quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

SE O BOTAFOGO NÃO FOSSE O BOTAFOGO

Se o Botafogo não fosse o Botafogo, o que eu seria?
Ainda seria eu, ou uma parte de mim seria?
O que uma bola e uma estrela têm de tão importante para serem assim, tão vida da gente? Porque as estrelas são esferas inflamadas e seus raios são luz, são fogo – luz infatigável, fogo insaciável –.
Se o Botafogo não fosse o Botafogo, o que eu seria?
Ainda eu me reconheceria, ou somente uma parte de mim seria?
Porque o Botafogo não é uma questão de escolha, é uma questão de caráter: Paciência, Resiliência, Excelência.
Se o Botafogo não existisse, eu seria mais um, mais um tanto de todas tantas cores, mais um qualquer, sem nada de especial. Porque o Botafogo é o único time do mundo que não possui cores: é luz apenas – uma luz que rasga as trevas.

CELESTIAL

O Botafogo é um time celestial. Não porque nas trevas seja a luz - estrela inflamável - mas porque neste clube certos homens pareciam mais aéreos e siderais que os meros mortais. Um deles - magnífico - respondia por alcunha - estranha - de passarinho - etério, intangível -. Outro, dentre todos os seres vivos, foi o mais próximo a uma força da natureza - furacão indevassável -. Mas de todos estes homens fadados eternamente ao céu - céu de estrela única, porém infatigável até ante o próprio Sol - nunca esquecerei um homem que voou - o dia exato era 14-12-95 -: muitas e muitas vezes vi aquele homem abrir os braços, voar como um avião sobre nossas esperanças, mas naquele dia, naquele exato dia, em nenhum outro em momento algum de nossas vidas, aquele homem voou mais alto, girando-girando-girando helicóptero rasante, máquina de destruição em massa: o zagueiro errou, o bandeira errou, ele não erra... girando-girando-girando meu coração, até hoje flutuo, como flutuei eu - criança - e tantos outros milhões de alvinegros naquela tarde de domingo. Aquele homem voou naquele ano, e eu nunca mais caí do Céu!

