segunda-feira, 23 de abril de 2012

GENERAIS E TÉCNICOS: CENTRO FRACO, FLANCO RÁPIDO, OS ALEXANDRES DO FUTEBOL

Encontrava-se Alexandre Magno, da Macedônia, com seu ínfimo exército diante de Dario, senhor da Pérsia, este ladeado por incontáveis batalhões. Alexandre que nunca perderia uma única batalha. O resultado era óbvio: Alexandre não poderia, a exemplo de Leônidas, usar o terreno para afunilar os orientais, anulando, deste modo, a sua superioridade numérica. Todavia, acredito eu que estratégia foi inventada para que o mais fraco vença!
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O que Alexandre faz? Uma loucura tática. Diminui as sua falanges e as estende pelo campo aberto. Visualmente o exército helênico pareceria maior, mais vasto. Era um apelo psicológico, mas de nenhuma outra grande utilidade prática, como todos os seus generais sabiam que não funcionaria - se o plano de Alexandre fosse botar Dario pra correr por ver um exército grande, não daria certo -.
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Enfraquecendo o seu centro, Alexandre deslocou a cavalaria para o flanco oposto donde normalmente a prática bélica mandava. O início do combate foi um massacre. As forças de Dario empurravam os poucos homens gregos e macedônios para trás. Quanto mais batiam, mais os persas, encontrando facilidade, centralizavam. Naturalmente a linha helênica tomava a forma de um V. O movimento acentuou-se tanto que, em determinado momento, os homens de Alexandre já flanqueavam os homens de Dario.
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Era o que Alexandre desejava. Numa única ordem, a cavalaria grega, já em posição privilegiada, desistiu do combate direto à cavalaria persa e acelerou sobre as costas do grosso do exército, que já se via completamente flanqueado pelo inimigo, e agora, com a carga macedônica nas costas: não tinham mais o que fazer. A derrota foi tão acachapante que Dario foi obrigado a fugir, deixando a Babilônia aberta para Alexandre, na maior vitória da História ocidental.
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Onde entra isso no futebol? Ora, é uma tática extremamente comum, sobretudo nos fins dos anos 80 até início dos anos 90, no reino do 3-5-2 (3-4-1-2). E isso vem de muito tempo atrás, também. No catenaccio interista de Heleno Herrera a tática era idêntica. A partir da base do WM (3-2-2-3) o time italiano bicampeão da Copa dos Campeões recuava um de seus volantes para a linha de zaga, trabalhando de sobra, formando, assim, um protótipo de 4-3-3 (4-1-2-3).
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Ora, o que Heleno pretendia? Enfraquecendo o seu centro - um volante contra dois meias -, forçava os adversários a trabalhar por aquela zona. Com a bola roubada, o jogo era aberto aos velocistas das pontas, que destruíam os adversário em contra-ataques velocíssimos.
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Não se pode, porém, confundir essa estratégia com aquela usada por Joel Santana durante alguns anos entre o título da Mercosul com o Vasco e a sua saída do Botafogo em 2011. Isto é, enfraquecer o seu centro e sair a partir de chutões pra frente. O chamado muricybol. A ideia é o oposto: 1º ceder o centro, fazer com que o adversário fique estreito, tentando entrar pelo meio, trabalhar a bola por lá. Não é só entregar o protagonismo, pelo contrário, é forçar o adversário a um determinado movimento que lhe interessa. 2º Acelerar os movimentos lateralizados, pegando o adversário "pelas costas". Este movimento só é possível porque o outro time flanqueia-se a si mesmo.
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P.S.: Este texto estava pronto desde quinta-feira. No sábado tivemos o El Clásico (Barcelona x Real Madrid). Notem que a tática de José Mourinho foi justamente esta. Antes do primeiro gol o time estava bem quebrado - o que é bem anti-Mourinho, que sempre gostou de times compactos -, o quarteto ofensivo dava pressão alta sobre os defensores, mas os outros 6 jogadores ficavam sentados em frente à zaga. O resultado é que o Barcelona teve todo o meio-campo (foram 72% de posse ao fim do jogo). Mourinho deixava os velocistas livres pelos lados, eram 4 contra os 3 zagueiros - já que, no WM blaugrana Sérgio Busquets fazia o movimento de ser volante com a bola e zagueiro sem a mesma -. Os gols do Real saíram todos de jogadas deste tipo, tanto o primeiro advindo de um escanteio, conseguido numa aceleração lateral, e, sobretudo o 2º tento, com Özil aberto na direita recebeu o passe do contra-ataque e abriu para Ronaldo que cruzava o campo, em velocidade, da esquerda para a direita, matando o jogo.
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Próxima segunda-feita cometerei um ato capital: Como Hitler entra no futebol - e não, não é nos discursos racistas que vêm encontrando vozes no Velho Continente -.

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