindo de gente amiga.

Aí nasceu o problema grande:
Podiam na faca justa
Ter limpado o ódio que brande
(Que se escondeu trás da escuta).

E lá, remoendo feio,
Falava Ele de maldades.
O ímpeto quando lhes veio
Era nas obscuridades.

E o ódio que fica encoberto
É muito mais traiçoeiro.
O seu tiro é bem mais certo,
O seu pesar mais certeiro.

E em moita e moita um já via
O outro escondido esperando
– Vida fechada de via –
O bote de cobra armando.

E andando de praia em praia
De cada rio nos caminhos
Sempre esperando a tocaia
Quando se viam sozinhos.

Foi nesses giros de louco
Que o judas do Tõe da Vaca
Resolveu fechar o corpo
Pra que a bala seja fraca.

E vendendo a alma pro Cão
(Três voltas na encruzilhada)
Achou que estava no são
E vencia esta parada.

Só podia lhe ofender
Lâmina feita de prata;
Bala que padre benzer,
Com cruz nela, é só o que o mata.

Foi quando os maus pensamentos
Vieram, ou deu por conta
Deles? Palavras quais ventos:
Furar na da faca ponta.

A bênção, meu São Tinhoso!
O ódio que é meu, é teu agora,
Faz de mim homem famoso
Por todo esse mundo afora.

Sei que o Senhor bem protege
Quem tem o Djabo engarrafado,
Faz ficar rico e se elege
Cabra por ti apadrinhado.

Deu o gole de cachaça
Pro Santo e se dirigiu
Co'os olhos de quem vê caça
Pronde sua mãe o pariu.

Terra de gente bem braba
Que não vive de ameaça,
Pegar o judas, o cabra,
Nem pela última que eu faça.

Meu sangue nos olhos, não
Me engano, é o São Cão em mim,
Me dizendo a via, o chão,
Que vou me dar no meu fim.

Se já no meu corpo o Demo
Se esconde e lá faz desgraça,
A morte eu já não mais temo,
Que vem qual coisa que passa.

Eu sou, pai Demo, fechado,
Eu sou todo protegido,
Meu corpo amaldiçoado
Conhece nenhum perigo.

É o desejo vil, maldoso,
Que me governa, meu Pai,
E maquino o perigoso
Pronde minhalma descai.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

SOL SUMIDO

Na primeira vez que vi teus lábios
pensei mergulhar-me neles
como um louco precipita-se ao mar

então vi teus olhos 
e neles me afoguei como
a ave que despenca do céu

Desse jeito me vi solto no mundo
viciado no teu rosto
dependente de teu sorriso

E assim como um céu perfeito no qual um Sol Invencível se brame
Anoiteceste
e eu me perdi em mim o que era mais magnífico

As aves ainda despencam do céu
os loucos ainda precipitam-se ao mar
mas a poesia ficou sol sumido.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

TUDO QUE É SÓLIDO SE DISSOLVE NO CÉU


Todos os homens queu conheço
Querem me dar alguma coisa
Nem que seja um demônio preu beijar.

