domingo, 29 de maio de 2011

O COMPLEXO DE MESSIAS

A perfeição de ser Messi? Poder correr, veloz, veloz, e em cada passo, em cada progressão, conduzir a bola, impossível de ser parado, ela, perfeita, totalmente dominada. Messi é o salvador, do futebol. Contra ele não adiantam retrancas, só adianta atacar. Com a bola nos pés, a cada passo dominada, se vão volantes, se vão zagueiros, todos em fila, todos, um atrás dos outros.
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Contra Messi, só o futebol funciona. E o pior de toda esta constatação é perceber que, hoje, não há times no mundo que possam fazer frente a Messi e a seu retranqueiro técnico Guardiola. Guardiola, o retranqueiro dos retranqueiros: como suportar o sistema de marcação que este homem a cada dia que passa aperfeiçoa mais e mais, todos defendendo, retomando a bola em segundos, bloqueando em pressão lá na frente?
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Alex Fergusson, que é Sir, tentou, pôs Giggs em Xavi, pôs Carrick em cima de Iniesta, e pôs Rooney em cima de Busquets, para matar o metrônomo de Guardiola. Todo mundo esperava isso, todo mundo esperava pressão do Manchester United, todo mundo, inclusive Guardiola. Se, na primeira final entre os dois, em 2009, Guardiola colocou Messi de centro-avante, recuando, para confundir a marcação, fez, nesta final de 2011, o mesmo com Xavi. Que recuava até atrás da linha dos zagueiros, escapando da marcação, e armando o time de trás, com toda a sua privilegiada visão do jogo, e seu passe refinado, sua técnica apurada, relembrando o tempo – até 2007 – em que era primeiro volante. Giggs não acompanharia e não acompanhou.
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Mas devemos sempre relembrar que ele participou do lance mais importante dos ingleses: dentro da área, fez o pivô, devolvendo a bola para Rooney, na noite dos 10, fazer um golaço.
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Contudo, de nada serviu, porque antes Giggs não acompanhou Xavi, o mestre Xavi, o 8 dos 8, mas que veste a 6, com a cabeça erguida, com três opções de passe – a grande virtude de ter três atacantes à frente – meteu para Pedrito sozinho matar Van der Sar.
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E foi dali, donde Xavi viu Pedrito, dali, que logo após, Rooney fez um-dois com Giggs, que o maior do mundo fez a diferença. Como os zagueiros não subiam para proteger à frente da área, nem os volantes recuavam para fecha-la, Messi – o maior artilheiro de uma edição de Uefa Champions League (UCL) – e depois Villa poderem fazer os seus gols de fora, batendo, sem que ninguém os cobrisse – não importa quanto tempo passem sem fazer gols, artilheiro é artilheiro –.
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Fica-se a impressão: Quem pode parar esse Barcelona de Messi e Guardiola? Como parar este time? O único time do mundo que joga no mesmo modo e no mesmo nível é o Arsenal de Arsene Wenger, mas este Arsenal não tem a mesma qualidade técnica individual que o Barca, os blaugrana têm um gênio (Messi), dois craques (Iniesta e Xavi), dois acima da média (Villa e Dani Alves), dois jogadores taticamente impecáveis (Busquets e Pedro), e é recheado por jogadores ótimos e bons. Os Gunners passam a impressão de um time de ótimos e bons dependente do seu único craque (Fábregas), mas com nenhum realmente que possa decidir. O Manchester United parece ter um elenco mais a altura dos catalães, mas os Red Devils são tão azeitados no esquema de Fergusson, que parecem taticamente imutáveis – a grande mudança tática do time parece que é a transformação de Rooney dum second striker (segundo atacante) que vira playmaker (meia-de-ligação) para um playmaker que vira second striker –, que não conseguem se adaptar a imensa mutabilidade do time de Guardiola.
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A única “esperança” parece ser o Real Madrid de Mourinho, que possui um elenco suficiente forte para barrar o elenco do Barça, além de contar com um técnico hábil o suficiente para mudar, transformar o seu time, adaptá-lo ao futebol total catalão, tentando impedir o jogo de Lionel Messi.
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E Messi, O Messias do futebol, continua transformando o mundo, sem ele o Barcelona igualaria a seleção espanhola, muito toque, muita posse, ninguém que infiltre e finalize, com dribles, passes e finalizações. É o melhor que os sulamericanos têm a oferecer, em qualidade técnica, ao melhor que a Europa tem a oferecer – a escola do Danúbio, encarnada na figura de Cruyff –. E assim o esporte bretão vai se livrando da pecha que vinha dos anos 80, da força, do vigor, do defensivismo, e resgatando aquele futebol de exceção que morreu com a seleção de Telê e Zico em 1982.
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Como esse Barcelona lembra aquele futebol...

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