terça-feira, 25 de outubro de 2011

SOL SUMIDO

Na primeira vez que vi teus lábios
pensei mergulhar-me neles
como um louco precipita-se ao mar

então vi teus olhos 
e neles me afoguei como
a ave que despenca do céu

Desse jeito me vi solto no mundo
viciado no teu rosto
dependente de teu sorriso

E assim como um céu perfeito no qual um Sol Invencível se brame
Anoiteceste
e eu me perdi em mim o que era mais magnífico

As aves ainda despencam do céu
os loucos ainda precipitam-se ao mar
mas a poesia ficou sol sumido.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

TUDO QUE É SÓLIDO SE DISSOLVE NO CÉU


Todos os homens queu conheço
Querem me dar alguma coisa
Nem que seja um demônio preu beijar.

Eu acordo de manhã
Onde estão meus olhos ouvidos e bocas?
Jogo fora da cama meu passado
e sem peso algum levanto-me como um bisão abatido
meus filhos, onde estarão meus filhos?
Eu não tenho filhos! Não ainda.
Todos os homens do mundo são meus irmãos, meus filhos, meus pais,
e todas as mulheres são os meus orgasmos.
O dia inteiro de uma vida perdida
5cm antes e 5cm depois
o relógio seria outro momento
no meu pulso 5cm valem o tempo suficiente de nascer,
morrer, copular, conceber;
Onde está a vida?
No meu pulso? Onde estão a vida?
Com certeza não está na pontuação,
a pontuação é uma representação falsa das modulações da fala,
mas a pontuação não marca
o andamento da minha canção.
Tu podes ouvir minha canção? Sentir meu ritmo,
os pés do meu andamento, a minha melodia?
Ritmo sem metro
melodia sem rima
mas ainda assim uma canção
uma bela canção.
Eu ainda não levantei a cabeça
muito menos levantei-me da cama
o resto da minha vida
nasceu esta manhã
mas já estava de pé
era minhalma quem dormia
pode ficar aí, deitada, para sempre
eu não me importo
nunca me importaria
A minhalma não é minha canção
talvez meu corpo a seja
o que é minha canção?
Nesta manhã, do fim da minha glória,
procuro saber cada unha dos meus afazeres
tomar banho, tomar café, tomar bala
ah seu morressoje!!!
Minha roupa negra, minha casa branca,
a cozinha pequena de pouca comida,
o banheiro cheio de fezes, descarga quebrada,
os centímetros quilométricos entre minha casa
e o ponto de ônibus
            o resto da minha vida
vivida numa fila
café puro, sem leite, sem pão sem manteiga,
sem prazer sexual
não terei filhos
todas as mulheres do mundo são meus orgasmos,
o que serão das prostitutas?
Podes tu ouvir minha canção,
a canção da latrina entupida, do chão rachado e do ônibus lotado?
A minha canção sem violão, rabeca ou pífanos,
 ritmo sem zabumba,
óia, óia, eis minha canção,
canta e goza!
Aquela mulher bonita sentada naquela poltrona do ônibus
que me despreza com os olhos
olhai o poeta olhai, está morto, sem alma
o poeta é um vampiro, uma múmia
Àquela mulher bonita sentada naquela poltrona do ônibus
o meu flato mais gostoso,
o poeta é um golem de carne:
“Frankenstein, ouve minhas palavras eloquentes!”
Sabes quem eu sou? Sabeis que eu sou?
Sou um pobre
Tirai-me, tirai-me, morrerei...