Eu acordo de manhã
Onde estão meus olhos ouvidos e bocas?
Jogo fora da cama meu passado
e sem peso algum levanto-me como um bisão abatido
meus filhos, onde estarão meus filhos?
Eu não tenho filhos! Não ainda.
Todos os homens do mundo são meus irmãos, meus filhos, meus pais,
e todas as mulheres são os meus orgasmos.
O dia inteiro de uma vida perdida
5cm antes e 5cm depois
o relógio seria outro momento
no meu pulso 5cm valem o tempo suficiente de nascer,
morrer, copular, conceber;
Onde está a vida?
No meu pulso? Onde estão a vida?
Com certeza não está na pontuação,
a pontuação é uma representação falsa das modulações da fala,
mas a pontuação não marca
o andamento da minha canção.
Tu podes ouvir minha canção? Sentir meu ritmo,
os pés do meu andamento, a minha melodia?
Ritmo sem metro
melodia sem rima
mas ainda assim uma canção
uma bela canção.
Eu ainda não levantei a cabeça
muito menos levantei-me da cama
o resto da minha vida
nasceu esta manhã
mas já estava de pé
era minhalma quem dormia
pode ficar aí, deitada, para sempre
eu não me importo
nunca me importaria
A minhalma não é minha canção
talvez meu corpo a seja
o que é minha canção?
Nesta manhã, do fim da minha glória,
procuro saber cada unha dos meus afazeres
tomar banho, tomar café, tomar bala
ah seu morressoje!!!
Minha roupa negra, minha casa branca,
a cozinha pequena de pouca comida,
o banheiro cheio de fezes, descarga quebrada,
os centímetros quilométricos entre minha casa
e o ponto de ônibus
            o resto da minha vida
vivida numa fila
café puro, sem leite, sem pão sem manteiga,
sem prazer sexual
não terei filhos
todas as mulheres do mundo são meus orgasmos,
o que serão das prostitutas?
Podes tu ouvir minha canção,
a canção da latrina entupida, do chão rachado e do ônibus lotado?
A minha canção sem violão, rabeca ou pífanos,
 ritmo sem zabumba,
óia, óia, eis minha canção,
canta e goza!
Aquela mulher bonita sentada naquela poltrona do ônibus
que me despreza com os olhos
olhai o poeta olhai, está morto, sem alma
o poeta é um vampiro, uma múmia
Àquela mulher bonita sentada naquela poltrona do ônibus
o meu flato mais gostoso,
o poeta é um golem de carne:
“Frankenstein, ouve minhas palavras eloquentes!”
Sabes quem eu sou? Sabeis que eu sou?
Sou um pobre
Tirai-me, tirai-me, morrerei...
Cai um, cai outro, as balas continuam,
esquivo-me,
ou ainda acho que me esquivo,
abaixo a cabeça, corro de um lado a outro,
cai um homem ao meu lado,
cai outro a distância,
tiros, tiros, tiros, por toda a parte
matam-nos
Sabes quem eu sou? Sabeis quem eu sou?
Sou um poeta.
Meu ônibus pára, será estímulo clitoriano?
Desço, onde estará meu emprego?
No lugar de sempre
                   sempre esperando orgias.
Sexo é a base da vida, sexo é a base do sistema,
Sexo é governo, amor é inverossimilhança artística,
amor é poesia
esqueça-o, esqueça que o amor existe,
Sabes quem eu sou? Sabeis quem eu sou?
Podes ouvir minha canção? Podeis ouvir?
Meu violão descordoado, desafinado, desentonado
serve de batuque e me dá um ritmo impressionante!
Está a vida na sintaxe? Na morfologia? Fonética?
Está a vida na semântica?
Não, a vida está na vida.
Onde está o meu prazer?
Está na vida, óbvio.
Minha mulher, minha esposa, minha masturbação,
pedras e fezes
              fezes congeladas são armas
                                                armas de fogo são
covardia
tiros de longe, muito longe, donde vêm os tiros?
Meu amigo
meu melhor amigo
está morto
esquivo-me
ou antes acho que me esquivo
eu estou morto
              morto como um fantasma
um corpo penado
minha mulher, minha esposa, minha ilusão,
Todos os sonhos de um homem acabam-se
desaparecem
os sonhos fúteis eólicos
com o sopro de uma pólvora apagando uma vela
Meu sangue é fluido esparso
                       líquido sagrado
saindo das veias em todas as direções
Podes sentir meu sangue? Podeis sentir?
A minha própria sombra pobre pode
Meu melhor amigo são todos os homens
Meu melhor amigo são todos os cadáveres
Monto a minha libélula
Armado com a lança de São Jorge
E torno-me o terceiro cavaleiro
São João
São João
            estoura foguetos estouram
