A
nova escola é um prédio de remendos.
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De
puxada em puxada fora construída. De gambiarra em gambiarra,
instalada. Quantos prédios se inserem no mesmo prédio? A primeira,
escola pública literalmente dentro da privada: Algumas salas
alugadas que, por natureza, dava os fundos para a maior. Os alunos
daquela, surdos, eram admitidos na privada através de um fundo de
doações europeias (e, aparentemente, alguns professores de hoje
foram alunos da privada também financiados por este mesmo fundo),
nunca, para mim, muito bem explicado. Fundo de caridade cristã
porque o dono da escola era pastor e administrava religiosamente o
dinheiro que vinha para as crianças.
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E
foi assim por anos, até que o irmão do pastor virasse prefeito e,
este, supersecretário informal da gestão – em tudo estava –.
Menos na sua escola particular que, agora, tornar-se-ia uma agregada
da municipal. O prédio, então, alugou-se. O nome fantasia foi
transferido para outrem: fiel da igreja e ex-coordenadora pedagógica
da escola do pastor; num bairro vizinho, uns 800m de distância.
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O
prédio que, antes, era da escola dos surdos, agora tornou-se uma
creche. Novas salas foram erguidas sobre as antigas que tremem sob
meus passo pesados. O telhado desajustado, mal a mal retalhado,
costurado, as salas sem forro e mal ventiladas, sujas sempre em
sempre das partículas de sujidades dos próprios caibros desnudos.
Cachoeiras derramam-se nos dias de chuva, criando lagos e ilhotas de
crianças: aqui um amontoado; ali outro; acolá mais alguns;
morrinhos de meninos e meninas, suando e suando, cozidos no abafado!
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A
minha nova escola é assim: um amontoado de bricolage.
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A
verdadeira concepção de colcha de retalhos escolar.
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Não
são só as salas que se costuram desordenadamente umas às outras –
algumas vezes, distraído, com algum papel na mão, quase caio entre
os desníveis entre as salas erguidas em momentos
histórico-arquitetônicos diferentes –; são crianças e jovens
cosidos uns aos outros: ora a sala pequena demais que os obriga a se
espremerem, ora os quadros brancos pequenos, remendados uns aos
outros para emularem (sem sucesso) um tamanho decente, mas que acabam
por roubar mais espaço do que oferecer, sobretudo nos centros onde
se conectam. Quadros cortados, retalhados, a canivete, limpos –
quando limpos foram – por material impróprio, acabando de vez com
sue verniz, as lâmpadas apagadas, queimadas, as janelas mal
posicionadas, jogando luz solar que refletem obliquamente na madeira
de péssima qualidade pintada de branco.
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Retalham-se
os alunos: na mesma sala, criancinhas e adolescente de tantas e
quantas reprovações. Alunos cozidos uns aos outros: faltam
ventilação e ventiladores. Sobram ameaças de punição: sair para
beber água? Não pode entre aulas? Durante as aulas? Escassamente e
em filas. São todos bagunceiros. São todos problemáticos, mas há
exceções. Se der liberdade, mas têm alguns educados. Ensinar é
também amor (a quê, a quem?). Afinal, somos educadores também
(também, também, como assim também?). A escola está falida porque
não podemos reprovar, como é que se ensina, como é possível
ensinar se não podemos reprovar, como é que vão ter interesse pelo
assunto se não têm medo da punição da reprovação? Punir, punir,
punir porque ainda somos educadores também no final.
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“Jovens,
é um ultimato. O diretor puniu cinco ontem por irem aos bebedouros
todos juntos no entre-aulas. Não podem mais sair das salas, me
desculpem, mas estou eu sozinho para cumprir a disciplina na escola.”
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“Virou,
prisão, é?” Uma voz no fundo, escondida – reconheci a dona, não
delatei –.
Estou há um mês aqui, mas parece que já estão aprendendo…