quinta-feira, 3 de março de 2011

(IN)DEFINIÇÕES: TÁTICAS, TÉCNICAS, SUOR E SORTE

O que define um jogo de futebol? É a tática, é a técnica, é a raça? É tudo isso junto? É a sorte? Para os times comandados por Joel Natalino Santana – ou pelo menos este Botafogo – é a sorte quem define os resultados.

.

Joel é um homem inteligente. Usa de um sofisma brilhante para sua auto-promoção: Quando questionado sobre o seu rendimento no clube, cita de pronto o fato de ter sido o treinador da equipe que menos perdeu. E ninguém o contradiz, mostrando que o BFR foi uma das equipes que menos venceu, na verdade, empatou metade dos jogos de uma liga inteira. E como eu sempre reafirmo: 7 VITÓRIAS VALEM MAIS DO QUE 20 EMPATES. Se Joel se preocupasse menos em perder e mais em ganhar não seria tão questionado. Poderia ter perdido 12 das partidas que empatou e ganho as outras 7 disputas, e ainda assim terminaria o campeonato com 9 pontos a mais, dentro da Libertadores e lutando pelo título até a última rodada.

.

Mas Joel é inteligentíssimo, ninguém o questiona no seu sofisma. A não ser a torcida – ou parte da –. Pelo menos desde que perdeu a sua tão gloriosa invencibilidade em casa – mesmo que esta invencibilidade mascarasse as pouquíssimas vitórias em seu próprio domínio – para os reservas e juniores do Internacional jogando de forma covarde. Daí sua covardia tornou-se insuportável. E quando, jogando no mando do Grêmio, precisando vencer para ir a Libertadores, Joel escala 3 zagueiros, 3 volantes e leva de 3 gols, sua situação no clube ficou periclitante.

.

Armando mal, para numa mexida – as mesmas de sempre – parecer que venceu o jogo na sua capacidade de lê-lo e modificá-lo; Fazendo mistérios – e anunciando-os – para sempre escalar os mesmos do mesmo jeito; Prometer mudar a equipe, mas entregá-la mesma e igual. Joel precisa perder para aprender. Mas perdeu em casa para reservas e juniores e não mudou. Perdeu – e feio – a vaga nas Libertadores e não mudou.

.

Joel é sempre o mesmo e não muda.

.

A sua desculpa é sempre o resultado etc. Resultado é fútil, o que importa é sempre o desempenho – este traz sempre a reboque o resultado –: jogando-se bem ganha-se os jogos, pode até perder – a perda é um momento normal da natureza –, mas se perde como campeão. Jogando mal e vencendo um dia se perde, e quando se perde...

.

Digamos a verdade: quem sente falta da seleção de Dunga, ou de Lazzaroni? Alguém ficou realmente sentido pela perda, achando-a um absurdo, um sacrilégio? O argumento contrário é a seleção de Telê Santana. Ora, no mundo todo se celebra esta equipe, sua escalação é sabida de cor por muita gente, quantas pessoas lembram-se de todos os jogadores da Itália-82? A Hungria de 54 é celebradíssima, alguém sabe para quem perdeu? Ah, tá!, está nos anais da Copa do mundo, um detalhe poucas vezes lembrado – e quando é, sempre com as maiores teorias de conspiração da história do futebol, ficando a frente até da copa da Argentina-78 (até onde eu saiba, a copa-98 só é questionada no Brasil) –. E a Holanda-74? Esta só caiu para uma equipe tão boa quanto, com monstros sagrados das 4 linhas nos dois lados do campo.

.

Não à toa o time de 2007 ainda é lembrado – com admiração por alguns torcedores de melhor memória, e com chacotas pelos adversários pelos “chororôs” –, time que perdeu mais para si mesmo – rachas internos, falta de dinheiro, individualismo e estrelismo acima do coletivo – do que por qualquer outro motivo tático-técnico.

.

