sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

DEPOIS


De que morri veio a escuridão, da escuridão veio uma praia branca de areia fofa que banhava um mar salgado de água morna embebido pela foz de um rio. Lembro de que tentei mover meu corpo, porém ele ficara na escuridão, e agora eu era uma estrutura quântica que procurava o movimento ondular e cíclico.
            Seguindo o rio deparei-me com um risonho bosque, lá deitei no gramado verde e lembrei todas as vezes que me esqueci de fazer isso quando eu tinha peso para esparramar-me sobre a gramínea, agora é como me deitar em nuvens, com leveza, mas não esquecimento, nada esqueço aqui.
            No bosque eu senti o cheiro de uma cachoeira, lá me refresquei em sua água gelada e a escalei, nunca o fizera em vida pelo peso abdominal que aqui de nada vale, pois nem gravidade nem abdômen.
            A água que alimentava a cachoeira, o rio e o mar, vinha de uma montanha branquinha, daquelas que nos fazem sentar e pensar, no pé da montanha vi uma mesa posta e um local para mim.
            Lá estavam todos os meus ancestrais me esperando, e de um só me abraçaram, perguntei à primeira molécula o porquê dela ter decidido juntar-se em um grupo carbônico e começado a devorar aquelas que ainda não tinham evoluído para uma forma de vida, ela me respondeu de bate-pronto, como se lhe fosse casual este assunto.
            Eis que uníssono declamam para mim o sentido da vida, que não é mais do que um verso épico, e surpreendi-me por ter percebido todo aquele tempo e não ter aceitado o fato.
            Volto-me e vejo todos os meus descendentes até a entropia e o colapso e declamo para eles o verso e eles mo devolvem em uníssono e surpreendi-me por ter percebido todo aquele tempo e não ter aceitado o fato.
            Então alguém chega e me toma o coração, põe-lo numa bandeja de balança e o vejo cair como que se rolasse toda a montanha branquinha, daquelas que nos fazem sentar e pensar, e explica-me, enquanto põe uma pena de beija-flor da outra bandeja da balança, que se o peso do meu coração for maior eu serei punido em medo, agonia e tristeza pelo que fiz a ele, se o meu coração for mais leve eu poderei sentar-me e tomar parte do banquete dos meus ancestrais, se o peso igualou-se eu volto e vivo novamente.
            Pisco e vem a escuridão, da escuridão veio uma praia branca de areia fofa que banhava um mar salgado de água morna, embebido pela foz de um rio. Lembro de que tentei mover meu corpo, porém ele ficara na escuridão, e agora eu era uma estrutura quântica que procurava o movimento ondular e cíclico.
            Seguindo o rio deparei-me com um risonho bosque, lá deitei no gramado verde e lembrei todas as vezes que me esqueci de fazer isso quando eu tinha peso para esparramar-me sobre a gramínea, agora é como me deitar em nuvens, com leveza, mas não esquecimento, nada esqueço aqui.
            No bosque eu senti o cheiro de uma cachoeira, lá me refresquei em sua água gelada e a escalei, nunca o fizera em vida pelo peso abdominal que aqui de nada vale, pois nem gravidade nem abdômen.
            A água que alimentava a cachoeira, o rio e o mar, vinha de uma montanha branquinha, daquelas que nos fazem sentar e pensar, no pé da montanha vi uma mesa posta e um local para mim.
            Lá estavam todos os meus ancestrais me esperando, e de um só me abraçaram, perguntei à primeira molécula o porquê dela ter decidido juntar-se em um grupo carbônico e começado a devorar aquelas que ainda não tinham evoluído para uma forma de vida, ela me respondeu de bate-pronto, como se lhe fosse casual este assunto.
            Eis que uníssono declamam para mim o sentido da vida, que não é mais do que um verso épico, e surpreendi-me por ter percebido todo aquele tempo e não ter aceitado o fato.
            Volto-me e vejo todos os meus descendentes até a entropia e o colapso e declamo para eles o verso e eles mo devolvem em uníssono e surpreendi-me por ter percebido todo aquele tempo e não ter aceitado o fato.
            Então alguém chega e me toma o coração, põe-lo numa bandeja