Cai um, cai outro, as balas continuam,
esquivo-me,
ou ainda acho que me esquivo,
abaixo a cabeça, corro de um lado a outro,
cai um homem ao meu lado,
cai outro a distância,
tiros, tiros, tiros, por toda a parte
matam-nos
Sabes quem eu sou? Sabeis quem eu sou?
Sou um poeta.
Meu ônibus pára, será estímulo clitoriano?
Desço, onde estará meu emprego?
No lugar de sempre
                   sempre esperando orgias.
Sexo é a base da vida, sexo é a base do sistema,
Sexo é governo, amor é inverossimilhança artística,
amor é poesia
esqueça-o, esqueça que o amor existe,
Sabes quem eu sou? Sabeis quem eu sou?
Podes ouvir minha canção? Podeis ouvir?
Meu violão descordoado, desafinado, desentonado
serve de batuque e me dá um ritmo impressionante!
Está a vida na sintaxe? Na morfologia? Fonética?
Está a vida na semântica?
Não, a vida está na vida.
Onde está o meu prazer?
Está na vida, óbvio.
Minha mulher, minha esposa, minha masturbação,
pedras e fezes
              fezes congeladas são armas
                                                armas de fogo são
covardia
tiros de longe, muito longe, donde vêm os tiros?
Meu amigo
meu melhor amigo
está morto
esquivo-me
ou antes acho que me esquivo
eu estou morto
              morto como um fantasma
um corpo penado
minha mulher, minha esposa, minha ilusão,
Todos os sonhos de um homem acabam-se
desaparecem
os sonhos fúteis eólicos
com o sopro de uma pólvora apagando uma vela
Meu sangue é fluido esparso
                       líquido sagrado
saindo das veias em todas as direções
Podes sentir meu sangue? Podeis sentir?
A minha própria sombra pobre pode
Meu melhor amigo são todos os homens
Meu melhor amigo são todos os cadáveres
Monto a minha libélula
Armado com a lança de São Jorge
E torno-me o terceiro cavaleiro
São João
São João
            estoura foguetos estouram
na minha cabeça ao lado
no meu amigo peito
nos homens que estão no chão
na arma apontada para meu olho há-de estourar
o resto da minha vida vivida numa fila
No caminho eu vi
e estava lá para eu ver
ah meus augustos augúrios
uma ave numa árvore trepada do mangue
uma garça branca empoleirada num manguezal verde
Triste homem que se dilui
oh meu sangue líquido esparso
minhas veias não são-te suficientes para conter-te
rasga-me a pele, estoura minha carne, quebra meus ossos,
triturai
   triturai
      triturai
      três vezes meu espírito
ele clama, ele pede, expele-ex-pele-ex-carne-ex-alma
ex tudo, ecce tutti,
meu amor, minha mulher
que nunca me dará um filho, que nunca se dera a mim
Olhai meu corpo. OLHAI!!! Porra,
deixai-me morrer
Podes sentir meu espírito? Podeis sentir?
Sou teu marido= corpo, alma, espírito
Voa, voa, pássaro maldito
nas asas do carcará
nas asas da harpia
Estuprai-me oh vida
Fazei de mim tua prostitua
Tomai meu corpo quando quiseres
beijai-me
Podes amar-me? Podeis amar-me?
Se não só me possui.
Eu sou teu vida
tua mulher, teu orgasmo
teu filho.
A arma ao olho meu
a cada bala atirada para cá abaixo-me
tirai, tirai de minha direção