Se o time atual, aparentemente, não apresenta os mesmos rachas e estrelismos, o mesmo não se pode dizer do trabalho tático-técnico, se comparado ao “Carrossel Alvinegro”. Joel cobra atitude, ataque, mas isso é impossível no seu esquema. No Brasil, o 3-5-2 é jogado com 3 zagueiros e 2 laterais soltos, que ao defender voltam para a linha de defesa, na prática é um 5-3-2. Tirando todas as falhas táticas que o 3-5-2 apresenta – que não irei citá-las neste momento –, a melhor forma de se apresentar este esquema é com wingers de verdade (cuja tradução literal seria ala, posição tática que no Brasil significa lateral solto, não um meia-extremo que fecha o meio de campo pelos lados e ataca como um ponta), não como fazemos aqui. Assim, ao invés de um 3-4-1-2, teríamos um 3-2-3-2 – praticamente o esquema tático da Hungria-54, um MM –. É difícil mandar um time ter atitude vencedora e atacar se 7 de seus homens encontram-se na linha defensiva, com um ponta-de-lança que terá que conduzir uma bola por mais de 30-40 metros e dois atacantes isolados na frente. O 3-5-2 nasceu reativo – como predador natural do 4-3-1-2 e o 4-2-2-2, e também acaba funcionando bem contra o 4-4-2 em duas linhas pela flutuação do enganche entre as estas – e está moribundo como esquema reativo: o seu estilo de jogo é o contra-ataque. Por isso, o botafoguense acostumou-se a levar pressão de Flamengo, Fluminense, Vasco, River Plate-SE, e todos os mini-clubes cariocas. É a sua natureza, mandar ir pra frente quando o time é posto atrás é, no mínimo, incoerente.

.

Assim, precisando vencer, e bem, Joel troca um zagueiro por um meia. Por incrível que pareça, para Joel, o 4-2-2-2 é um esquema ofensivo, ou até mesmo muito ofensivo, quando na verdade, como se diz no popular, “nem fede, nem cheira” – por algum motivo ou campanha difamatória, acredita-se que o 4-3-3 é muito ofensivo, o que, de alguma forma, parece significar pouco defensivo, ou inconsequente, como se atacar e fazer gols não fosse o motivo de existir do futebol, e ainda que se perde o domínio do meio campo; só que esqueceram de avisar este detalhes técnicos para o Barcelona, uma das melhores defesas do mundo, ao Porto, ou ao Santos de Dorival Jr.! –.

.

O que parece óbvio é que com 4 atrás se tem a opção da basculação, fazendo a subida dos laterais de forma alternada, ou usando o “método holandês”, como faz o Barça, por exemplo, um lateral que nunca ataca – Abdal – e um que fica mais livre para subir – Daniel Alves –. Ou pode fazer no “jeitinho brasileiro”, isto é, prender um volante na frente da linha de zaga e liberar os dois laterais ao mesmo tempo. Ao invés de 3 zagueiros, 2 zagueiros mais pelo menos uma auxiliar – ou lateral-base ou volante –. No BFR com 2 zagueiros, esta foi a função de Rodrigo Mancha (5), fazer a base para a subida dos laterais.

.

Estes últimos foram os opostos, como o “Presidente” Alessandro (14) “bancado”, Lucas foi um dos melhores em campo – coroado pelo penal final da classificação – vestindo a 2, já Márcio Azevedo (6) precisou sair para ser preservado das vaias. Bruno Tiago (7) muito bem, assim como Éverton (8), embora este tenha oscilado um pouco no início do jogo e saído de campo machucado, dando lugar a Alex (11) que não foi bem – embora o gol que tenha “perdido” foi total mérito da defesa do goleiro do River Plate-SE –. Herrera (17) muita raça e péssimo tecnicamente, jogou fora duas possíveis assistências primorosas, uma de Lucas que ele conseguiu encobrir a trave estando sozinho e sem goleiro, outra num passe dos lampejos de 10 top mundial de Renato Cajá (10), em que sozinho, de frente ao goleiro fez o mais difícil de forma mais errada possível. Caio (9) oscilou bastante também. Já a defesa esteve praticamente impecável – talvez pela pouca ofensividade dos nordestinos –, Jéfferson ainda fez pelo menos uma defesa difícil – de praxe, afinal, o emprego de Joel é garantido pelas mãos do nosso 1 –, “botou pilha” nos cobradores de pênalti sergipanos, e acertando dois cantos – melhor dizendo, lendo perfeitamente a posição de chute dos atacantes –, os obrigou a chutar para fora; Antônio Carlos (3) foi bem atrás e atrapalhou o goleiro no gol contra, convertendo o seu pênalti – o que faz questionar, por que ele não bateu contra o rubro-negro, e sim o Somália? –; Márcio Rosário (4) deu menos sustos que o normal – ou quase nenhum – e novamente acertou o seu penal – embora eu ache que ele não pegou na bola como queria –.

.