domingo, 6 de fevereiro de 2011

CLÁSSICO VOVÔ: UMA AULA DE ATTACKING PATTERN

CLÁSSICO VOVÔ: UMA AULA DE ATTACKING PATTERN
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O advento irremediável do 4-2-3-1 e todas as suas variantes – sistema estremamente vencedor desde que surgiu, segundo Jonathan Wilson, na Espanha e logo no seu primeiro ano deu o título mundial de juniores à Portugal em 1990, e campeão do mundo em 1998, 2006 e 2010 – vem aparentemente com o fim do centroavante de referência em detrimento ao falso nove, jogador que sai da linha de frente para ajudar na armação, como Totti fazia na Roma no meio da década passada, ou algumas tentativas do Manchester United com C. Ronaldo como homem de referência, posição que o 7 repetiu na copa do mundo de 2010 por Portugal e hoje em dia é testado por Mourinho no Real Madrid. Na prática, o 4-2-3-1 vira um 4-2-4-0.
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As constantes movimentações requerida aos novos centroavantes do 4-2-3-1, juntamente com a nova lei de impedimento, que joga a linha de defesa mais perto da área – o que impossibilita as jogadas que transformaram Ronaldo Nazário no melhor do mundo em 1996-7, saindo de trás da linha de defesa quase no círculo central –, a melhor preparação física e nutricional, e o melhor treinamento tático das defesa, diminuiriam o erro, e o centroavante é jogador que joga no erro do adversário, nas brechas das defesas, no descuido do adversário – o centroavante cujas maiores características são o posicionamento, a cabeçada e a finalização –. O centroavante é um cadáver em campo, um cadáver matador.
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Os dois times hoje provaram que esta tese está errada, ou melhor, que sistema é sistema, estratégia é quem ganha o jogo. Muricy Ramalho montou um time no papel no 4-2-2-2, com Fred e Rafael Moura na linha de frente. O time, em tese, deveria ficar bem pesado e refém do 3-5-2 de Joel Santana – o 3-5-2 não é, ao meu ver, um sistema, mas um anti-sistema, é um predador proposto para times que jogam no 4-2-2-2 ou no 4-3-1-2 –, mas não aconteceu. Na prática, o time variava pro 4-2-3-1, com Fred (9) fazendo o falso nove – como Messi no Barça –, Rafael Moura (10) isolado na frente – a pior situação possível para o 3-5-2 é jogar contra adversários com apenas 1 atacante, ficando com 1 sobra dupla e perdendo o meio de campo e as alas –, Souza (7) de extremo direito e Conca (11) na extrema esquerda. O time de Joel continuava com nenhuma inovação tática, mas com uma melhora substancial na parte técnica: Somália (16), cada vez pior, nem foi pro meio nem pra esquerda, Bruno Thiago (7) voltou ao campo – o menino na base era meia direita, no profissionais só tinha espaço como volante, aprendeu a fazer a marcação e a roubada de bola, como um carrillero argentino, ou um box-to-box inglês, como Ramires e Elias, defende atrás, parte com a bola dominada até a área adversária (daí o nome em inglês, “área-a-área”), e numa arrancada dessa conseguiu o pênalti duvidoso convertido por Loco Abreu (13) – e Márcio Azevedo (6) jogou na posição em que foi contratado par fazer.
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Num jogo tão truncado a vitória só a bola parada poderia ganhar, aí entra o centroavante à moda antiga, criado para jogar em duplas, recebendo a bola, como Loco Abreu, Fred, Rafael Moura e Herrera (17). Numa falta, Renato Cajá (10) abriu o placar para o alvinegro. Até aí tudo bem, é uma das funções do 10, ser um kicker. Mas quem melhor aproveitou a bola parada – ou foi melhor treinado para – foi o tricolor. O time das laranjeiras teve um escanteio, Rafael Moura, o He-man, sai da zona morta e cabeceia antes do primeiro pau, como ano passado Washington, o coração-valente, fez alguns gols assim, jogando no mesmo lugar que o louro hoje. Numa falta, a defesa erra, Fred dá uma casquinha pra trás, Jéfferson faz um milagre, mesmo deslocado do lance, e Rafael, talvez em impedimento, bota pra dentro, Jéfferson ainda quase salva. Dois gols de centroavante puro. Loco Abreu teve duas chances de pênaltis, e na primeira cavadinha perde, na segunda humilha. Jogo empatado em 4 lances do bola parada. É a tese que as últimas copas do mundo vêm mostrando, a bola parada é o que mais decide em jogos de alto nível, e que jogão foi!
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Mas este texto é sobre manobras de ataque. 4-2-3-1, 3-4-1-2, são 4 números que dizem onde os jogadores estão, mas não como se movimentam, nem como se organizam estrategicamente. Tomemos o exemplo do 4-2-3-1, sistema extremamente mutante. Esta é a posição original, mas a estratégia do técnico pode fazer com que o time se feche em um 4-1-5-0, ou vá pra cima no 4-2-1-3. Duas forma de jogar diferente, retrancado ou avançado, mas partindo da mesma disposição inicial. Vamos falar de três jogadas lindíssimas do BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS, em que uma delas chegou-se ao gol da vitória, e que prova como um centroavante às antigas, desde que de alto nível, poderia jogar no novo sistema da moda.
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Como observação à esta última proposição, ainda sem comentar as três jogadas supracitadas, lembremos da dupla Loco-Cajá, ainda no primeiro tempo. Se o centroavante clássico necessita da dupla, de um servidor – seja ele um ponta clássico ou um lateral que lhe cruze a bola, seja um ponta-de-lança, um outro avante ou um enganche –, este pode muito bem ser o meia-central do 4-2-3-1. Em certo momento, com o time ganhando, Cajá que estava péssimo ganha confiança com o gol e começa a bater de longe, aproveitando-se de sua qualidade de kicker. Ao receber a bola de costas para o gol, na sua movimentação natural do centro para esquerda, faz o pivô num belo toque lateral com o calcanhar, Cajá mata e bate, a bola vai na junção da trave-traveção. Se o centroavante faz este pivô, vindo da frente pro meio, abrindo espaços, saindo da frente da área para a entrada do enganche, como Guivarc’h na França-98 e Henry na mesma França, mas em 06, ou até mesmo, para quem viu ao vivo, Serginho “armava” para os três meias que vinham de trás em 82 – Falcão-Sócrates-Zico –.