tenta manter a consciência
entre mim e ti
quem sou quem és?
Meu emprego, numa fila vivo meus últimos,
onde estão todos?
No chão mortos
A arma ao olho meu
Todos têm um significado
E eu não sei o meu.
Sabes o teu? Sabeis?
Eu sou uma pérola
A minha vida é uma ostra
Quem dera fosse diamante
E a prova de balas
ser mais duro que o chumbo
e não chorar mais.
Eu estou descendo do ônibus
andando até a esquina
encontrando um amigo
meu melhor amigo dilui-se pelo ar como fuligem
apertando sua mão
dizendo alô até logo como vai que bom rever
Você___ cai ao meu lado
outros homens caem ao meu lado
banco lotado
o resto da minha vida vivida numa fila
Dobro aquela esquina última da minha vida
perdido
Deixai
Deixai-me aqui na esquina desta curva
esparramado neste momento
                  dêxtaseterno
tirai, tirai de minha direção
      atirai
Estou dissolvido em minha própria existência
quereria suprir minha própria vida
Todavia supero-me
quero viver
pois a vida, escondida nos detalhes,
ainda é deliciosa
             como uma caixa surpresa de chocolates
por mais amarga
            ainda é crocante
A vida me ama com um sadismo doce
ESTUPRAI-ME OH VIDA!
E arromba-me com tua energia libidinosa
tirai-me de tua essência
e aceitai-me como igual
Nós somos iguais
eu tal qual tu
não estou em lugar algum
a não ser em mim mesmo.
Só em mim me encontro
como uma lótus que se curva
como um girassol
                      à procura do relógio
5cm e eu não estaria aqui
             numa fila de banco
intangível às balas e às palavras
invulnerável aos sentimentos e aos desejos
meu amigo, meu amigo
dissolvido em seu próprio sangue esparramado como se fosse seu esperma
vida enche-me
       queu chupo e sorvo teu sêmen.
Entristeço-me  
       rasgo-me
meu emprego - soldado do sistema
numa fila frágil que se dispersa
uma sombra que mentope.
és tu vida?
Mas tua ausência é a essência de minha dor
como um cigarro, como um vício,
um trago de vinho tinto
se transforma transmutado em vinagre.
és tu vida!
Um prazer momentâneo me invade agora
não temo mais a arma ao meu olho,
não temo o precipício às minhas costas,
não temo perder-te oh vida,
pelo contrário, cada fração de tempo que os
ponteiros me dão,
sinto-te tão intensamente perdida em mim
e sei agora,
tu me foste amante o tempo inteiro.
e tivemos um filho
deste-me tudo o queu tinha
nosso filho chamo Prazer,
chamo Felicidade,
pois de ti aproveitei
o máximo docemente.
E agora, quando a bala
penetra meu olho,
atravessa meu crânio,
despedaça meu cérebro,
joga fora meus miolos,            
eu sinto que não é ela
mas tu quem me invade
quem me torna mais amplo
Não, não é suicídio o prazer na morte.
é prova de amor pela vida
amor, amorte
          amo-te vida.
Não, não te direi adeus,
direi: vem comigo perder-se,
direi: vem comigo dissolver-se,
pairemos no ar
como duas aves e nos beijemos
e nesse momento tornar-nos-emos completos
eu contigo, comigo tu,
e flutuaremos pelo espaço como se não houvesse tempo.
           