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

ANÁLISE DOS JOGOS DO BOTAFOGO


Depois de três empates seguidos, faz-se necessário um olhar mais criterioso das qualidades e defeitos do Botafogo de Futebol e Regatas.
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Na fase defensiva do jogo, o Botafogo monta-se num forte 4-1-4-1: Jéfferson; Lucas, Antônio Carlos, Fábio Ferreira, Márcio Azevedo; Marcelo Mattos; Maicosuel, Renato, Andrezinho, Elkeson; Loco Abreu. Com essa estrutura, o time de Gal. Severiano é capaz de aplicar pressão na saída de bola do adversário.     
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Por isso, mesmo com os buracos deixados pelos laterais – sobretudo o esquerdo –, motivo pelo qual o time levou seu três gols na competição estadual, o time já não enfrenta mais problemas defensivos tão sérios como antigamente.
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Essa é a primeira qualidade da equipe de Oswaldo Oliveira: bom posicionamento tático, ocupação inteligente dos espaços a partir da intermediária adversária, estrutura forte, marcação pressão média sobre a bola dos 5 atacantes – os defensores marcam zona –, posse de bola superior a 60% na maioria dos jogos.  
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O lado negativo de se exercer pressão sobre a bola pelos homens de frente, é que isso obriga os zagueiros a fazerem uma linha de impedimento muito alta. Nos dois primeiros jogos, era visível que os defensores não sabiam exatamente o que fazer, o que permitiu lançamentos nas costas de Azevedo. Jéfferson também se posiciona ainda muito dentro da área, ora, se meus zagueiros estão na linha de meio-campo – observem por exemplo o impedimento de Ronaldo Assis, ele está com apenas um pé além da linha divisória do campo –, eu (o goleiro) deve adiantar-me para impedir que os lançamentos dos zagueiros adversários caiam nas costas dos meus zagueiros. É simples isso, mas deve ser assustador para um goleiro ficar fora da sua zona de conforto e jogar onde não possa pegar a bola com a mão.
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Nas transições defensivas, o esquadrão nunca é pego de “calças curtas”, pois a base fica muito bem montada, com os dois zagueiros, Mattos na frente, e com a alternância constante e alternada do apoio dos laterais, ficando um sempre na defesa. O sistema ainda não está perfeito, pois a basculação ainda não está tão afinada quanto deveria ser.
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Apesar destas qualidades defensivas, o time de Oswaldo não demonstra muitas habilidades ofensivas. Acima de tudo, falta criatividade. Andrezinho vem sendo um dos melhores do time, mas ainda não é um 10 que ganhe jogo – a não ser nas cobranças de falta –, que deixa os atacantes na cara do gol duas ou três vezes por jogo.
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Também falta mobilidade. Com a equipe estática do jeito que se apresenta, obviamente não criará chances de gol. Daí a necessidade da profusão de jogadas aéreas para um Loco Abreu que ainda não se encontra 100% fisicamente. Mas com um time que não se movimenta – e que perdeu o que tinha de melhor na época de Caio Jr., a ultrapassagem dos laterais, sobretudo da dupla Maicosuel-Cortêz –, não há jogadas de linha de fundo, e com cruzamentos da intermediária, nem que Abreu tivesse 3m de altura, ele conseguiria vencer essas jogadas, principalmente no meio da região do pênalti (sem contar que, o único cruzamento que realmente funcionou no jogo contra o Flamengo, caindo atrás da pequena área, foi o de Renato).
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Se os meias-extremos do 4-1-4-1 não avançam e viram ponteiros, o time fica assim mesmo, sem penetração, sem profundidade, sem criação. Se o centro-avante fica estático, não abre espaço para a penetração dos quatro homens que vêm de trás, e fica marcado muito facilmente dentro da área. Se os laterais não vão à linha de fundo, acabam fazendo vinte a trinta cruzamentos inúteis para a grande área adversária!
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Eis mais um motivo ainda para que Herrera não volte a ser titular no esquete botafoguense, não sabe se posicionar defensivamente numa linha de quatro meias e não tem capacidade de resolver jogos, o que abriria caminho para a sua presença obrigatória em campo. Por outro lado, será muito mais fácil tirar o Elkeson do time para a entrada do Jobson do que um cara mais amado pela torcida como o Herrera. Jobson este que parece ser titular absoluto na cabeça de The Oz! Jobson, que pelo que está fazendo nos treinos – e se finalmente tiver a cabeça no lugar, pois não terá mais chances e com ninguém – pode realmente chegar e resolver os jogos, um jogador que com ele o time fica muito mais perigoso, no drible, na velocidade, na impetuosidade; mas fica bem menos criativo, o que será um problema se Andrezinho não crescer, ou se não chegar um outro meia capaz de criar condições de gol, o time talvez fique refém da correria de Jobson pela esquerda, e a força física de Abreu dentro da área.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

