sexta-feira, 1 de agosto de 2014

SONETO

Na vida sofrer é certa fortuna
Cada grão de si, cada amanhecer
É novo afã, é nova fina duna
          Onde prender o pé, lá se perder,
          Onde endoidecer, onde não chorar
          Onde se calar, nunca mais volver.
Mas é loucura pura reclamar
Como pássaro que canta por não
Voar, tal peixe que afoga no mar.
           Eu reconheço minha condição
           Humana; minha grande e vã vaidade:
           Ser peregrino dessa solidão.
A essência de viver, sua verdade,
É a busca eterna por Felicidade.

CAFÉ

Passa-me um café,
                          Faz favor,
Preto
                         Como olhos,
Forte 
                          Feito a fé,
Amargo 
                          Feito a vida,
Quente
                          Como o amor.

Para que eu possa
                              Nele
Mergulhar
Me erguer
                Me perder
                Me achar.

HAIKAIS

I.
Consciência negra:
           A única cor que me importa
É o cinza do córtex.

II.
O preço de um homem :
           O ouro vale tanto quanto
Pesa o seu caráter.

III.
Usar coração
           Pra julgar, há de lembrar
Que há mais que Amor.

IV.
Amor é A Certeza,
           O que sobra é tão somente
O vazio da Vida.

V.
Comprei quanto quis
             Por isso estou feliz:
Coração de crédito.

VI.
O tributo do Homem
             É o seu penar. O atributo
Do Homem é a coragem.

VII.
Quero ser o dono
              Do teu Corpo. Mas a Mente
Esta há de ser livre.

VIII.
Minha alma está plena:
                Sou feliz. A ninguém firo,
Ninguém também me machuca.

IX.
Raiva muito longa
           E/ou saudade muito curta
É amor que em si falta.

X.
Entre mim e o nada
            Há a imensa certeza que
Sofro, logo existo.

XI.
Gozar e sofrer
             Resumem nosso viver
O resto é criar

XII.
Poetar a Vida
             E viver a Poesia
São os meus Mandamentos

XIII.
Poesia: Certeza
            Que as palavras se combinam
Pra se tornar almas

XIV.
Fama não tem quem
             Estampa a Caras. Mas vem
Nos livros de História.

XV.
Pingado bem pardo
             Adoçado e já coado:
Cara, Alma, Passado.

XVI.
As palavras servem
             Pra viver: amar; lutar.
Tiranos te calam.

XVII.
Sou monista estrito:
               Só há alma e nada mais, Nada!
Provem-me o contrário.

XVIII.
Sou poeta, amada,
          Se não me queres, te quero
Como uma palavra.

XIX.
Tudo é contingente
           Andamos sem fundamentos
À beira do abismo









SONETO

Meu coração não sabe, não identifica
Que o que tanto deseja pode arrebentá-lo.
Pois o desejo é sopro que na fina e rica
           Membrana da alma bate em fortíssimo abalo,
           Em sucessivos danos, com constante empenho
           Até que estoure toda e fique como um ralo:
Neste vazio buraco escorre quanto tenho
De sonhos, de desejos, de fé por qual rogo
Encolhendo-me. Mas meu coração é lenho
           Que não se reduz face a qualquer fraco fogo;
           Meu coração, na dor martelado, esquivanças 
           Conhece, com artimanhas produz desafogo
Que a dor não compreende: cheio de mudanças,
Pois a alma é colcha de retalhos de esperanças.