BOTAFOGO, UM TIME QUASE SEM SOLUÇÕES




Em baixo, de branco, time que iniciou a 1º etapa.

Em cima, listrado, time que inicou a 2º etapa.

A superioridade durante o segundo tempo mostrou que Elkeson não pode ser banco neste time, e que Felipe Menezes e Herrera
não tem condições de serem titulares do mesmo. O lance do gol do Renato foi idêntico a uma jogada na primeira etapa: Loco Abreu
ajeita primorosamente de cabeça para o homem livre: Renato, cheio de técnica e elegância, com simplicidade testa a bola mandando-a para baixo e para as redes; Herrera, trombador, dá um golpe de karatÊ, meio esquisito, e a bola vai fraca e a meia altura, facilitando a defesa do goleiro Avaiano!

A Presença de Léo liberou Renato para reger o time com mais qualidade, ajudando na marcação, mas não com grandes obrigações (esta é a segunda vez que o 8 Glorioso joga de 10 nesta temporada,e todas as vezes em altíssima qualidade). Da mesma forma, o time não foi pego de surpresa em mais um contra-golpe pelas costas do Cortês. 

o 3º gol avaiano só saiu porque o time ficou com menos 1.



com as suspensões de Lucas e Marcelo Mattos eu escalaria o time desta forma, como Alessandro joga praticamente como terceiro zagueiro, isso dá mais liberdade para Cortês apoiar, no entanto, esse apoio deve ser coberto constantemente por um volante fixo, no caso Léo:







Assim, de todas as formas, a melhor opção, hoje, para o Botafogo é dar liberdade total para Renato, colocando mais um volante defensivo ao lado de Marcelo Mattos, cobrindo, desta forma, a subida dos laterais. Essa foi a melhor forma que o time jogou até hoje, o primeiro tempo contra o Corínthians no Pacaembu.


