Que o que tanto deseja pode arrebentá-lo.
Pois o desejo é sopro que na fina e rica
Membrana da alma bate em fortíssimo abalo,
Em sucessivos danos, com constante empenho
Até que estoure toda e fique como um ralo:
Neste vazio buraco escorre quanto tenho
De sonhos, de desejos, de fé por qual rogo
Encolhendo-me. Mas meu coração é lenho
Que não se reduz face a qualquer fraco fogo;
Meu coração, na dor martelado, esquivanças
Conhece, com artimanhas produz desafogo
Que a dor não compreende: cheio de mudanças,
Pois a alma é colcha de retalhos de esperanças.
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