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Nas três jogadas às quais quero chamar a atenção ocorreram no segundo tempo, com os 2 times com 10 em campo, Arévalo Rios (15) entrou no lugar de João Felipe (5), formando um triângulo na defesa com os outros dois zagueiros, Antônio Carlos (3) e Márcio Rosário (4), liberando as saídas dos laterais, Alessandro (2) e Márcio Azevedo (6). Dessa forma o BFR se reestruturou numa espécie de 4-1-3-1, com Cajá pelo centro, Herrera pela esquerda e Bruno pela direita – a pergunta é, porque, com o time completo não pode manter este mesmo esquema com 1 volante a mais ali? –.
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Vejamos como a movimentação de ataque funciona mesmo com um nove de verdade, que no caso veste a 13! Num primeiro lance, Herrera parte arrancando, da meia-esquerda em direção ao centro da área, posição inicial de Loco Abreu. A bola escapa um pouco. Abreu move-se em direção à bola e abre em direção à esquerda, nessa espécie de corta-luz à distância, o seu stopper – zagueiro de marcação individual – o acompanha, e o quarto-zagueiro é enganado pelo movimento do 13 e o observa mover-se, entrementes Herrera chega na bola, livre de marcação e faz uma jogada de craque, ao invés de investir em direção à área, dando tempo para a defesa se recompor, dá um toque para o Loco, entre os dois defensores, se não tivesse tão desequilibrado, ou se o zagueiro central tricolor não fosse tão bom seria saco, mas o adversário dá um toquinho com a ponta do pé, salvando o gol certo.
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Num segundo movimento, Herrera em velocidade vem da meia-esquerda, Cajá arrancando pelo meio, Loco à frente – eram, salvo engano da memória, 3 alvinegros contra 5 tricolores –. As qualidades individuais, quando postadas em prol da coletividade dá no mais belo futebol do mundo. Numa jogada digna de Barcelona, Loco move-se levemente para a esquerda – para que Herrera, que conhece muito bem, mesmo sem precisar olhar para ele, passe nas suas costas no campo vazio – e para para fazer o pivô, seu marcador vai junto. Cajá dá um passe milimétrico onde Loco estaria e onde não mais havia um defensor central, Herrera lampeja no buraco, sai de frente ao goleiro e o encobre num lindo toque, a la Loco! O gol foi de uma movimentação de 3-1 maravilhosa, de manual, de deixar Arsene Wenger admirado. Salvo engano 3ª assistência do Cajá, e 3º gol dele, uma cobrança de falta de manual, por cima do 2º homem da barreira – e olha que aposto que a bola entrou naquele chute de longe –.
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O terceiro movimento poderia ter se tornado o gol mais bonito do ano no Brasil até então. Herrera na ponta direita sobe mais que dois defensores, Abreu movia-se da esquerda para o centro, matando o zagueiro que o marcava, e dá um voleio de direita – muito bem, voleio de direita, e dizem que ele não é técnico! –. Belíssima defesa. No duelo de Loco Abreu e Diego Cavalieri saiu 3X1 pro goleiro, defendendo uma cavadinha, uma cabeçada mortal e esse chutaço à queima-roupa!
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Mais uma vez o BFR ganhou somente e apenas por causa do Jéfferson (1), em dois chutes de lateral esquerdo do fluminense, praticamente indefensáveis. Mais um chute no primeiro tempo, de um pivô maravilhoso do Fred para a finalização do lateral direito das laranjeiras, em que o pezinho do 1 salvou. Mais pelo menos 2 defesas dificílimas.
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Filosofias futebolísticas de mesa de botequim: 1. No futebol ganha quem faz mais gols, quem não leva só empata – e hoje o BFR fez mais, e teve um tolhido! –. 2. 7 vitórias valem mais do que 20 empates.
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Esquema do 2º tempo:
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G-------------------1------------------
D-------------3---------4---------------
D--2--------------------------------6---
M--------8----------5-------------------
M------------------10----------17---------
A------------------13-------------------
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Avulsos:
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Joel fez as piores mudanças que eu já vi na minha vida, tirou o melhor em campo – Cajá – e pôs o Éverton, só pra por mesmo, e botar um novo preferido em campo. Mas o mais tosco foi a saída do lateral esquerdo para a entrada do Somália, cada vez mais péssimo! O resultado foi imediato, com a mudança aos 30 minutos do segundo tempo pra segurar o resultado, Mariano, o melhor lateral direito do Brasil pintou e bordou sem ser perturbado, afinal Somália estava afundado dentro da área, e a lateral estava um latifúndio, fez um cruzamento fantástica para um defesa sensacional do Jéfferson de uma cabeçada à queima-roupa. Minha única mudança naquele time seria a troca de Herrera por Caio, para o velocista com gás de sobra correr sobre a exausta defesa tricolor. Seria um pandemônio na área adversária.
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O melhor ajudante de Joel, no entanto, foi o, às vezes, genial Muricy Ramalho: Com o jogo em 2X2, tirou o centroavante e pôs um volante, desfazendo o 4-1-2-2 (com Fred fazendo um falso 9) para um 4-2-2-1. Levou pressão e levou gol. Trocou Souza, extremo pela direita e colocou um atacante por lá. Assim, usou 2 mudanças pra fazer 1.
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Provável diálogo do 2º pênalti ou “Soy Loco pero no mucho!”: Cajá – Eu bato. Loco – Sou o batedor oficial, e sou maior do que você, sou o capitão, e sou maior do que você, sou o artilheiro da equipe, e sou maior do que você, sou o Loco Abreu e tenho que impor moral pra esse goleirinho e pros outros que não se brinca com el 13, e sou maior do que você! Cajá – Certo, capitão! Cavalieri – Você é orgulhoso demais, toda vez que tem jogo importante quer dar cavadinha, o primeiro pênalti do ano: cavadinha. Copa do Mundo: cavadinha. Semifinal de Copa América: cavadinha na seleção brasileira. É clássico e quer minha foto no mural dos botafoguenses. Não fui e não serei o novo Bruno, nunca, nunca mais um Bruno! Não vai repetir a loucura, não vai arriscar em menos de 2 minutos, vai bater forte no meu canto direito, como fez no último jogo e onde bate a maioria. Loco Abreu vai pra bola e... Panenka! Goleiro sentado, bola faz um arco e morre. Humilhação dupla, além da cavadinha, goleiro deslocado para o lado contrário. Mais uma foto no mural do botafoguense, agora só falta o do cruz-maltino, pensam o Maneco e o Biriba, cada qual com sua foto! Loco – Quem tem colhão? Quem tem, quem tem? Eu tenho, eu, el 13. Eu, colhão!