O OGRO


            Era noite e ela já o esperava.
            A menina arregalava os olhos à sua espera.
            As trevas já cresceram e afundavam-se no interior dos seus olhos para que no escuro ela visse tudo.
            De debaixo da cama sairia o bicho-papão.
            Sua mãe lera o livro e terminara o ponto final, fechara-o, beijara-lhe a testa e boa-noitou-lhe.
            Então era só a espera,
                                               longa,
                                                          triste,
                                                                     inacabável.
            Lá fora abocanhava tudo a noite fria e inexpugnável avisando-lhe que seria mais uma vez visitada, queira ou não.
            Um sono de vigília que nunca chegava, o cambalear das pálpebras a fim de fecharem-se, o temor das córneas das pálpebras de fecharem-se.
            Sonhou que fosse uma princesa em alta torre e nos seus fossos distantes dragões potentes e poderosos cercassem sua cela e impenetravelmente nada lhe invadisse violentamente. Teve medo que viessem os dragões lhe perturbar.
            Sonhou que fosse uma borboleta e dali voava, mas à noite borboletas não voam e ficam à mercê dos bichos mais feios e asquerosos. Teve medo que fosse borboleta.
            Sonhou que fosse uma fada com suas asas coloridas e olhudas de borboleta e luzes de vagalumes e gritos agonizantes e audíveis das cigarras todas que brotam das terras e gemem invisíveis das árvores na hora em que o Sol cai. Teve medo que sua luz chamasse os monstros.
            Sonhou que fosse sete coisas perfeitas e lindas. Cada coisa contendo outra coisa e cada coisa contida sendo outra, disfarçada não sendo a primeira.
            A uma de sete era uma flor, e dentro desta flor tinha uma chave que nada abria, mas era em si um enigma, que se girasse de tal forma o segredo da chave pra cima e pra baixo, esta abriria, e lá de dentro sairia um segredo outro irrevelável.
            A dois seria o segredo, um poemeto de quadra em redondilha maior com rima nos versos pares, ao estilo das cantigas antigas populares que sua avó havia de cantá-las. E no poemeto a chave de ser feliz, que não era chave, eram palavras.
            A terceira coisa perfeita e linda que se pensou ser era um cofre, que não era um cofre feito baú ou caixa, era um cofre de menina, coração-rosa-puro, e dentro tinha uma flor que flor não era e que trazia uma chave que não era chave, mas escondia um poema que era uma chave.
            A sua dêsinocência formada não impedia rompantes de criatividade pueril de menina pré-menstruo.
            Sonhou que fosse uma princesa torta montada amontoada em urubus que são dragões que são borboletas que são vagalumes que são cigarras que fingem ser fadas, mas fadas não eram, eram estruturas de prédios, prédios inteiros que não são bonitos nem impecáveis, são o que os prédios são: duros, altos e frios, seres que por não serem não sentem, nem o alívio, nem a espera, nem a dor, nem a tristeza nem a espera. E dentro do prédio tinha outro prédio, que prédio não era, era uma lesma que dentro do prédio caminhava e não se fazia perceber.
            Cinco de sete que se fosse e não era, era o vento e dentro do vento tinha a voz do poema do segredo da chave dentro da flor dentro do cofre. Era nada portanto.
            Um pé que pesava e se arrastava.
            Que fosse um relógio e sempre atrasasse e nunca fosse a hora de todas as noites. E no relógio havia ponteiros feitos todos de brinco de minervas e afrodites e ela não sabendo o que fosse uma minerva ou uma afrodite imaginou e fez que fossem por meio de ser o apenas o que se imagina de ser tipos específicos de flores ou coisas que vêm do mar. E os ponteiros eram apenas os suspiros que abriam os ventos.
            Um bicho grande e enorme adentrou o quarto de três ou mais metros estava nu, silencioso no quarto, era papão, oi papão, boa noite papão, papão, o que foi papão?, e  o silêncio abateu a voz dela e fez O silêncio mudo, que cala toca a perfeição, lindeza e inocência.
            Na sua desinocência formada não residia nenhum assombro de paraíso.
            Sonhou que fosse uma mãe e dentro tivesse amor. Mas amor não fosse amor de comida na mesa, mas amor de ouvir silêncio, o que não era.
            E o ogro devorava-a novamente.
            Toda a noite e no silêncio dos corredores da casa a vizinhança inteira era uma só mudez para os fatos que aconteciam.
            Saberia a mãe dos monstros sob a cama?
            Se sabia o que nada fizera?
            Se não sabia o que nada fazia para não saber?
            Eram sete coisas dentro dela que não eram coisas que são como são, são sete coisas que são outras por aparentarem ser o que não são.
            São sete suspiros, sete segredos, sete engodos, sete salvações, sete confissões, sete perdições, são sete belezas dentro dela, dentro dela e do ogro.
            Dentro dela o ogro.
            Dogro.
            Orgod.
            O susto assimilado pelo ogro era a irracional tortura que fazia em si mesmo e não entendia a id net neo ã neom sem simea izafeu qarutrotlano icarria are orgo olepodal imissaot suso o stuso amadislsio pleo orgo era a ionacrrial tturora que fzaia em si memso e não eentnida.
            São sete coisas escondidas dentro de si: o ogro, a mãe, a estória pré-sono, o relógio, o corredor, as coisas deixadas dentro de si, e si mesma dentro de si, que não é as coisas que estão dentro de si, a não ser as coisas que foram deixadas dentro de si, que são mais do que realmente são por gerarem mais coisas do que realmente são, mas são as coisas que estão dentro de si, mas significam muito mais do que o mero lixo que é e está dentro de si.
            São sete coisas, nenhuma presta.
            Nada portanto.
            O ogro vai embora, a noite converte-se em sono e desgraça para mais um dia de desgraça e sono e uma nova noite de espera,
                                                                        longa,
                                                                                   triste,
                                                                                             inacabável.