Quando O Rei subiu ao trono
Todos estavam ao seu lado
com seus sorrisos largos, suas tapas nas costas,
seus abraços longos.
O Rei queria estar ali?
Talvez, ou num sonho.
Ao subir ao trono, o rei, eram todos sorrisos.
O tempo não corre igual areia de ampulheta,
caindo, mas se esvaindo feito o vento,
e o rei, do alto, não via ratos
que esgueiravam feito gente.
Quando os seus olhos finalmente se abriram,
viu que em quem depositava tanta confiança, procurava derrubá-lo,
seus ouvidos começaram a ouvir conselhos e venenos,
foi aí que percebeu: O Rei está só!
O Rei está só.
Seus conselheiros, traíras, seus amigos, inconfiáveis,
todos olhavam-no pelas costas,
e o rei começou a sentir isso:
as palavras da boca feito pregos.
O rei está só.
O seu trono não é mais o símbolo de seu status,
e donde recebia fiéis - nunca fora.
É a imagem máxima de sua solidão,
abandonado por todos, vítima do próprio poder.
O rei está só.
E os dias passavam e o rei
cada vez mais mofino,
cada vez mais ranzinza,
cada vez mais quedo na realidade,
apercebido da própria alienação,
joga-se no profundo escuro da sua solidão.
o rei estava só.
E não importa o que acontecesse,
cada vez mais o castelo se inflava,
cheio de ratos, cheio de intrigas.
E novo ainda parecia um velho,
gritava, tentando impor ordem,
e os ratos só se escondiam.
O rei via o rei, falava com o rei,
escrevia para o rei, e aquela
fotografia no espelho era dum sarcófago.
o rei está só.
Na maior de todas as solidões,
enterrado com seus tesouros, jóias,
e tudo aquilo que lhe lembrava seu poder,
o cadáver do rei foi acometido de um súbito choro:
os fantasmas que estavam ali,
nem sequer dialogavam com ele.
ele estava só.
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