sábado, 9 de março de 2019

PRIVATIZAÇÃO (Crônica-Alegoria)


Valquíria Estephanie é uma acompanhante de luxo, mas, um dia, o seu gerente de agendamentos resolveu que lucrar não era o suficiente com ela, precisava torná-la eficiente. Desta sorte, Val que só servia empresários e políticos de grandes escalões foi enviada para a pior sarjeta de toda a cidade.

Val E. desceu ao mais próximo do fundo do poço e ao primeiro sujismundo ofereceu-se. Ora, mas é claro que aceitou! E quem não aceitaria? Que vista, que corpo o de Val: Academias, bronzeamentos, tratamentos mais elitistas! Que cheiro, que pele mais macia: perfumes e cremes os mais caros! Quem não queriria os serviços de Valquíria Estephanie, tão bem tratada para tratar dos maiores empresários!, tão bem servida para servir os mais poderosos políticos!, todos dos mesmos sobrenomes.

Mas Val E. é muito cara!

Estamos em desconto, só por hoje, só para a nossa estreia, a primeira e única noite de sarjeta, 90% de desconto!

Assim ainda vai, assim dá para pagar! Mas não se tendo o dinheiro agora, como faz?

Não temos problemas, a Val te empresta o dinheiro que tu precisa, paga em dois anos, com 5% de juros simples e só precisa começar a pagar daqui a 6 meses.

Agora sim, dá para aceitar a oferta.

Quem não quereria a Valquíria Estephanie nestes termos, embora exorbitantes, ainda é a Val E.!

Porém, Valquíria Estephanie não aceita ser servida em ermos tão sujos! Mas, só se tu pagar o motel do teu bolso!

O que a Val E. não faz para o seu cliente?!? Ela o leva até em casa, inclusive! Tudo incluso! Tudo incluso! Tudo incluso!

Após a prestação de serviço tão bem cumprido, Val E. está pronta para receber o seu pagamento: três tapas na cara! O seu cliente coleta todo o apurado dos últimos meses, vai à porta, paga os 20% por fora do gerente, agora, é minha!

Entra, mais dois tapas na cara de sua propriedade!: já pro muquifo, sua puta! Tu tem que arrecadar, em duas semanas o dinheiro que gastei contigo!

Obrigada, meu patrão, nunca dei tanto, tanto, tanto lucro!

Ainda está pouco! Mais, mais, tu tem que dar mais, mais, mais dividendos, até que um rio de gonorreia e podridão escorra de tuas pernas e mate todos os meninos!

Nesta hora, os teus políticos amigos lembrarão de tu e virão aos teus pés, pisotear-te, dar-me condolências, livrar-me da cadeia, cobrar-te as leis, dar-me novos caminhos, obrigar-te novas taxações e impostos, a mim, mais isenções. Por tua culpa, tua máxima culpa porque não eras eficiente.

Tu jamais daríeis tanto quanto dar-te-ás comigo, tenha pena, tenha pena de mim, Val E., meu amor, para ti guardei todos os meus esforços.

Pobre, pobre de meu dono, não tem culpa de minhas doenças, de minhas mazelas, pobre, pobre de meu dono, fode-me tão pouco e tanto poderiam me foder mais os meus antigos políticos!

Tão eficiente eu estou, derramando lama e lucros.

Perdão, meu dono! Perdão, meu cafetão!

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