A vitória veio, num gol contra, chorado e tosco. Quebrou-se uma “maldição” de pênaltis, os jogadores vieram abraçar um Joel Santana emocionado. A pergunta fica: A classificação mascarará o fato do BFR NÃO TER FEITO 1 GOL SEQUER NO RIVER PLATE-SE? Que jogou de igual para igual, em 180 minutos, com um time de 4º divisão – como joga de igual para igual contra todos os times do Rio, seja nos clássicos ou nos jogos contra os mini –?

.

Isso sem contar os erros dantescos – mais deles – cometidos por Joel: 1. Loco Abreu era o capitão com a lesão de Marcelo Mattos – embora a torcida preferisse o 13 ao 8 –, depois de Abreu, o capitão sempre foi o Jéfferson – na pré-temporada, os dois “disputavam” a braçadeira –, mas no jogo de ida no NE, sem maiores explicações, Herrera apareceu como capitão, embora saibamos da raça argentina do argentino, que característica de liderança ele apresenta além de destempero e passar o jogo todo discutindo com o árbitro? Neste jogo de volta no Rio, sem el Loco em campo, e sem explicações, Herrera não é mais o capitão, e sim Jéfferson! Essa troca constante de capitães demonstraria alguma coisa interna, ou somente que Joel não tem critério algum? 2. Depois de um passe açucarado e maravilhoso de Cajá para Herrera, e este perder mais um gol feito, Joel troca o 10 por Fabrício (19), sem que ninguém entendesse, ganhando vaias e o epíteto de Burro. O 19 tocou na bola? Duas vezes, uma para errar um passe e outra para botar a bola para a lateral. 3. O time foi posto para frente com gente, não com estratégia, o time está tão joelificado que continuou esperando o adversário atrás para contra-atacar, isto é, esperou um time que não precisava ir pra cima, tentou contra-atacar um time que não QUERIA ATACAR. Como confirmação do que afirmei no 10º parágrafo, o catenaccio interista da década de 60 (bi-campeão da Liga dos Campeões) era na base do 4-3-3, mas totalmente retrancado, reativo e jogando na base do chutão e do contra-ataque: ter 3 atacantes não torna o time mais ofensivo, o que faz isso é a estratégia do treinador – que muitas vezes parece inexistir em alguns momentos, ou jogos, do BFR –. 4. Houve uma indefinição de posicionamentos. Inicialmente eu não consegui definir se o time jogava no 4-2-2-2 ou no 4-2-3-1, por causa da movimentação de Caio, que muitas vezes aparecia muito atrás da linha da bola, pela direita, algumas vezes até invertendo de posição com o lateral direito Lucas – uma ótima estratégia, praticamente inventada no Botafogo pela dupla Zagallo-Nilton Santos –, mas seus melhores momentos foi no pé da grande área à direita, como um ponta clássico, driblando e passando e chutando num espaço de 5 metros. Mas esta indefinição de Caio não é problema, pois seu posicionamento mais adiantado ou mais recuado depende muito também da reação do lateral direito adversário: se este sobe, Caio defende, se ele fica tímido, Caio não precisa voltar. O maior problema foi quando Caio aparecia na esquerda, o que seria ótimo se houvesse uma inversão de lado com o Éverton ou com o Herrera, o que não aconteceu, entulhando o campo de gente na esquerda – já que Cajá, por natureza, cai sempre para este lado –. Herrera foi outro problema, às vezes isolados lá na frente pelo recuo de Caio, o 17 não tem técnica suficiente para fazer o falso-9 – como Messi, Van Persie, além de Rooney, Tévez, Cristiano Ronaldo e Ronaldo Assis quando os seus times necessitam desta mudança tática –, nem é pivô para aproximar dos meias e fazer troca rápida de passe para ultrapassagens – como Loco Abreu, Liédson, Ronaldo Nazário na sua volta em 09 –. Herrera é segundo atacante, condutor de bola que vem de trás, e atualmente numa péssima fase técnica. Para jogar com dois atacantes de movimentação, talvez a melhor opção fosse o 4-3-1-2, para que o ponta-de-lança chegue de trás e preencha o espaço vazio no centro do ataque e sirva os dois companheiros com passes cruzados na área, assim Cajá jogaria de enganche com Éverton sendo o carrillero pela esquerda. Perdido na frente, com pelo menos dois gols perdidos, Herrera talvez tenha sido um dos piores jogadores titulares do time – o pior com certeza foi o Márcio Azevedo –.

