Este é meu corpo que boia no rio.
Da vergonha que teve o meu marido
E de tudo o que em nossa cama viu.
E o olho foi do meu filho tão ferido
De ver sua mãe por vinte, por trinta
Homens tanto pecada por bandido.
E para não dizer que eu venha e minta:
Minha filha só sete anos se tinha
– É de tudo o que eu mais dentro em mim sinta –
Ela ali deflorada na cozinha,
E eu cheia-enchida desta areia-rio
→ Serviço final ← tal se enche galinha.
Este é meu corpo que boia já frio
Da dor de ser mulher num mundo vil.
(Este é um sonetomitante, isto é, escrito concomitantemente como comentário para minha dissertação de mestrado (Descaminhos gerais: a representação do jagunço em Bernado Élis, 2011) analisando o romance O Tronco (1956), de Bernardo Élis.)