na minha cabeça ao lado
no meu amigo peito
nos homens que estão no chão
na arma apontada para meu olho há-de estourar
o resto da minha vida vivida numa fila
No caminho eu vi
e estava lá para eu ver
ah meus augustos augúrios
uma ave numa árvore trepada do mangue
uma garça branca empoleirada num manguezal verde
Triste homem que se dilui
oh meu sangue líquido esparso
minhas veias não são-te suficientes para conter-te
rasga-me a pele, estoura minha carne, quebra meus ossos,
triturai
   triturai
      triturai
      três vezes meu espírito
ele clama, ele pede, expele-ex-pele-ex-carne-ex-alma
ex tudo, ecce tutti,
meu amor, minha mulher
que nunca me dará um filho, que nunca se dera a mim
Olhai meu corpo. OLHAI!!! Porra,
deixai-me morrer
Podes sentir meu espírito? Podeis sentir?
Sou teu marido= corpo, alma, espírito
Voa, voa, pássaro maldito
nas asas do carcará
nas asas da harpia
Estuprai-me oh vida
Fazei de mim tua prostitua
Tomai meu corpo quando quiseres
beijai-me
Podes amar-me? Podeis amar-me?
Se não só me possui.
Eu sou teu vida
tua mulher, teu orgasmo
teu filho.
A arma ao olho meu
a cada bala atirada para cá abaixo-me
tirai, tirai de minha direção
tenta manter a consciência
entre mim e ti
quem sou quem és?
Meu emprego, numa fila vivo meus últimos,
onde estão todos?
No chão mortos
A arma ao olho meu
Todos têm um significado
E eu não sei o meu.
Sabes o teu? Sabeis?
Eu sou uma pérola
A minha vida é uma ostra
Quem dera fosse diamante
E a prova de balas
ser mais duro que o chumbo
e não chorar mais.
Eu estou descendo do ônibus
andando até a esquina
encontrando um amigo
meu melhor amigo dilui-se pelo ar como fuligem
apertando sua mão
dizendo alô até logo como vai que bom rever
Você___ cai ao meu lado
outros homens caem ao meu lado
banco lotado
o resto da minha vida vivida numa fila
Dobro aquela esquina última da minha vida
perdido
Deixai
Deixai-me aqui na esquina desta curva
esparramado neste momento
                  dêxtaseterno
tirai, tirai de minha direção
      atirai
Estou dissolvido em minha própria existência
quereria suprir minha própria vida
Todavia supero-me
quero viver
pois a vida, escondida nos detalhes,
ainda é deliciosa
             como uma caixa surpresa de chocolates
por mais amarga
            ainda é crocante
A vida me ama com um sadismo doce
ESTUPRAI-ME OH VIDA!
E arromba-me com tua energia libidinosa
tirai-me de tua essência
e aceitai-me como igual
Nós somos iguais
eu tal qual tu
não estou em lugar algum
a não ser em mim mesmo.
Só em mim me encontro
como uma lótus que se curva
como um girassol
                      à procura do relógio
5cm e eu não estaria aqui
             numa fila de banco
intangível às balas e às palavras
invulnerável aos sentimentos e aos desejos
meu amigo, meu amigo
dissolvido em seu próprio sangue esparramado como se fosse seu esperma
vida enche-me
       queu chupo e sorvo teu sêmen.
Entristeço-me  
       rasgo-me
meu emprego - soldado do sistema
numa fila frágil que se dispersa
uma sombra que mentope.
és tu vida?
Mas tua ausência é a essência de minha dor
como um cigarro, como um vício,
um trago de vinho tinto
se transforma transmutado em vinagre.
és tu vida!
Um prazer momentâneo me invade agora
não temo mais a arma ao meu olho,
não temo o precipício às minhas costas,
não temo perder-te oh vida,
pelo contrário, cada fração de tempo que os
ponteiros me dão,
sinto-te tão intensamente perdida em mim
e sei agora,
tu me foste amante o tempo inteiro.
e tivemos um filho
deste-me tudo o queu tinha
nosso filho chamo Prazer,
chamo Felicidade,
pois de ti aproveitei
o máximo docemente.
E agora, quando a bala
penetra meu olho,
atravessa meu crânio,
despedaça meu cérebro,
joga fora meus miolos,            
eu sinto que não é ela
mas tu quem me invade
quem me torna mais amplo
Não, não é suicídio o prazer na morte.
é prova de amor pela vida
amor, amorte
          amo-te vida.
Não, não te direi adeus,
direi: vem comigo perder-se,
direi: vem comigo dissolver-se,
pairemos no ar
como duas aves e nos beijemos
e nesse momento tornar-nos-emos completos
eu contigo, comigo tu,
e flutuaremos pelo espaço como se não houvesse tempo.