.

No mais o mais do mesmo. A estrela brilhou, o time ganhou vergonhosamente ao estilo Joel. Joel que tem medo de atacar e fazer 2, 3 gols e levar 1, mas que fica sem saber o que fazer quando o time entra com 2 volantes e 3 zagueiros e leva gol – como na semifinal da Taça Guanabara – e aí enfia meias e atacantes sem estratégia alguma, pior, fica totalmente perdido quando entra com 3 volantes, 3 zagueiros e leva 3 gols. E então, Joel Natalino Santana, o que se faz?

.

NO FUTEBOL, GANHA QUEM FAZ MAIS GOLS, QUEM NÃO LEVA SÓ EMPATA.

.

NO FUTEBOL, 7 VITÓRIAS VALEM MAIS DO QUE 20 EMPATES.

2 comentários:

  1. Prancheta

    Comentando poust: http://globoesporte.globo.com/platb/tabuleiro/2011/05/18/a-origem-do-4-2-3-1/ por Eduardo Cecconi


    E agora, com a consolidação deste 4-2-3-1, sendo ele a principal referência tática, uma pergunta que acredito pertinente é: qual o próximo passo? O que será ‘inventado’ a seguir? Um utópico 4-6-0, envolvendo quatro jogadores de meio-campo em constante movimentação e rotação de posições, alternando quem chega à frente e quem arma conforme a circunstância da jogada, desorganizando a marcação e adotando diversas caras a cada movimento? Ou algo mais?




    esquema 4 6 0 não vinga porque a presença de pelo menos um "homem de área" faz com que os zagueiros seja 2,3, ou 4 como queiram fiquem mais atentos a esse jogador, e isso é instintivo, se eu viesse a enfrentar uma equipe posicionada no 460 simplesmente jogaria ofensivo com três zagueiros sendo o central um "libero" inclusive jogando atrás dos outros dois zagueiros, numa função semelhante a que o mauro Galvão faria na seleção da copa 90, recapitulando 3 zagueiros, um mais atrás , 2 volantes direita e esquerda, dois meias centrais típicos “armadores” um ponta direita e um ponta esquerda e um centro avante bem no estilo do meteórico L Damião.
    Com os jogadores posicionados dessa forma nos remetemos ao clássico W M da década de trinta. Como eu vejo esse esquema atualmente?
    Entendo que pela evolução tática que vai ocorrer os laterais perderão sua função, pois o lateral é originalmente um jogador ambíguo que faz transição entre ataque e defesa, mas tendo que ser regular em ambas funções, quando defende (sem bola) fecha a linda de defesa seja de três quatro ou cinco jogadores, e quando ataca (com a posse da bola obviamente) tem de ocupar os “espaços livres” e ter eficiência e boa técnica em jogadas pela linda de fundo (cruzamentos precisos). Já no esquema que apresento minha proposta é simples: sem a posse da bola minha equipe se posiciona defendendo com sete jogadores em duas linhas no meio que chamo de (ZM) zona morta porque posiciono meus dois volantes e dois meias armadores no miolo congestionando o meio campo, as laterais tornam se zonas “vulneráveis”.
    De posse da bola minha equipe se posiciona com cinco jogadores ofensivos, contando com a chegada de um dos volantes abrindo espaço pelo miolo (meio de campo), a “vulnerabilidade” da minha defesa pelas alas, nas entrelinhas constitui uma armadilha pois os meus pontas “teoricamente” prendem os alas ou laterais adversários. E quando o meio de campo esta congestionado os únicos jogadores adversários que tem “liberdade” para criar jogadas são os zagueiros e volantes. No meu ponto de vista o diferencial positivo de se “reciclar” esse esquema WM é que propõe uma definição tática clara os cinco W defendem e os cinco M atacam, sendo que os únicos jogadores com dubla função seriam os dois meias armadores jogam num quadrado de aproximadamente 30 metros auxiliando a marcação sem a bola, (primeiro combate) e de posse da bola tem a incumbência de “fazer jogar” o trio de ataque. OBS: nesse esquema se torna fundamental as chegadas surpresa dos volantes, pois o centro avante centralizado alem de abrir espaços também faz o papel de pivô..

    ResponderExcluir
  2. Leandro, tou escrevendo uma continuação ao texto que escrevi sobre o post de Cecconi, agora me aprofundando no 460!

    ResponderExcluir