CAPÍTULO
I
(Os
dois fizeram amor no carro).
CAPÍTULO
II
Amante:
Por que não ficamos juntos de vez? De uma vez para sempre, como
sempre deveria ter sido? Eu, você, minha filha,… nossos filhos…
Amante:
Não posso… Não podemos, somos casados!
Amante:
Sim, mas existe separação, temos que nos perder de novo?
CAPÍTULO
III
Eram
amigos de infância, famílias vizinhas, aos sete anos prometeram-se
casar um com o outro, aos treze, viraram namoradinhos, ela se mudou
aos 15 anos.
Nunca
chegaram a se beijar.
CAPÍTULO
IV
Amante:
Mas eu amo a pessoa com quem estou hoje.
Amante:
Eu também, mas eu também te amo, mais que tudo, depois de minha
filha.
Amante:
Aí é que está! Você tem sua filha, suas responsabilidades…
Amante:
Não venha colocar a culpa de seu medo sobre minha responsabilidade
para minha filha!, ela é minha filha e sempre será, nunca deixará
de ser, mas amor de casamento também amo, mas nada como você! você
não me quer por causa de minha filha, é isso?
Amante:
Não, por ela!, Deus, eu adoraria ter uma filha, ainda mais a sua,
teremos os nossos também, já que não os tive no meu casamento.
Amante:
E então?
Amante:
E então que é minha responsabilidade, minha honra.
Amante:
Então sua responsabilidade, sua honra, vale mais do que seu amor por
mim?
Amante:
Não! sim, isto é, tente entender, não sou só eu, tem minha
família, meus pais, meus sogros, tanta gente… Como poderia deixar
alguém que gosto tanto por outrem que conheci ou reencontrei hoje?
Não é que eu não te ame, que eu não ame a pessoa com quem vivo,
foram tantos… tantas dificuldades, tantas tristezas, prazeres e
alegrias. Não, não é certo, simplesmente não é certo.
CAPÍTULO
V
Festa
de fim de ano na empresa. Os dois foram levados por seus respectivos
cônjuges.
CAPÍTULO
VI
Cônjuges:
Amor, quero que você conheça…
Amantes:
Você!?
Cônjuges:
Vocês já se conhecem?
Amantes:
Éramos amigos de infância.
Cônjuges:
Ah, que bom, então vamos deixar que matem a saudade dos velhos
tempos.
CAPÍTULO
VII
Amante:
Eu seu que não é certo, e se você falasse outra coisa agora, eu
não te reconheceria, não seria a pessoa que tanto amo, que mais
amei.
Amante:
Também nunca amei ninguém assim. Mas isso também não quer dizer
que não ame...
Amante:
Eu sei, um amor assim, tão bonito, construído em tantos anos, não
se abre mão tão fácil por uma aventura. Mas é isso que somos? Uma
aventura? Uma aventura, um para o outro, que, depois do prazer, do
risco, perde todo sabor?
Amante:
Não sei o que somos. A ilusão do beijo nunca dado? Uma coisa
irreal, ideal, que é perfeita e nunca poderá ser vivida e igualada?
Ou a coisa verdadeira que, se nunca tentada, será sempre o vazio?
Amante:
E pode se amar duas pessoas tão assim, no de-verdade?
Amante:
Existe limite para amar? Por que escolher a quem amar dói tanto, é
tão assustador?
Amante:
Abandonar o amor certo pelo amor louco? É, não é correto isso
mesmo.
Amante:
Não é correto mas eu quero tentar.
Amante:
Contra tudo e contra todos?
Amante:
Sim.
Amante:
Devemos?
Amante:
Ã?
Amante:
Devemos, assim, devemos mesmo?
Amante:
Não. Nosso dever e nossa vontade são dois inimigos naturais.
Amante:
Não podemos conciliar isso?
Amante:
Como? Como estamos fazendo agora?
Amante:
Sim…
Amante:
Mas o que fizemos, é tão errado, é tão mais errado!
Amante:
Mas poderíamos manter os nossos dois amores.
Amante:
É verdade, não teríamos que escolher, que nos dividir, que sofrer
e fazê-los sofrer.
Amante:
Mas é tão mais errado! Não é que seja mais fácil para nós, ou
não os magoe, que faça do ato mais certo, ou menos errado.
Amantes:
Estaríamos só enganando.
Amante:
A nós e a eles.
Amante:
O que fazer neste dilema tão absurdo!
Amante:
Chegar ao ponto de escolher a quem amar sabendo que sempre haverá
sofrimento.
CAPÍTULO
VIII
Ali,
um e outro, olhando-se, no meio daquela festa, o que dizer? O que
calar? Nunca o coração batera tao rápido entregando-se. Como
mentir naquele instante tão revelado?
CAPÍTULO
IX
Amante:
Eu te amo.
Foi
a primeira coisa que se disse ali, com ninguém por perto.
CAPÍTULO
X
Qual
era a verdade daquele momento?
CAPÍTULO
XII
Amante:
O quê? O que você está dizendo?
Amante:
O que eu não posso mentir.