Abraços.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

CORÍNTHIANS 0 X BOTAFOGO 2: PRIMEIRO TEMPO, FUTEBOL DE CAMPEÃO; SEGUNDO TEMPO, DEFESA DE CAMPEÃO

Como os amigos sabem estou "de férias" um pouco do blog em virtude de estar preparando/terminando meu projeto de doutorado, porém ao assistir ao jogo desta quarta-feira entre Corínthians e Botafogo, senti-me impelido ao registro rápido do jogo.
.
Primeiro devo salientar que acredito que o Tite seja um técnico muito corajoso, disfarçando o seu 4-6-0 (desdobrado em 4-2-4-0) num 4-4-2 (4-2-2-2). Com dois volantes, dois pontas-de-lança e dois meias-extremos - ou meia-puntas, como chamam os espanhóis -, o time de Tite tem uma força enorme pelas laterais do campo, mas é dependente que pelo menos um dos meias se transforme em centro-avante para concluir dentro da área a jogada criada por um dos seus outros três companheiros.
.

Campinho Corínthians:
.

.
Dito isto me fascina o fato do técnico ter conseguido que seu time efetuasse tão bem as movimentações propostas nos últimos dois jogos. Até que Caio Jr. tivesse destruído a sua estratégia. O questionamento fica, a mudança foi pontual, para enfrentar o Corínthians, ou será a nova formação tática botafoguense? Só o fim de semana dirá.
.
Qual foi a mudança do Botafogo? Troca do esforçado e brioso argentino Herrera pelo técnico e, às vezes, desleixado Felipe Menezes. E daí, é uma mudança que é feito no decorrer de muitos jogos para ganhar o meio campo? É. Foi esta a grande mudança? Não. A Grande Mudança foi a inversão do triângulo botafoguense. O time ainda era um 4-2-3-1 nominalmente, mas seria mesmo na prática? Ouso ainda dizer que sim, o triângulo era muito assimétrico para que se transformasse num 4-1-4-1 - no caso com o regista Renato e o enganche Felipe Menezes alinhados, o que não ocorreu, o 10 jogava a frente da linha de meio, o 8 atrás -.
.
Mas desta mudança decorrem outras 3 no sistema defensivo botafoguense: 1º Renato foi deslocado da direita para a esquerda. Marcelo Mattos da esquerda para o meio - virando, literalmente, um cabeça-de-área -. Desta forma, Menezes ocupou o lado direito do triângulo assimétrico de base alta. 2º Em decorrência disso, é completamente modificado o sistema de cobertura aos laterais. Antes, Marcelo era obrigado a cobrir as subidas de Cortêz, Renato as de Lucas, Herrera ajudava pouco na composição, e ninguém cobria a entrada da área, porque os laterais do Botafogo muitas vezes subiam juntos, o que obrigava a dupla de volantes a cobrir os dois simultaneamente, limpando a área para batidas de fora dela.
.
Lembrem-se dos erros sucessivos do Botafogo em decorrência disso: Contra o São Paulo: o primeiro gol sai de um chute despretencioso da entrada da área sem que ninguém desse cobertura, Renan falha e o gol; no segundo, falha na cobertura de Cortêz, a falta é feita para parar a jogada, resultando no gol de empate. Contra o Atlético Goianiense: 1º falha novamente na cobertura do lateral esquerdo, gol; o segundo também pela lateral esquerda, Marcelo Mattos falha bisonhamente tentando cortar a bola, e o segundo gol. Contra o Bahia, o primeiro gol sai de uma falta boba numa saída errada entre Renan e Cortêz; já o segundo sai de um pênalti cometido por Mattos quando ele marcava, dentro da área o lateral direito baiano, obrigação de Cortêz que estava fora do lance. Resumo: 3 jogos, 6 gols e 6 pontos jogados fora.
.
Conclusão: TODOS estavam explorando as costas das subidas constantes do selecionável Bruno Cortêz, com a consequente má cobertura de Marcelo Mattos. No jogo deste feriado, o 5 jogou onde ficava mais confortável, na cabeça-de-área, descendo e virando um 5º zagueiro, protegendo as batidas de fora, desta forma evitou pelo menos três chutes perigosos. Renato protegeu Cortêz, e como sempre, de forma magnânima. Pela direita com Elkeson marcando bem - diferentemente de Herrera, mas marcando quase tantas faltas quanto - e Menezes protegeriam Alessandro que subiu efetivamente uma única vez, mas, quando o fez, teve o ponta-de-lança ficando na sua cobertura.
.
Um sistema de cobertura e compensações perfeita, sem abdicar das suas crenças - dos técnicos brasileiros Caio Jr. é um dos que mais elogiam abertamente o 4-2-3-1, embora não seja o único a tê-lo como sistema favorito, Dorival Jr. e Celso Roth (em estilos completamente opostos de proposta de jogo, o primeiro é ofensivo e o segundo defensivo) viram e mexem, flertam com sistemas mais comuns nos clubes em que são contratados até que ganhem a confiança dos jogadores e implantem os seus sistemas diletos -, o "Professor Pardal" inverte tudo, gira o seu triângulo mediano, sem na verdade ter modificado "nada".
.
