sábado, 20 de maio de 2023

QUANDO ME VISTO DE SOL

Quando me visto de Sol
refugiando em minhas roupas
secas horas dispersas me avisam
que estou sentenciado.

Todos estão sentenciados
a quê, meu Deus?
A viver às vezes uma vida
que de vida se esquece.
A viver às vezes esquecido
da própria roupa de Sol.

Se sou Sol? Sou o seu brilho,
sou seu raio, sou luz,
sou refúgio seu,
Sol é sol, mais que sol,
olhos dos esquecidos
do próprio brilho
estou, estamos todos, refugiados
de uma vida que de vida
se esquece de tão luminosa.

Sou luz? Não, sou Sol.
Mais que sol,
sou uma pessoa dentro
de uma roupa de sol
esquecendo às vezes
que viver é às vezes
fingir que não se é Sol.


2016

A COMPLEIÇÃO DO CORPO

Meu corpo em teu corpo se completa
força-se
enche-se
sabe-se
Peito em peito rosto a rosto
inclina-se
tortura-se
alonga-se
Teu corpo tão corpo só corpo
abre-se
mescla-se
finge-se
Deixa-se ser teu corpo tão meu 
                                          tão céu 
                                          tão mel
abre-se
enche-se
alonga-se
Teu corpo em meu corpo
                                         tão completos

VERDE CANTO

Vou fazer um verde canto
-> Em mim um tanto dormente <-
Que o sol morto no poente
Derrama meu verso em pranto
-> Em mim emoção demente.<-

É triste o meu curto canto?
Não me importo se doente,
Pois é o vício de meu dente:
Ele perde todo o encanto
Quando reproduz-me a mente.


2018