Amante:
Ó Deus, teus olhos!
CAPÍTULO
XIII
Quem
prestasse atenção às calças dos dois perceberiam imediatamente a
excitação sexual que tomou conta deles.
CAPÍTULO
XIV
Amante:
O que você fez todo esse tempo?
Amante:
Estudei, trabalhei, casei…
Amante:
Eh! Tudo no passado.
Amante:
É, tudo no passado. O que me faz questionar: “E o meu futuro? E o
seu?
Amante:
E o nosso?”
Misturavam
ali verdades profundas com verdades fúteis, enquanto as pessoas
aproximavam-se e iam, deixando-os a sós.
CAPÍTULO
XV
Amante:
O que faremos nós?
Amante:
Aqui, neste carro? Talvez primeiro sair dele.
Amante:
É a última coisa que quero no mundo. Este momento, indefinidamente.
Amante:
Logo amanhece?
Amante:
Logo, amanhece.
CAPÍTULO
XVI
E
amanhecendo ali, o dia tão vermelho.
CAPÍTULO
XVII
Enquanto
as pessoas iam e voltavam:
Amante:
Tem filhos?
Amante:
Não, nós nunca quisemos ter… Bem, eu sim.
Amante:
Eu tenho uma filha. Quer ver?
Amante:
Claro.
Amante:
Não é a coisa mais linda do mundo?
Amante:
É. Talvez a segunda… ela tem seus olhos, sua boca…
Amante:
É, é muito linda, mesmo!
Amante:
Presunção!
Riram
chamando a atenção do salão.
CAPÍTULO
XVIII
Amante:
Eu vou me perdoar?
Amante:
Vão nos perdoar?
Amante:
Por que pensar no sofrimento deles se o nosso é tão palatável? Eu
vou me arrepender de ir? Vou me arrepender de ficar?
Amante:
Vamos nos perdoar de nossa escolha?
Amante:
É, paramos e olhamos: é nossa família.
Amante:
E enquanto nos olhamos é o nosso amor.
Amante:
É.
CAPÍTULO
XIX
Amante:
Deus, os teus olhos!
Amante:
O que é que têm?
Amante:
Você tem que parar de me olhar assim.
Amante:
Você não consegue ler meus pensamentos, olhando para eles?
Amante:
Que me amaria agora mesmo, neste chão.
Amante:
É, a mesma coisa que o teu.
CAPÍTULO
XX
Enquanto
o elevador desce para o estacionamento no subsolo, a respiração
ofegante dos dois sozinhos deixou o ambiente fechado retumbantemente
ensurdecedor. Mesmo assim não se tocaram. Mas os olhos…
CAPÍTULO
XXI
Amante:
Não podemos ficar aqui, desse jeito.
Amante:
É, não podemos ficar aqui.
Amante:
Não, não aqui, quer dizer, devemos ficar, mas não desse jeito.
Amante:
É. Devemos.
Amante:
Devemos nos beijar.
Amante:
Eu tenho que sentir o gosto da tua boca.
Amante:
Não podemos.
Amante:
Por quê?
Amante:
Porque, se fizermos isso, não sei se conseguirei voltar.
Amante:
Eu também.
CAPÍTULO
XXII
Amante:
Você já fez isso antes?
Amante:
Eu?, nunca! Você acha que sou do tipo que trai o casamento?
Amante:
Não.
Amante:
E… e… vo-você?
Amante:
Também… não.
CAPÍTULO
XXIII
Subia
o elevador. Tinha certeza que não poderia voltar atrás, não
importava o resultado da volta para casa, mesmo que no futuro venha a
se separar, mesmo que qualquer coisa aconteça, não poderá jamais
voltar a este amor de infância roubado e reencontrado, revivido e
regozado, este amor tão lindo e tão gostoso estava totalmente
perdido para si.
CAPÍTULO
XXIV
Ao
entrar em casa, encontram esta carta:
“Meu
Amor,
Não
sei se tu se lembra daquela pessoa que te apresentei naquela festa da
empresa, que é casada com aquela tua amizade de infância?
Bem,
aquela pessoa que te apresentei e eu somos amantes. Estamos juntos há
três anos agora e eu já não suporto mais esta mentira que me come
por dentro porque te amo.
Sim,
é verdade. Pode me achar hipócrita, viver te mentindo, te traindo e
te amando! Mas esta é a verdade, por isso eu aguentei por tanto
tempo.
Não
quero dizer que te aguentei por tanto tempo, mas eu me aguentei por
tanto tempo, o lixo que vivi por tantos anos, me odiando por te amar
e te magoar sem que tu saiba.
Por
isso tomei esta decisão, a mais difícil de minha vida. Eu te
deixei, Amor, eu vou embora com o meu Outro-Amor, não me odeie, por
favor, eu não viveria se tu me odiasse. Eu sei que tu vai sofrer, eu
estou sofrendo, sei que tu entristecerá, vai amargurar, mas não me
odeie.
Mesmo
que não me perdoe (mas tente, tente, tente, por favor, tente), não
me odeie.
Eu
te amo e adeus,”
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