Campinho do Botafogo:
.
.
Desta forma devo salientar alguns aspectos do jogo.
.
1º O melhor jogador ontem foi Caio Jr., ele ganhou o jogo. Suas iniciativas de véspera de partida foram decisivas, muito mais do que aquela na última hora antes do jogo na troca do 17 pelo 10. Quais iniciativas? Primeira: chamar um por um dos titulares e conversar em particular com eles, cada um expôs o que pensava etc. Isto deve ter ganho de vez os jogadores, o espírito era outro em campo - espírito este influenciável também pela grande liderança de Abreu que sempre faz falta, durante o segundo tempo ele chamava a atenção dos seus colegas para que não desanimassem e não permitissem um "novo São Paulo" -. 
.
Segunda iniciativa: treino tático às véspera do jogo. Sou extremamente a favor disso. Rachão? Isso é torneio profissional, oras! Rachão só quando não tem jogo 2 vezes por semana e NUNCA na véspera, é treino tático mesmo! Isso foi importantíssimo. Pelo menos duas jogadas ensaiadas ficaram nítidas e resultaram em gols - mesmo um sendo anulado POR TOTAL DESCONHECIMENTO DAS REGRAS DO FUTEBOL por parte do assistente 2 -: o primeiro colocando DELIBERADAMENTE Loco Abreu e Antônio Carlos (os melhores cabeceadores do time) em IMPEDIMENTO PASSIVO, a bola é lançada no 2º pau para 2 homens que vêm de trás - no caso Elkeson e Marcelo Mattos - que receberiam e tocariam para os dois homens livres na área que, COMO SE CARACTERIZARIA UMA NOVA JOGADA, estariam aptos a participar.
.
O segundo lance ensaiado foi a cobrança de lateral que resultou no 2º gol válido do time. O comentarista da Rede Globo, Júnior (grandioso lateral), percebeu que fora jogada ensaiada ao ver o replay e notar a movimentação sem bola de Felipe Menezes e Maicosuel. Notei um pouco antes quando a jogada foi repetida, agora tendo Elkeson de pivô.
.
2º Felipe Menezes teve boa atuação, mas o que fez de melhor foi quando não tentou fazer nada de melhor. Sem velocidade e sem habilidade não dá para sair carregando a bola, o que ele deveria fazer como um 10? Tocar de primeira e de segunda (mata-e-passa). Quando executou isso foi muito bem, quando tentou sair driblando concedeu contra-ataques. Observe-se o 1º gol válido do time: Felipe recebe e passa para Elkeson antes da chegada do marcador. O 9 pega em velocidade e toca para trás em direção ao 10 que vinha TROTANDO, este, de primeira, devolve para Elkeson, que livre, cruza para Loco Abreu marcar de cabeça - mesmo tendo a bola desviado num zagueiro, acho improvável que um jogador de bom chute e bom passe, sem marcação, não conseguisse botar a bola na cabeça de Abreu, que bom cabeceador que é, dificilmente perderia este gol, o desvio só facilitou a vida do uruguaio, lance completamente diferente do gol do Mago, cuja batida na defesa tirou completamente o goleiro da jogada -. Isto é, Felipe acelerou o jogo sem ter que correr com a bola, ao tocar de primeira ele destrói o sistema de marcação o que lhe permite receber livre a bola, mesmo trotando em campo, ao receber de volta a bola, chamando a marcação para si, e devolvendo-a imediatamente, novamente faz desmoronar todo o sistema defensivo corinthiano.
.
3º Loco Abreu recomeçou a voltar para fazer o pivô no meio campo, algo que ele fazia muito no auge do time, muitas vezes jogando atrás da linha de 3 meias. Mas o seu momento mais importante foi quando virou zagueiro também: com um a menos e com Adriano em campo, Loco ficou de vez na área - e já tivera sido deveras importante cortando diversas bolas dos quase trinta escanteios do Corínthians -, marcando o 10 adversário que já acertara uma bola sozinho na área. Neste momento do jogo, o Botafogo que começara nominalmente com 2 zagueiros, mais o Alessandro que nunca subia - o que o tornava na prática um 3º zagueiro -, com Gustavo (zagueiro) entrando na lateral esquerda, depois da expulsão boba do Cortês, Com Marcelo Mattos sempre descendo para dentro da área, e com Loco Abreu marcando pessoalmente a Adriano, o Botafogo terminou o jogo com, literalmente, 6 zagueiros, 2 volantes (Renato e Bruno Tiago que entrara no lugar de Maicosuel) e Herrera aberto na direita para puxar os contra-ataques que não existiram, na prática, um 6-3-0!
.
.
Fica um questionamento simples, então: Ora, com um triângulo de base alta, quem faria o centro do campo?  A resposta é simples, MUITA GENTE. Numa situação normal do jogo, o centro pertence ao Felipe Menezes, que deveria abrir para direita sempre que o seu lateral passasse para que pudesse cobri-lo. Mas na verdade muita gente fez a "posição 10": Loco Abreu, voltando para fazer o pivô; além de Maicosuel e Elkeson revezando-se como sempre fizeram.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

