Há ainda alguma magia neste mundo, magia que teima em sua sutileza de fingir-se, anônima e invisível, de inexistente. Não, caro pagão, não ver a magia que há deveras neste mundo não a faz inexistente, logo o contrário, quanto mais arredia, quanto mais volátil, fugaz e tênue, mais excepcional é a magia na sua inacreditabilidade.
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Há algumas magias ainda neste mundo torto, feio, cheio de resultados frios, números e tabelas. E se há ainda alguma magia neste mundo ele se atreve sempre a aparecer
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Números repetidos são uma mania icônica entre os alvinegros. Nada mais comentado do que os 21 do título de 1989. E como presságios estes números ressurgem ante os botafoguenses.
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Em 2009, um ponta-de-lança jovem, mas de certa rodagem, grande revelação no Paraná, de fraca passagem no Palmeiras, Maicosuel chega ao Botafogo de Futebol e Regatas, para ser o novo 10 do Glorioso. Resultado: artilheiro, melhor meia esquerda, melhor jogador do campeonato carioca. Venda para a Alemanha, uma boa passagem lá, para o primeiro ano, mas problemas internos acabam colocando-o fora dos planos do treinador. E depois de uma grande transação, ele volta, e de grande estilo, carregando a 7.
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A 7 de Heleno de Freitas, o Divino;
A 7 de Mané Garrincha, o maior de todos;
A 7 de Jair, o Furacão;
A 7 de Maurício, que libertou o Botafogo de duas décadas sem títulos;
A 7 de Túlio, o Maravilha.
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Cinco Setes que encantaram botafoguenses, brasileiros, o mundo inteiro. E não à toa estes dois números (5-7) se repetiram tanto para o retorno do novo 7 do Glorioso: no dia sete de Maio (7/5), depois de longos sete (7) meses de recuperação, de uma lesão ocorrido no mês de Sete-mbro, aos 15 (1-5) minutos do segundo tempo, o 7 reestreia, e, em 55 segundos em campo, ele faz o gol.
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Não foi um gol qualquer, eu que estava no carro, ainda ouvindo comentários de sua volta sou surpreendido pelo grito de gol, eu fico sem entender, meu filho de 4 anos no banco de trás grita gol também, me arrepio, será verdade?, será possível?, meus olhos enchem-se, estou arrepiado, em êxtase, gritando dentro do carro, era eu, ou o mundo era mais estranho, mais mágico?
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No seu primeiro toque na bola – esqueça-se, História, daquele encostão na bola que o Mago deu assim que entrou em campo na cobrança dum lateral qualquer deste mundo sem magia – Maicosuel mata e gira num só movimento de letra a bola fortíssima do passe de Alex, num giro magistral que relembrou os melhores dias de Zidane, escapando de dois zagueiros ao mesmo tempo que o cercavam, e com o mesmo pé direito tira o goleiro num sutil movimento, e com o pé esquerdo – desta perna cujo joelho o tirou do futebol por tanto tempo – empurra gentilmente para as redes.
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Ajoelhado, apontando para o Céu, é cercado por todo elenco, inclusive pelo técnico, todos emocionados, um momento lindo que nunca me esquecerei.
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A posição “meia” os italianos chamam de “trequartista”, pois joga nos ¾ do campo. Mas ninguém melhor que eles acharam um nome apropriado para os diferenciados da terceira linha do campo: FANTASISTA.
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E nesta noite estranha, que nada valia, valeu o momento de fantasia para as retinas nossas, tão fatigadas de retrancas duras, tão sem poesia.
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