domingo, 29 de maio de 2022

TRANSINSANO

          I
estou me perdendo nos montes
alvos do teu colo 
           na tua pele macia
           de madrugadas desdormidas

estou me perdendo
intransigente e solitário
busco o teu sorriso mascarado 
                          sutil mas safado
que escondes nas sombras 
                         de tuas distâncias

          II
esta noite sonhei contigo
como se pudesse desenhar no céu
de minhas memórias o véu
do teu peito

esta noite sonhei contigo
como se me cobrisse no veludo
do teu corpo que é em tudo
perfeito

esta noite sonhei contigo
e me descobri desesperado
dei-me conta que ao meu lado
há vazio leito

esta manhã desgraçada
destituída de qualquer compaixão
rasgou-me inteiro de solidão
e não deixou mais nada

          III
estou me perdendo novamente
esta noite sonhando contigo
mas é quando me jogo nestes desejos
Transinsanos
que me vejo melhor
sou teu amante 
               restante
                esperante 
sou teu incessante

não há eu
        há o verbo que se derrete
        nos Lábios teus

segunda-feira, 23 de maio de 2022

ANHANGÁ

Esta maldita que me ama
Que fode comigo,
Mas não me tira da cama.
É meu inimigo
Que minha vida reclama.

Talvez haja um dia
Que ela se esqueça de mim,
Me abandonaria
Ou me traga logo o fim
Por esta mão bem aqui.

Vem várias vezes ao ano.
Chega sem motivo. 
Vai-se embora quando quer.
Ela não se importa
Se já estou relacionado.

Quando vem dormir comigo,
Não resta tesão
Nem dentro, nem fora.
Quando me deseja,
Ela me devora.

Inimiga desalmada,
Desalmadora de corpos.
Teus caminhos, ladra,
São todos tão tortos,
São arrecifes sem portos.

Nenhuma rima lhe é dada
Todas são tomadas
Teu abraço frio
Não será cobrado
Nem é permitido.

Nestes meus versos finais
Jaz subentendido,
Um de nós não mais
Restará vencido.
Um sobrará esquecido.

CASCATA

Nunca mais
             nunca mais 
jurei a mim
            mesmo
                      jamais
me afogaria assim tão prontamente
no teu lago de mel

Mas deleal a mim
                       mesmo
a um sorriso teu
mergulho profundo sem pudor nenhum
na tua cascata de céu

Saltando de cabeça 
sem escafandro 
nem arpéu
    me banhando em ti 
          como um corcel
                     ou caxaréu 
sem vergonha alguma 
                        servo teu

De repente, 
                                 somes, 
fantasma de minhas meia-noites, 
meu                 silêncio               assustador
 
juro a mim 
           mesmo 
nunca mais 
            nunca mais 
                     jamais 

mas um assobio de longe 
                           e de joelhos 
atendo 
        ao cheiro 
do riacho teu