DE CAÇAR BICHOS E HOMENS


Como ando muito ocupado na preparação de meu projeto de doutorado, há semanas não posto nada nEste Canto. Ora, então vai lá um "conto de tese", isto é, um texto produzido concomitantemente com minha dissertação de mestrado, ele é produzido a partir da análise do livro que eu trabalhei, O tronco, de Bernardo Élis; assim, este conto enfoca aspectos não só analíticos, mas de certa forma simula o estilo do escritor amalgamado com o meu, além de retomar aspectos por mim elencados analiticamente dentro do romance, como o "cativeiro jagunço", isto é, o jagunço como um escravo do coronel em pleno século XX, e a necessidade/vontade do vaqueiro de se libertar desta "prisão" (o "sistema jagunço", no termo de Walnice Nogueira Galvão) em que ora se encontra. Espero que gostem:
. 
            O nheco-nheco da rede ecoava o silêncio da madrugada junto do pio frio de bicho agourento da coruja, de certo procurando morcego na noite, e o cabra ali, balançando o corpo, as ideia, cabra num é pra remexer ideia, cabra é pra remexer chão, o cigarrim de palha ali brilhando, acedendo e apagando que nem caga-fogo, cabra é pra o de-cumprir, nem é de pensar não-nada, a rede lá, balançando o corpo do cabra, cabra é de viver o tão-somente, oxe, e o de amanhã, né na lide do gado, oxe, mas ora!
.
            Era nada! O de amanhã era roça de outro tipo, de bala e estripulia, vê se ele era do cangaço, era nada, esse menino!, ser mais um da jagunçama?, vê se pode!, Tigre ali roía um toco de osso só pra se fazer que está acordado ouvindo, mas o que prestava atenção era na coruja, que gosto tem coruja?, osso de coruja é ruim de roer feito o de galinha?, oh ossim chato esse de galinha, o cabra morde e ele se desmancha, parece nem osso, oxe!
.
            Os capanga do coroné veio onte de manhanzizinha cedo, pra dar o refle, clavinote é pra matar passarim e calango, home esse bichim, matar homem é cum repetição, e home, qué queu vou fazer com repetição, não sou de matá home não, seu moço?, Vixe, espia só, que o cabra é frouxo! Não é pra matá ninguém, não. O amo vai lá pras banda do Santo Antônio, a mó de conversar mais o coronel de lá, a gente só vai é de garantia de conversa, mermo.
.
            Num vê que essa história é má-contada! Tigre alevantado, as oreia em pé, era nada, a maldita coruja calara-se, de vero pegara um morcego em pleno voo, Tigre num sabe é de nada! Ele fica aí bestando com esses negoço dele e que fica e que fica, problema, Tigre, é que de amanhã quem conversa é refle e repetição, home fica calado, fazendo mira, nessas hora, home é menos que bala!
.
            Meu chamego não é arma não, que nem sou de pular ligeiro, nem sei fazer reza braba, nem tenho mais mãe que pida por mim pra que feche meu corpo, meu chamego é moda de viola, e morena de cabelo prefumado.
.
                                   Ai morena, dos cabelo
                                   Preto, liso e prefumado,
                                   Vai lavá roupa no rio,
                                   Pra eu ser teu namorado!
.
            A voz de moreno assanhado buliu os pelo de Tigre, arrupiou ele tudo, meio que veio pra fazer o bichim dormi que tava meio acabrunhado.
.
            Vento veio e foi, mas a ideia num é que ficou! Lá pras banda de lá, meio que caindo pro oeste do São Francisco teve lá aquela briga feia pras bandas do Duro, os grandão se comendo tudo na bala, aí os pequeno feito ele tudo fugido de mansim mansim no mei da noite, largando tudo de troço e trem pra trás, oxe, e nera isso! Ia de arribada, descia com tudo, quem que ligava?, fossem procurar ele no rancho de manhã de menhanzinha e nada dele só o só sumiço e pronto e feito, tava liberto, que vida de cativo é de dever de um tudo a patrão, é destino de nascença ninguém que de desfaz, mas de negócio de morrer de bala sendo achamegado à moda de viola é que é pior que tudo! Num faz isso não, menino, tu vai é morrer de tiro, que até pra derrubar calango tu erra fogo!
.
                                   Ai morena bem cheirosa,
                                   Dos trejeito arredondado,
                                   Vai buscá água no rio,
                                    Pra banhá teu namorado!
.
            O cabra pôs os trens pouco que possuía num amontoado na rede, assobiou pro Tigre, amontou no lombo da mula, nem tinha mulé nem nada que o segurasse, e se tivesse, arrumava jeito de fugir mais ela e os menino, e foi-se embora pra banda de lá, e né que procuraram e procuraram o cabra e nunca mais que acharam ele. Diz-que o coronel pegou ele de fugida e deu um jeito no moleque fujão, mas que nada!, se fosse de assim o teria mostrado a todo mundo e matava ele era de uma pisa de chicote pra fazer de lição pros home dele que pissuía, mas é nada!, ele tá por aí de pescar e de caçar, com a repetição novinha e as bala que o coronel deu pra ele abater homem! Deixar de caçar bicho, pra caçar homem? E isso nem não é negócio de gente, nada!
.
            Deve é de tar com uma morena faceira, cantando com aquela voz de moreno asservegonhado, com ela nos colo dele adeitada pensando em fazer mais menino.
.
                                   Ai morena que é o apreço
                                   Deste coração aperreado,
                                   Deixa chover hoje no mundo
                                   E me faz de namorado.